sábado, 11 de abril de 2020

FANÁTICOS TOLOS ENXERGAM CLOROQUINA COMO POTE DE OURO NO FIM DO ARCO-ÍRIS

Todos os médicos podem prescrever a cloroquina para seus pacientes, com autorização deles. O Ministério da Saúde não veta o uso da substância – e também não a receita, pois, como em qualquer outro caso, não é sua função substituir o médico.

O ministério não estimula o uso indiscriminado da droga porque não se concluiu o protocolo científico de sua aprovação como medicamento para a Covid-19. Ao lado dela, pesquisas em fase inicial descortinam outras hipóteses medicamentosas prometedoras. 

Tudo isso parece óbvio, exceto para os fanáticos da cloroquina, que deflagraram uma guerra cultural.

À primeira vista, a guerra decorre da sedução do pensamento mágico. Os fanáticos da cloroquina a enxergam como cura divina, o santo graal, elixir da vida, um pote de ouro no fim do arco-íris. Mas esses são os fanáticos tolos, inocentes úteis, soldados rasos de uma guerra cujas raízes não compreendem.

Os alquimistas da nova jihad transfiguram a substância química em metáfora de um arco narrativo ideológico que nada tem a ver com medicina.

O arco estende-se da China às elites globalistas, com escala na OMS. Os três capítulos da narrativa são mais frequentemente difundidos como contos autônomos, mas pertencem a um romance único. Cada um apoia-se em fatos incontestáveis ou hipóteses razoáveis, que sofrem manipulações de natureza conspiratória.
1. China: o vírus emergiu em Wuhan, o regime ocultou a etapa inicial da epidemia e, para proteger o sistema de poder totalitário, provavelmente fabricou estatísticas fantasiosas que miniaturizaram as curvas de infecções e óbitos. 
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Daí, os fanáticos da cloroquina extraem uma conspiração comunista destinada a disseminar globalmente o coronavírus, quebrando economias capitalistas para estabelecer hegemonia mundial da China..
2OMS: a China impulsionou a escolha do etíope Tedros Adhanom para a chefia da OMS e hoje exerce influência sobre a organização similar à que os EUA e os europeus mantêm sobre o FMI e o Banco Mundial. 
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Parceiro de um regime engajado em projetar soft power na África, Adhanom celebrou a eficiência chinesa no combate à epidemia, calando-se acerca de tudo que possa constranger Xi Jinping.
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Dessa parceria os fanáticos da cloroquina extraem um complô veiculado pela OMS para amplificar a crise sanitária e desacreditar o remédio providencial.
3elites globalistas: na linguagem sectária dos fanáticos da cloroquina, a expressão engloba todas as correntes compreendidas entre o liberalismo progressista e a social-democracia, genericamente rotuladas como socialistas.
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Tais elites, articuladas nas instituições internacionais, conduziriam um plano malévolo destinado a subjugar as nações e os capitalismos nacionais. A pandemia funcionaria como pretexto ideal para universalizar as quarentenas, solapar negócios, arrasar empresas privadas e perenizar a intervenção econômica estatal.

A guerra da cloroquina foi declarada pelos mesmos líderes políticos que, há pouco, qualificavam a Covid-19 como gripezinha. Agora, desmascarados, eles se reagrupam numa trincheira de comprimidos de cloroquina e armam catapultas para assediar o castelo das democracias.

Há pesquisadores sérios convencidos da eficácia da substância no tratamento da doença. Suas reputações serão mais bem servidas se contribuírem com ensaios clínicos randomizados da droga, recusando o papel de porta-vozes científicos da guerra cultural alheia.

Chefes do tráfico não cheiram pó, curandeiros confiam sua própria saúde aos médicos, astrólogos profissionais não planejam suas vidas a partir de mapas astrais.

Os fabricantes da conspiração sem fronteiras --que abrange a China, a OMS, a União Europeia, o Partido Democrata, o STF, Maia, Doria, Mandetta e a maldita imprensa-- vendem deliberadamente um produto falsificado. (por Demétrio Magnoli)

2 comentários:

axel_terceiro disse...

Exatamente. Gosto bastante do Magnoli. Um intelectual de mão cheira que conhece não apenas o universo de assuntos que permeia o nicho acadêmico dele, que é a Geografia. O autoritarismo chinês tem sua parcela de culpa no começo dessa muvuca toda, mas, daí pra vender como se o vírus tivesse sido fabricado propositalmente em complô com a OMS, é assinar o próprio atestado de mau-caráter e/ou imbecil

celsolungaretti disse...

Axel, eu acrescentaria que é um atestado de BURRICE, pois o Bozo e os outros quadrúpedes entraram nessa para se alinharem com a posição do Trump.

Contudo, nada de importante resultou até agora desse puxa-saquismo repulsivo. Estaríamos bem melhor servidos se atraíssemos as simpatias da China, ao invés de irritá-la com puerilidades

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