sexta-feira, 3 de julho de 2020

AS REINAÇÕES DE GOLBERYZINHO

Chefão do SNI encheu a bola do sindicalista de resultados...
Na segunda metade dos anos 70, embora fosse alvo de estigmatização por parte de muitos esquerdistas que não me conheciam pessoalmente e botavam fé em tudo que liam ou ouviam dizer, eu continuava tendo amigos bem situados na esquerda, que me colocavam a par de quase tudo de importante que rolava nos bastidores.

Então, sempre soube que o cérebro do Governo Geisel e grande arquiteto da sua abertura política, Golbery do Couto e Silva, favoreceu discretamente a afirmação de Lula e do PT, para contrapô-los àquele que os militares consideravam seu pior inimigo dentro da esquerda: Leonel Brizola.

Golbery já tinha em mente a futura permissão da volta dos exilados, então tratou de preparar o terreno para que Brizola, desembarcando com aura de herói (por ter frustrado a tentativa golpista de 1961)  e perseguido político, não assumisse de imediato a liderança da esquerda.

Raciocínio semelhante foi o de Golbery com relação à mídia. Como os jornais do Grupo Estado eram os mais ferrenhos opositores da censura e da ditadura na grande imprensa, ele resolveu encher a bola da Folha de S. Paulo, para que, quando Geisel pusesse fim à censura, houvesse outro grande jornal impedindo o Estadão de surfar sozinho na onda da liberação.
...e esvaziou a do herói da rede da legalidade

Então, encontrando o Otávio Frias (pai) casualmente num aeroporto, Golbery aproveitou para aconselhá-lo a mudar a linha editorial da Folha, guinando à esquerda, para se colocar também em condições de capitalizar o levantamento da censura. 

Frias seguiu o conselho, contratando o respeitado trotskista Cláudio Abramo para dirigir a redação e lhe dando carta branca para recheá-la de grandes jornalistas de esquerda. A primavera da Folha, quem diria, foi obra do Golbery...

Naquele tempo ficava sabendo dessas movimentações mas não tinha como prová-las nem prestígio para que fossem aceitas pelos leitores apenas por seu eu quem as estava relatando, sem apresentar provas.

Acabo, agora, de tomar conhecimento de um artigo que é praticamente uma síntese da visão que eu já tinha de como a eminência parda do Governo Geisel foi montando o quebra-cabeças da abertura política, na parte que mais nos diz respeito. 

Cliquem aqui para acessar Esquerda controlável: Lula e o PT nasceram de um projeto da ditadura militar e avaliem. 

Foi publicado pela Aventuras na História no último mês de março, com a assinatura de Jorosteu Matraga, provavelmente um pseudônimo. (por Celso Lungaretti)
Depoimentos de Emílio Odebrecht e Anísio Teixeira (presidente do 
Instituto JK) ajudam a  entender as relações do Lula com o empresariado

8 comentários:

Anônimo disse...

Quem não gostou nada do artigo do sítio “Aventuras na História” foi o PCO (https://www.causaoperaria.org.br/pt-criado-pela-ditadura/). E pretendem fazer valer o dito sobre o mensageiro e a mensagem, que dizem ser de Dario III, rei da Pérsia. Frequentemente absorvida por teses conspiracionistas, a direção do PCO não admite nenhum ponto de vista que venha a abalar suas crenças. Marco A.

Anônimo disse...

Desde que assisti ao documentário "ABC da greve", do Leon Hirszman, que, em suas cenas finais mostra o Lula, feliz da vida, no Opala preto oficial do então ministro do trabalho Murilo Macedo, ao fim de uma dura assembleia, passei a entender um pouco melhor o papel do PT. Meus amigos petistas, obviamente, não admitem de jeito nenhum o acordo tácito que deu origem ao partido. Marco A.

celsolungaretti disse...

O que mais me chateia são as chances perdidas por conta dessa mexida que o Golbery deu no que seria o rumo natural da esquerda.

A espremida vantagem do Lula sobre o Brizola em 1989, colocando-o no 2º turno, nos fez sermos derrotados na eleição que mais teria valido a pena ganharmos.

Os petistas podem ficar culpando a edição do Jornal Nacional pela derrota do Lula até o fim dos tempos, mas a verdade é que, no debate decisivo, o Lula travou. Permaneceu o tempo todo apático, enquanto o Collor passava por cima dele como um trator.

Brizola, guerreiro como era, jamais travaria. E o Collor não estava à altura dele.

Eu sempre faço uma comparação futebolística. A eleição de 1989 era como a Copa do Mundo de 1982, quando a vitória nos faria um bem danado.

A eleição de 2002, antecipadamente estragada pelo ato de vassalagem do Lula aos empresários (a "Carta aos Brasileiros") foi como a Copa de 1994, conquistada na inconclusiva decisão por pênaltis, depois de 120 intragáveis minutos de 0x0. As que perdemos valiam muito mais do que as que ganhamos.

O segundo momento imperdoável foi o abandono dos jovens do Movimento Passe Livre à sanha dos reaças em 2013. Jogamos uma geração promissora, que tendia a ficar no nosso campo, no colo da direita. O castigo foi a perda das ruas e a eleição do Bozo.

A terceira vacilada terrível foi o Lula ser o maior cabo eleitoral do Bozo em 2018. Puxando o tapete do Ciro Gomes e detonando as chances de uma união da esquerda ele já deixou tudo bem mais complicado; para piorar, ficou meses a fio ensebando com a candidatura fantasma, que todos sabíamos que o TSE rejeitaria, desviando nosso foco da prioridade máxima que era evitarmos a vitória do Bozo.

E uma quarta pode vir agora, se o Lula for bem sucedido no seu empenho para evitar a derrubada do Bozo.

O Golbery defendeu muito bem o lado dele, enquanto nós fomos uns idiotas ao apostarmos todas as nossas fichas num sujeito que não é e jamais foi de esquerda.

Anônimo disse...

Pois é...

Nossa "esquerda" é consentida pelos milicos e pela globo.

Infelizmente, no patropi tá tudo dominado, irmão.

É o país dos cooptados.

Não fosse assim, o bozo jamais sentaria naquela cadeira de presidente.

Anônimo disse...

Excelente análise Celso! Se os petistas lerem isso vão lhe chamar de "vendido para a direita".

Paulo

celsolungaretti disse...

É pitoresco os petistas tratarem assim quem está à esquerda deles. Hoje lhes falta tudo, até honestidade para combaterem os adversários pelo que realmente são e imaginação para contestá-los sem apelar para esses surrados clichês stalinistas.

Anônimo disse...

E quais são os clichês stalinistas ?

celsolungaretti disse...

Entre outros, esse de apontarem quaisquer discordantes de suas posições como "direitistas", "vendidos ao imperialismo", "pequenos burgueses aventureiros", etc., ou seja, sempre desqualificando o opositor ao invés de discutir suas proposições, que são o que realmente importa.

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