por Deutsche Welle
Todos os tratamentos que estão sendo testados para curar a covid-19, doença causada pelo coronavírus Sars-Cov-2, só podem ser realizados em hospitais, alertou na 2ª feira (30) a ANSM – Agência Nacional de Segurança do Medicamento e dos Produtos de Saúde da França.
Medicamentos "que não tiveram eficácia comprovada formalmente no tratamento ou na prevenção da covid-19" só devem ser aplicados no âmbito "de testes clínicos em curso", diz comunicado da agência. E insiste:
"Os tratamentos testados para curar os pacientes de covid-19 só podem ser utilizados no hospital. Em caso algum esses medicamentos devem ser utilizados para automedicação, prescrição de um médico da cidade ou autoprescrição de um médico".
Segundo Dominique Martin, diretor-geral da ANSM, hospitais na França teriam constatado até 30 efeitos colaterais relacionados a medicamentos utilizados para tratar a covid-19. Esses medicamentos estão sendo testados por pesquisadores europeus. "Os [efeitos colaterais] mais numerosos dizem respeito ao medicamento Kaletra (associação dos princípios ativos lopinavir e ritonavir, normalmente usados para tratar pacientes com HIV)", diz o comunicado da agência.
"A hidroxicloroquina, sozinha ou associada a outro produto, está relacionada a cinco casos [suspeitos de efeitos colaterais], três deles fatais. As observações estão sendo analisadas por um centro regional de farmacovigilância", disse Martin.
"Por outro lado, neste momento, não há como garantir que a hidroxicloroquina cause efeitos cardíacos em pacientes de covid-19", acrescentou.
Em hospitais franceses, aplicou-se o medicamento Plaquenil, cujo princípio ativo é a hidroxicloroquina, a pacientes infectados com o coronavírus Sars-Cov-2.
Martin disse ainda que é "normal" aplicar métodos experimentais no tratamento de doenças como a covid-19 por causa da sua rápida disseminação. Porém, esses tratamentos precisam ser acompanhados atentamente por especialistas – uma regra que vale especialmente para a combinação entre hidroxicloroquina e o antibiótico azitromicina.
Administrar esses dois medicamentos ao mesmo tempo, segundo Martin, "potencializa o risco" de taquicardia que poderia levar a um enfarte. Por isso, especialmente pacientes de covid-19 precisam de atenção especial.
O presidente americano, Donald Trump, elogiou a combinação entre hidroxicloroquina e azitromicina na semana passada, pelo Twitter.
Segundo Trump, "tomados juntos, [esses medicamentos] têm uma chance real de virar o jogo na história da medicina. A FDA [agência americana de controle de medicamentos e segurança alimentar] moveu montanhas – obrigado! Espero que os DOIS (...) sejam usados IMEDIATAMENTE", escreveu Trump.
O presidente Jair Bolsonaro também vem propagandeando uma suposta eficácia da hidroxicloroquina, contrariando o seu próprio ministro da Saúde, que afirmou que o medicamento não é uma "panaceia” e que advertiu para os riscos da automedicação.
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Toque do editor — O resumo da ópera é que a situação de emergência justifica a utilização da cloroquina em casos muito graves, com a concordância dos pacientes e um acompanhamento rigoroso por parte dos médicos, até que seja comprovada a eficácia e segurança desse uso alternativo de um medicamento para malária.
Não cabe a leigos opinarem sobre um assunto que deve permanecer estritamente na esfera de decisão dos especialistas.
Muito menos quando tais leigos são governantes desesperados com o prestígio que perderão em função dos erros já cometidos com relação à pandemia e necessitados de um grande trunfo propagandístico para desviarem os holofotes da mídia de suas lambanças anteriores.
A consequência de tal comportamento deveria ser seu afastamento imediato dos cargos que ocupam, por estarem cometendo crime de responsabilidade ao insuflarem uma febre da cloroquina que inevitavelmente desembocará na automedicação por parte dos cidadãos menos esclarecidos.
Bolsonaro, ademais, convoca rede nacional de TV para desacreditar as orientações científicas que o mundo inteiro está seguindo contra o coronavíru e para fazer apologia da droga que jamais deverá ser vista pelos leigos como remédio milagroso.
Até quando, ó Catilina, os adultos permitirão que você continue abusando da nossa paciência?! (por Celso Lungaretti)
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