dalton rosado
AS CRISES (SOMATIZADAS E CONEXAS) FINAIS DO CAPITAL
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"Batalhar contra essa crise e tentar mitigar seus efeitos na economia dos EUA e do mundo tem dominado as horas em que estou acordado por mais ou menos
21 meses"(Ben S. Bernanke, presidente do
FED, durante a crise do subprime)
Há uma história corriqueira sobre as agências de rating, como Standard & Poors, Moody’s e outras, segundo a qual um analista de mercado mais criterioso e preocupado com o boom do mercado imobiliário em 2007, passou a estudar o fenômeno causal pelo qual uma unidade habitacional subia de preço (não de valor intrínseco) nos Estados Unidos sem a menor explicação lógica e num período de alguns meses graças à especulação do setor.
Verificou que os bancos que operavam com o financiamento habitacional por hipotecas naquele país, como o Lehman Brothers e outros, financiavam unidades habitacionais sem o menor critério de comprovação de renda dos compradores, mas baseados apenas no valor de mercado de tais unidades.
Muita gente comprava até mais de um imóvel, pois isso representava renda de alugueis até que se vencessem as dívidas hipotecárias. Outros vendiam suas casas já quitadas e valorizadas muito acima dos valores originais e faziam novos financiamentos como forma de obtenção de capital para os usos mais diversos.
Quando uma hipoteca vencia e a casa era retomada pelo banco financiador, sempre havia a possibilidade de nova venda e por preços aumentados, o que despreocupava os credores, que até torciam para que houvesse uma inadimplência.
"a bolha furou e o dinheiro desapareceu" |
Mas o tal analista se deu conta de que essa espiral de aumento de preços no mercado imobiliário poderia constituir-se numa bolha de aumento de capital cujo limite de crescimento seria atingido tão logo houvesse um nível de inadimplência maior do que a capacidade de financiamento e aquisição, fazendo ruir todo aquele processo como um castelo de cartas.
Quando procurou uma agencia de rating famosa para saber o critério usado para as notas altas de avaliação de ativos dos bancos do sistema imobiliário, constatou que as notas eram dadas como forma de agradar o mercado, de vez que, se assim não procedesse, outras agências o fariam, tomando-lhe os clientes.
Consta que o tal analista de sistema previu o colapso do mercado imobiliário, tendo o preço das unidades habitacionais caído de preços numa proporção ainda maior do que aquela em que haviam aumentado.
Não deu outra; a bolha furou e o dinheiro desapareceu tal qual o Superman de plástico com a imagem de Sérgio Moro inflado nas manifestações dos fanáticos seguidores do mito.
Assim, quando as inadimplências começaram a pipocar num volume maior do que a capacidade de compra, os bancos ameaçaram decretar a maior falência do sistema financeiro mundial desde o crash de 1929/1930, o que poderia causar a falência de todo o sistema monetário vigente e provocar um tsunami no capitalismo internacional, botando a nu a insubsistência das moedas ditas fortes.
Vem aí outro crash como o da Bolsa em 1929? |
A ameaça foi sanada com dinheiro sem valor emitido pelos Bancos Centrais dos Estados Unidos e da União Europeia, já que todos os bancos internacionais estavam contaminados pela insustentabilidade dos seus ativos financeiros.
Mas o milagre encontrado foi e é tão falso como a cloroquina quando utilizada contra a Covid-19.
Os ativos financeiros do sistema de crédito mundial, já eram, desde a crise do subprime, lastreados por títulos da dívida pública, os quais, por sua vez correspondem a recursos obtidos dos aplicadores financeiros (rentistas) mundo afora.
Ocorre a dívida pública jamais será regatada, posto que é permanentemente rolada e com juros cada vez mais baixos; se assim não fosse, tais juros seriam adiante inadimplidos, antecipando o tsunami (que, dia mais, dia menos, inevitavelmente chegará).
Para que tais ativos financeiros pudessem ser resgatados, seria necessário que a economia mundial (e com ela a arrecadação de impostos) retomasse um ritmo de crescimento estratosférico, o que não está na ordem do dia.
Pelo contrário, os organismos financeiros internacionais tipo FMI e OCDE, antes mesmo da pandemia virótica, já alertavam que entraríamos num recessão mundial a partir de 2020.
Por seu turno os Estados estão cada vez mais endividados, a ponto de o mesmo Lula que qualificava a crise do subprime de uma marolinha, agora afirmar que ficou evidenciada a importância do Estado na solução dos problemas. Este é o socialismo que acende velas para o capital!
O isolamento social causado pela pandemia virótica criou um clima de perplexidade completa no capital industrial, comercial e financeiro, bem como aos orçamentos públicos, sem que os auxílios financeiros emergenciais com moeda sem lastro representem soluções eficazes e duradouras.
"deixando seus incautos investidores a verem navios" |
A crise econômica se soma à crise política, sendo esta última (como esfera submissa do capital decomposto) um mecanismo institucional hipossuficiente na solução do problema mundial do atingimento do limite interno da capacidade de expansão capitalista.
[Isto porque, uma vez atingido tal limite e cessada a expansão, ele sucumbe e morre, tal qual uma pirâmide financeira que derrete ao tornar-se incapaz de continuar incorporando novos aplicadores, deixando seus incautos investidores a verem navios.
O problema disto tudo é que a falência do sistema vai atingir de modo mais acentuado todos os coitadezas do mundo, aí incluídos os desavisados e fanatizados seguidores da direita nazifascista mundo afora, que no Brasil vestem as cores verde-amarelas e gritam como um mantra o fora comunistas, dirigidos e manipulados por uma classe média ávida em readquirir o status e recuperar as comodidades de outrora).
A retomada do desenvolvimento econômico, bandeira uníssona de todos os segmentos políticos e sociais, é tão ilusória quanto a pretensão de que um remédio para a malária possa ser a solução milagrosa contra o coronavírus. (por Dalton Rosado)
2 comentários:
O filme é The Big Short aka A Grande Aposta. Tem na Netflix.
Como o Dalton talvez não entendesse a sugestão, o anônimo está indicando um filme sobre a crise do subprime.
E eu vou apontar outro, que considero bem no espírito dos artigos do Dalton: "O dia antes do fim" (Margin Call).
Mostra um banco de investimentos (que seria, evidentemente, o Lehman Brothers, embora o nome não seja citado) se dando conta de que a bolha imobiliária estava na iminência de estourar, causando-lhe um enorme prejuízo.
Então, trata de aproveitar os últimos momentos para empurrar seus papéis podres para os incautos de tudo que é jeito, executando uma operação proibida nesse mercado e que seria o estopim da grande crise que fez o capitalismo balançar na década passada.
Ou seja, escancarando o canibalismo capitalista, o filme mostra os diretores desse banco ferrando conscientemente todo o sistema financeiro mundial para salvarem a si próprios do prejuízo.
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