terça-feira, 28 de abril de 2020

DESEMPREGADOS DO MUNDO, UNI-VOS!

dalton rosado
EFEITOS DA GREVE
 GERAL DO CORONAVÍRUS
Diferentemente da posição do bem intencionado Friedrich Engels sobre a revolução proletária armada (bem mais favorável que a do seu parceiro Karl Marx e muito menos que a do politicista Lênin), sempre achei que a consciência social é a arma verdadeiramente eficaz e letal para o combate à exploração capitalista. 

Pois não é que um invisível e microscópico vírus está a promover uma importante reflexão sobre a fragilidade do modo de produção capitalista e promovendo uma revolução pacífica nas consciências (infelizmente, acompanhada de milhares de mortes de pessoas que até um mês atrás achavam que o vírus era uma gripezinha e uma invenção chinesa que pouco nos afetaria)?!

Desgraçadamente, é devido a uma crise sanitária mundial que o modo de produção capitalista está sendo melhor compreendido como relação social negativa. Sairemos desta com um nível superior de consciência social. 

O capital está entrando em colapso e obrigando os seus submissos mantenedores da política a tomarem perigosas medidas de flexibilização na produção e venda de mercadorias como forma de sua manutenção suicida. 

Querem nos fazer crer que produzir mercadorias fosse algo tão natural e imprescindível como tomar água. Não é. 
Parâmetros oficiais de pobreza mascaram realidade atroz

Aviso: a flexibilização nos moldes capitalistas pode paralisar de modo muito mais dramático a própria produção, como numa guerra convencional na qual as mortes inviabilizam a vida social. 

E mais: está retirando a máscara de caráter de muitos patriotas xenófobos que hipocritamente alegam estarem defendendo o povo. 

Há, p. ex., empresários de determinados setores essenciais de serviços médicos hospitalares que estão demitindo profissionais da saúde por não terem faturamento decorrente de outros serviços médicos caros graças ao acúmulo de casos do coronavírus. 

Ao não levarem em conta a extrema relevância do combate à pandemia, confirmam que, para eles, o lucro conta mais do que a vida humana. Hipócrates deve se revirar no túmulo diante de tanto cinismo e crueldade. 

Para os empresários dessa laia, ficar em casa é mais letal para o capitalismo e toda a entourage que lhe dá apoio político-jurídico-constitucional-militar do que os inconformados irem para as ruas de armas em punho contra o próprio capital. 

No Brasil (e, de resto, no mundo), mesmo antes do coronavírus já havia uma greve parcial, involuntária, promovida pelos próprios fundamentos da contradição do modo de produção capitalista: a greve dos 12 milhões de desempregados desesperados e impedidos de prover o seu próprio sustento por questões que lhes fugiam ou fogem da compreensão. 

Mas, a greve geral do coronavírus é ainda mais abrangente, obrigando o Estado a emitir moeda oficial falsa para manter minimamente as relações mercantis paralisadas. O preço a ser proximamente pago pela população por tais medidas emergenciais é atemorizante: o déficit público acarretará a imposição de sacrifícios inimagináveis. 
Uma Maria Antonieta do século 21. Há muitas...
O Brasil corre o grave risco de ter a volta da inflação, que já atinge alguns produtos e só não se generaliza de imediato por faltar capacidade aquisitiva à população economicamente exaurida.

Paradoxalmente, este é o fator de conscientização empírica de que somente a produção social solidária, voltada para a satisfação das necessidades de consumo e não para a obtenção do famigerado lucro mercantil, poderá mudar a face das cada vez mais empobrecidas sociedades mundiais (não obstante existirem algumas ilhas de prosperidade) e seu conceito moral deturpado pelo capital. 

Caso a paralisia perdure (tomara que tal não aconteça, pois implicaria a morte de milhões de pessoas a quem devemos proteger e que são a razão de ser dos nossos escritos!), seremos obrigados a produzir fora dos padrões mercantis, pois a moeda já não vai ter valor nenhum.

Ainda que os abnegados cientistas (estes, sim, verdadeiros heróis da humanidade!) descubram a vacina contra a Covid-19 ou o próprio vírus perca naturalmente a sua capacidade de propagação, a fragilidade e irracionalidade do modo de produção capitalista já terá sido comprovada. 

