domingo, 19 de abril de 2020

DALTON ROSADO, SOLIDARIZANDO-SE A BATTISTI, ENFATIZA: A TORTURA NADA MAIS É DO QUE UM ATO DE CRUELDADE COVARDE.

Não quero entrar no mérito do comportamento de Cesare Battisti diante da possibilidade de prisão (que terminou por se confirmar) e do terror pessoal dele às retaliações vingativas do sistema que o levaram a assumir culpas que certamente, contextualizadas, sequer existem (ou não são apenas suas, se assim quisermos considerar). 

A pretensa civilidade capitalista tira a sua máscara de caráter e evidencia toda a sua crueldade praticando a tortura quando está em jogo a sua sustentabilidade. Tudo é relevado quando a causa a ser defendida é a pretensa democracia burguesa.

É o que está acontecendo, hoje, diante da pandemia e da paralisia das atividades econômicas, quando governantes e demais pessoas dependentes da circulação de mercadorias ou pessoas desavisadas sobre outras possibilidades de vida social defendem o grave risco da contaminação e mortes coletivas pela quebra da reclusão reflexiva (assim escolho chamar a quarentena). 

Está muito claro que Battisti, consumada a sua prisão na Bolívia graças ao pusilânime Evo Morales, negociou a sua incolumidade física com seus algozes. 
Depois das quatro décadas de sua fuga sem fim...

Mas confiou em quem jamais se pode confiar: o comportamento dos pretensamente civilizados condottieres da repressão, quando querem mostrar à sociedade como são tratados os opositores do capitalismo.

Considero que a tortura a um preso indefeso é o mais covarde e bestial ato de crueldade de um ser humano sobre outro. 

A civilidade capitalista colora com tinta viva de sangue as cores da sua tradicional hipocrisia.

O relato de Battisti na sua carta desta 6ª feira, 17 (clique aqui para acessá-la), deixa claro que o tratamento que lhe está sendo dado na prisão é o mesmo e habitual tratamento que o regime impõe aos que eles querem destruir psicologicamente como forma de demonstração pública patética de que não vale a pena ninguém lutar pela liberdade social, como se isto fosse uma quimera infrutífera.

Battisti não está sendo punido pelo risco ao sistema que hoje ele possa eventualmente oferecer (pois a sua condição de pacato escritor de romances, sem nenhuma militância política clandestina ou pública, está muito longe de constituir-se em ação ou doutrinação revolucionária), mas pelo exemplo que ele representa.   
...ele quer apenas exercer seu ofício em paz.
O regime pode soltar bombas a 10 mil pés de altura sobre Bagdá, matando crianças que dormiam, sob a falsa alegação de que lá existiriam armas químicas fabricadas pelo antigo aliado, o sanguinário Saddam Hussein, quando este se tornou desinteressante no jogo de xadrez pela hegemonia capitalista da apropriação do petróleo.

Caso semelhante foi o de Osama Bin Laden, usado pelos Estados Unidos na guerra do Afeganistão e depois executado num ato de pirataria internacional.

Nenhuma guerra capitalista é considerada criminosa e punidos os seus promotores como criminosos de guerra. O que dizer da guerra do Vietnã, na qual quase 60 mil jovens estadunidenses morreram e outros 300 mil foram feridos, a 20 mil quilômetros de sua terra natal, sem saber exatamente o porquê de tal empreitada genocida?! 

Battisti, receba a nossa solidariedade, independentemente de qualquer crítica que se possa fazer aos movimentos táticos e estratégicos de luta contra a opressão, pois, como dizia Fernando Pessoa, “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. 

Abaixo a tortura! (por Dalton Rosado)

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails