Velhos amigos: o Bozo foi malufista durante 11 anos... |
celso rocha de barros
BOLSONARO PERDEU A LAVA-JATO
A saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça alterou o equilíbrio político estabelecido pela eleição de 2018. Bolsonarismo e lavajatismo aproximaram-se na campanha de 2018, com consequências trágicas para o Brasil. Romperam na última 6 ª feira (24). Não foi pacífico.
Em seu discurso de demissão, Sergio Moro começou lembrando que sob os governos petistas a Polícia Federal tinha mais autonomia que sob Bolsonaro. Doeu porque é verdade, Jair. Moro fez denúncias muito graves.
Horas depois, o Jornal Nacional mostrou a conversa de WhatsApp em que Bolsonaro pediu a Moro a demissão do diretor da PF porque deputados bolsonaristas estavam sendo investigados.
Na mesma semana em que Bolsonaro rompeu com Sergio Moro, aproximou-se de notórios acusados de corrupção como Valdemar Costa Neto, Roberto Jefferson e Arthur Lira.
Agora vamos descobrir se o autoritarismo de Bolsonaro consegue se promover sem parasitar a indignação criada pelas revelações da Lava-Jato.
O discurso de guerra às instituições só foi viável em 2018 porque havia uma percepção generalizada de que o sistema era corrupto. Blindado pela facada e por toda uma vida dedicada à irrelevância, Bolsonaro conseguiu se tornar a tela em branco onde todas as fantasias moralizadoras foram projetadas.
...e passou 3 anos no PTB de Roberto Jefferson |
Foi um senhor feito; não o subestimem. Mas era tudo mentira. Bolsonaro nunca teve qualquer atuação no combate à corrupção, e a nova aliança com Jefferson e Costa Neto é uma volta para casa.
Da mesma forma, o entusiasmo bolsonarista sempre foi alimentado por notícias falsas e crimes cometidos em redes virtuais, mas a raiva que ali se manipulava tinha um substrato real: os escândalos de corrupção revelados em Curitiba.
Agora vamos descobrir se a máquina de crime virtual funciona tão bem jogando sem, ou contra, essa indignação preexistente.
Não há dúvida de que a Lava-Jato também cometeu abusos, como ficou claro após as revelações da Vaza Jato. Essa disposição messiânica para passar por cima das regras, manifesta sobretudo no julgamento de Lula, certamente ajudou na aproximação com o bolsonarismo.
Mas hoje está claro que Bolsonaro nunca se interessou pelo combate à corrupção, e que, da Lava-Jato, Bolsonaro só gostava dos abusos.
Sem a imagem de cruzada moral, o governo Bolsonaro passará a ser julgado como os outros governos, por seus resultados. Como andam os resultados, Jair? Pois é.
Encurralado, Bolsonaro também pode tentar dobrar a aposta autoritária. É bem possível, mas, repito: teria que fazê-lo sem o entusiasmo antissistema que a Lava Jato lhe emprestava.
O Bozo terá de sobreviver sem parasitar a Lava-Jato |
No momento, o governo tenta se reorganizar com militares e centrão. É cedo para dizer se funciona, mas noto que os militares não morreriam para evitar um governo Mourão. E o centrão não morre por ninguém.
Enquanto isso, tentam vender a tese do Moro traidor. O bolsonarista Alexandre Garcia postou que a facada do Adélio foi pela frente.
A referência é oportuna, porque o bolsonarismo corre o sério risco de voltar aos níveis de popularidade pré-facada. Se acontecer, Bolsonaro pode cair.
Se resolverem não derrubar, lembrem-se: isso tudo ele fez, durante a pandemia, porque achou que sobreviveu bem à queda de Mandetta. Imagine o que vai fazer se sobreviver à queda de Moro? (por Celso Rocha de Barros)
O Bozo poderia cantar quase a mesma coisa: "Corrupção, aqui me tens de
regresso/ e suplicante te peço/ a minha nova inscrição./
Voltei pra rever os amigos..."
regresso/ e suplicante te peço/ a minha nova inscrição./
Voltei pra rever os amigos..."
4 comentários:
Celso,
Hoje saiu uma pesquisa telefônica do Datafolha mostrando que Bozo manteve o apoio habitual (~ 33%). Se a pesquisa corresponder à realidade, a piora de popularidade derivou de setores que já estavam fora da bolha dos bolsominions.
Apesar de que o divórcio litigioso com o Lavajatismo não é questão de mera
popularidade, pois mexe muito mais com os bastidores dos mecanismos do poder, também não deixa de ser um resultado espantoso.
Será que fica tudo como está?
Abç
Claro que não! Correlação de forças política é diferente de pesquisa que capta estados de espírito momentâneos.
Por exemplo, quando o petismo ainda ganhava eleições à custa do eleitorado do Norte e Nordeste, eu já sabia que marchava para a derrocada, pois tal eleitorado enche urnas mas não é decisivo para ditar os rumos mais amplos de uma sociedade ou de um país.
Voltamos ao velho Marx: mais influente é sempre quem tem as forças produtivas mais desenvolvidas. Se um presidente se elege com 51% dos votos, mas seus eleitores representam apenas 20% do PIB, de um jeito ou de outro os 49% o acabam tirando do poder.
Um exemplo clássico. O Norte industrializado prevaleceu sobre o Sul atrasado e escravagista na Guerra da Secessão por sua maior pujança econômica, embora em termos estritamente legais os sulistas tivessem todo direito de emanciparem-se e construírem outra Nação.
Enfim, desde o início (houve um tempo na Agência Estado em que era sempre eu o incumbido de escrever qualquer coisa cada vez que saía uma nova pesquisa eleitoral), eu sempre percebi que esses resultados são matéria-prima para reflexão e análise, mas nem de longe têm a relevância que se imagina.
De resto, o impacto de uma ruptura como a de sexta-feira passada leva algum tempo para ser digerido pelo cidadão comum. Gente do ramo previu que, adiante, o Bozo ficará reduzido ao bolsonaro-raiz, por volta de 12% do eleitorado, daí ter decidido prescindir de seus ministros populares e usar os cargos para comprar os votos do Centrão e evitar que se forme a maioria no Congresso necessária para o impeachment.
Um perfeito idiota como ele repete a opção desastrosa que muitos já fizeram antes, sempre com o mesmo resultado: acabaram removidos dos cargos.
Celso,
Eu tenho lá minhas dúvidas se essa bolha de fanáticos será capaz de digerir algo. O que tenho visto é uma ofensiva do bolsonarismo raivoso, lançando a campanha do _Moro traidor_.
Para além do fato de que nós nunca tivemos um impeachment de um presidente que contasse com o apoio de um terço do eleitorado, a FIESP parece disposta a sustentar o governo desde que as reformas estejam asseguradas. O que vem a calhar com o afago público que Bozo deu a Guedes...
O poder econômico não parece estar decidido pelo impeachment. Ao menos ainda.
Abraço
Este é o quadro do dia de hoje. Mas, numa época de crise aguda, pode mudar tudo da noite para o dia.
As tendências irreversíveis são as de a Covid-19 matar muita gente no Brasil; e de o Bozo perder boa parte do eleitorado que prezava o combate à corrupção e aos poucos perceberá o significado da saída do Moro e da entrada do Roberto Jefferson no círculo de decisões.
Nem por milagre o Bozo começará 2021 como presidente; e há enorme chance de levar o pé na bunda ainda no presente semestre.
Já vi esse filme antes, muitas vezes, no Brasil e em outros países. Ele recebeu na sexta-feira um golpe fatal do qual não se reerguerá. Agora, é tudo questão de tempo.
Abs.
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