leonardo sakamoto
BOLSONARO, ENFIM, TOMA CORAGEM E CONVOCA
PARA ATOS QUE ESPANCAM DEMOCRACIA
Bolsonaro, finalmente, tomou coragem e resolveu conclamar seus apoiadores às manifestações em defesa de si mesmo e contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.
Até agora, o presidente apenas vociferava contra os que afirmavam que ele estava ajudando nas convocações dos atos de 15 de março.
Não deixa de ser um sinal de maturidade: se ele quer espancar a democracia e deixá-la para morrer no asfalto, é bom não ser covarde e assumir isso publicamente.
"Quem diz que é um movimento popular contra a democracia está mentindo e tem medo de encarar o povo brasileiro", disse ele, em um evento em Boa Vista (RR), na escala de sua viagem aos Estados Unidos, neste sábado (7).
Dessa forma, Bolsonaro tenta ressignificar os convites que circulam nas redes sociais, vinculando essas manifestações a pautas como o fechamento dos Poderes Legislativo e Judiciário, a prisão de deputados federais, senadores e ministros do STF e até um golpe militar.
Para ele, esses convites devem ser apenas espírito de humor, esportivo – como chamou o uso de um humorista para representá-lo numa coletiva de imprensa no dia em que o IBGE divulgou que a economia do país cresceu, em 2019, só 1,1%. Mas a tentativa carece de sinceridade.
A validade de um movimento é o respeito que ele presta à democracia. E, apesar das palavras de Bolsonaro deste sábado ("Participem, não é um movimento contra o Congresso, contra o Judiciário. É um movimento pró-Brasil"), não é isso que tem sido visto nas convocações e nos ânimos dos envolvidos.
Que se embriagaram, diga-se de passagem, no foda-se ao Congresso, sugerido por Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, que chamou parlamentares de chantagistas no dia 18 de fevereiro. Com atraso, o presidente finalmente atendeu a um pedido do general e convocou o povo às ruas.
Além disso, Bolsonaro chama de povo brasileiro apenas o naco que concorda com seu governo a ponto de aceitar ir às ruas defendê-lo. Ou seja, ele só reconhece como válida a opinião daqueles que repetem o que ele diz. O que faz parecer que segue a vontade popular, quando segue só sua própria vontade.
"Não somos nós políticos que dizemos para onde o Brasil deve ir. Nós apenas conduzimos. Vocês, povo, que dizem para onde ele deve ir. Então, o movimento de rua é muito bem-vindo", afirmou. "É um movimento que quer mostrar para todos nós, para o presidente, Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, que quem dá o norte para o Brasil é a população." Mas qual população?
Os participantes dos protestos programados para o dia 18 de março, com o lema de Ditadura nunca mais!, com teor claramente contrário ao seu governo?
Os dos atos do dia 14 de março, segundo aniversário da execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, também críticos ao seu governo e às relações de sua família com milicianos?
Os das manifestações deste domingo, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, que denunciam o machismo sobre o qual fez sua carreira?
Eles não são tão brasileiros quanto àqueles que vão às ruas no dia 15?
Bolsonaro, com o discurso deste sábado, se tornou sommelier de povo... Os que concordam com ele e sairão em sua defesa no dia 15 são seu povo escolhido, para quem governa e presta contas. E quem se manifestar em 8, 14 e 18 não é povo, mas estorvo.
Ele certamente dirá que os eventos nesses outros dias não serão espontâneos, mas organizados com o objetivo de criticá-lo – o que é verdade, até porque não existe protesto de massa sem organização. Mas tampouco o evento do dia 15 é um reflexo natural, pelo contrário, vem sendo bombado de dentro do Palácio do Planalto.
Bolsonaro, aliás, foi traído por si mesmo ao ter de frisar, inconscientemente, no discurso que o ato que defende seu governo é um movimento de rua espontâneo, repetindo a expressão duas vezes. Como se quisesse convencer os interlocutores de algo que ele sabe que não se sustenta.
Waldir Ferraz, conselheiro de longa data do Bolsonaro, pede AI-5 e SOLUÇÃO FINAL. Heil, Bozo! |
Hoje, uma imagem pedindo o emparedamento do Congresso passa pelos olhos da maioria de nós, em grupos de WhatsApp, sem a mesma indignação que há alguns anos.