Mas, afora a questão da tomada de consciência (que é fundamental e única forma de superação dos problemas sociais), outro problema para a ordem capitalista se circunscreve ao campo da economia.

Os Estados capitalistas têm uma dívida pública que já era impagável e crescente antes da paralisia sanitária e que agora tende a se tornar estratosférica no curto prazo, fazendo voar pelos ares toda a riqueza abstrata medida pela fita métrica abstrata dos padrões monetários existentes.
Barril de petróleo mais barato do que sorvete? Pois é... 

Hoje já se admite que os ricos estão menos ricos, pois seus patrimônios decresceram de valor; e os pobres estão ameaçados de morte não apenas pelo coronavírus, mas pelo vírus da exploração promovida pela relação social mediada pela riqueza abstrata em rota de autodestruição. 

Os rentistas que faziam fortunas na loteria da lei da oferta e da procura das ações nas bolsas de valores mundo afora (o valor patrimonial das ações dificilmente corresponde ao seu valor de mercado e a distribuição de dividendos e bonificações é pífia) viram virar fumaça alguns USD trilhões.

Commodities como um tipo especial de petróleo tiveram seu valor reduzido a menos zero (quem diria...), ou seja, quem comprasse um barril de petróleo e o transportasse e armazenasse, além de não pagar nada por isso, ainda receberia uma compensação pela ajuda

Para quem não acredita que há manipulação histórica no ato de comprar e vender mercadorias, basta nos lembrarmos dos muitos exemplos da História em que, quando de uma superprodução incapaz de ser absorvida pelo mercado, alimentos foram incinerados como imperativo para a manutenção dos preços, enquanto o povo passava fome (o café no porto de Santos, batatas em Guarapuava, etc.).  O caso atual do petróleo é apenas uma reprise histórica.

Mas, a soja continua sendo soja; o ferro prossegue servindo como matéria-prima siderúrgica; a pecuária ainda nos proporciona carne e leite, e por aí vai. 

Ou seja, tais bens de consumo somente continuam a ser o que eram do ponto de vista material, concreto, da satisfação de necessidades de consumo, mas a coisa muda de figura no que tange ao seu papel de mercadorias valoradas abstratamente, pois nesta acepção estão decrescendo de tamanho.  
Desempregados no Vale do Anhangabaú, centro velho paulistano
Os efeitos diretos da paralisia atingem, portanto, o universo abstrato das relações sociais econômicas de modo letal, demonstrando o seu artificialismo manipulador das consciências, bem como seu conteúdo escravista e segregacionista.

A dívida pública sustentada artificialmente, sem correspondência com a produção de mercadorias, e que está a agravar-se com a paralisia econômica decorrente da crise sanitária, tende a atingir patamares estratosféricos, que jamais poderão ser resgatados pela chamada economia real (a produção de mercadorias e serviços). 

Isto acarretará um sacrifício social que vai desgastar politicamente quantos tenham sido eleitos trombeteando a quimera da salvação da pátria

Tal é o grande receio dos governantes e dos capitalistas que têm consciência do que está a acontecer. Os planos liberais de economistas como Paulo Guedes, diante da realidade insustentável da relação social mercantil, são obrigados a retirar as suas máscaras de caráter e veem desmanchar-se todo o castelo de areia que tentavam construir.

Enquanto isso, o que devem fazer os anticapitalistas?

Há de compreender-se que, em cada produto e serviços, não existe um grama sequer de dinheiro, sendo, portanto, perfeitamente possível produzir-se sem o vil metal. 
De hora em hora, a crise do capitalismo piora

[Aliás, ao contrário do que a maioria supõe, hoje, principalmente, somente se pode produzir alguma coisa excluindo-se dessa produção a intermediação nefasta da viabilidade econômica do lucro nestes tempos de limite interno da produção mercantil (que, se já era existente e visível, foi agora agravada pela pandemia).]

Há de compreender-se que a troca de mercadorias quantificadas monetariamente pelo valor do tempo de trabalho abstrato nelas coagulado (escambo moderno, mercantil) e/ou valorizadas em razão de patentes guardadas em segredos industriais a sete chaves, deve ser substituída pela troca de produção social comunitária, na qual os excedentes de produção de cada lugar sejam transferidos gratuitamente para as coletividades deles carentes e vice-versa.

Desempregados do mundo, uni-vos! (por Dalton Rosado)   

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