Conforme expus em artigo anterior, Bolsonaro não pode ser considerado, de modo algum, um acidente da história. Ele é expressão da estrutura socioeconômica do Brasil, estrutura constituída desde o golpe de 1964 e que agora atinge sua completude.
Existe um modo Bolsonaro de ser na vida social brasileira e este modo que alimenta o mandatário e garantiu sua vitória em 2018.
Este modo de ser antes ficava em segundo plano, sendo controlado no porão político do Brasil. A crise do regime, com a subsequente falência da polarização petucana, levou à ascendência das forças retrogradas, antes subordinadas às forças modernizadoras. Importante considerar, porém, que a modernização brasileira só foi possível assentada nas forças retrógradas.
O novo, portanto, da história está na independência assumida por tais forças retrógradas, independência esta personificada em Bolsonaro. Contudo, está longe de se esgotar na persona do presidente.
As limitações pessoais de Bolsonaro, com destaque para a acentuada falta de habilidade, tornam sua permanência à frente do governo algo imperiosamente efêmero.
As limitações pessoais de Bolsonaro, com destaque para a acentuada falta de habilidade, tornam sua permanência à frente do governo algo imperiosamente efêmero.
O Collor tirando onda com seu jet ski... |
Ao longo da história, temos exemplos dos pais dos novos regimes que acabaram limados para fazer triunfar suas próprias criações. Parafraseando a celebre frase, são as revoluções engolindo seus pais.
Assim, p. ex., o defenestramento de Collor apenas marcou a vitória da sua política econômica, calibrada e extirpada de seus aspectos iconoclastas. A política collorida de abertura econômica, desnacionalização, privatizações e desindustrialização foi abraçada por Itamar, FHC e Lula, só vindo a ser contestada – de modo desajeitado – por Dilma.
De certa forma, a queda de Collor foi necessária para a vitória do seu modelo socioeconômico, pois apenas assim foi possível normalizar o modelo, retirando dele alguns excessos dos começos turbulentos.
Cito aqui Collor por ser o exemplo brasileiro mais evidente deste fato, mas há muitos ao longo dos tempos, o que parece indicar a existência de uma lei a respeito do aparecimento destas figuras nos períodos de virada histórica.
Inequivocamente, estamos num momento de inflexão do desenvolvimento histórico mundial e da nova situação brasileira dentro do capitalismo global. Bolsonaro aparece, assim, enquanto alguém que abre um novo período da história do país.
...e o Bozo utilizando indevidamente um jet ski da Marinha. |
Toda a questão hoje está no acerto de como se configurará o regime após a queda de Bolsonaro. Os acertos ainda não estão azeitados e é isto que ainda impede o piparote final. Uma vez encontrada uma fórmula aceitável para os personagens com maior poder de fogo político e econômico (ou seja, um arranjo que contemple os principais interesses de cada um deles), a queda virá ,com certeza matemática.
A derrubada de Bolsonaro será sua vitória, porém. O corpo será afastado, mas o espirito vai pairar sobre o novo pacto dos poderosos.
Diante disto, a alternativa seria derrotar não apenas Bolsonaro presidente, mas Bolsonaro modo social de vida. E isto só será possível com a mudança radical do país. (por David Emanuel de Souza Coelho)
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