Acabamos nos acostumando a esse tipo de comportamento, muitas vezes sem repudiá-lo ou limitando-nos a fazer beicinho de reprovação. Talvez pelo cansaço diante da insanidade contínua. Talvez pela não percepção de que é uma falácia a afirmação de que a democracia deve aceitar passivamente tudo, inclusive a defesa do fim da democracia.
Com isso, banalizamos a reação diante do ataque às instituições e, portanto, às estruturas que garantem minimamente nossos direitos e liberdades, a ponto dele ter se tornado parte do cotidiano – como um spam ou um daqueles bom dia com memes de gatinhos que os tios mandam no grupo da família.
Dessa forma, algo que deveria ser encarado com extremo desgosto transforma-se em piada por comediantes, entra nos cultos de homens de Deus, torna-se análise de influenciadores em redes sociais.
Ao negar o teor autoritário presente nas convocações do 15 de março, o presidente demonstra todo seu oportunismo e hipocrisia.
Mas ao convidar, publicamente, para elas, também mostra que percebeu que sua incompetência em fazer o país crescer e gerar empregos decentes já foi sentida por uma parte de seus apoiadores, sejam empresários, seja da classe trabalhadora. E precisa distrair a insatisfação.
Mas ao convidar, publicamente, para elas, também mostra que percebeu que sua incompetência em fazer o país crescer e gerar empregos decentes já foi sentida por uma parte de seus apoiadores, sejam empresários, seja da classe trabalhadora. E precisa distrair a insatisfação.
Vale lembrar que a imensa maioria do povão não vai às ruas nos dias 15 ou 18, bem como não foi às ruas nos atos a favor e contra o impeachment anos atrás, porque estava ocupada demais pensando num jeito de sobreviver ao dia seguinte num país com 11,9 milhões de desempregados, quase 41% da população na informalidade (ou seja, sem direitos básicos) e um governo perdido, que teve a brilhante ideia de financiar a contratação de jovens taxando o seguro-desemprego de quem foi mandado embora.
As declarações de Bolsonaro são também um ato de desespero. Diante de uma popularidade baixa, uma economia que derrapa e um rosário de denúncias de corrupção envolvendo sua família e aliados, precisa demonstrar que tem apoio.
Foi para os Estados Unidos colher uma foto para o Instagram com Donald Trump e aposta as fichas em algum ruído vindo das ruas, com a ajuda, p. ex., de uma minoria desmiolada dos caminhoneiros que ama a ideia de golpe.
A dúvida é o que acontecerá se ele perceber que não tem tanto apoio como pensava? Vai parar de atrapalhar e deixar o país se reerguer ou partirá para o tudo ou nada? (por Leonardo Sakamoto)
2 comentários:
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Excelente artigo.
O que derrubou Dilma foi uma retração de mais de 6% do PIB. As versões do PT são sofrências, ou seja, a antiga dor de corno.
BJ está indo pelo mesmo caminho de redução do PIB, mas, ao contrário da nomenclatura estalinista do PT, ainda tem uma porção de gente que irá as ruas por ele.
As contradições se explicitam, os conflitos se agudizam e deve ser tarefa dos políticos fazer com que aconteçam sem destruir o tecido social.
Mas, até isso, a megalomania de Lula destruiu ao aniquilar qualquer outra liderança ou pensamento que destoasse da/do dele.
Cadê o poder de mobilização do partido?
Agora, ele esta em Paris, no bem bom, a rir-se dos naifs que acreditaram nas suas patacoadas.
Assim como rirá BJ, dos kkk que irão as ruas defendê-lo.
Os caras do demais poderes, de rabo preso, agora estão encurralados e, sem ressonância na sociedade, não terão quem os defenda.
Este, Celso, é um jogo de soma zero e só resta a eles (congresso e judiciário) capitular ou, usando o clichê da teoria, serem cooperativos.
Foi assim que Moro pegou o congresso na Lava Jato.
Pura teoria do jogos.
Nunca duvide do Neumman.
Moro e os generais estão por trás disso tudo, é o que parece.
BJ não tem estudo e nem competência para bolar uma estratégia destas que tem tudo para ser bem sucedida.
A conferir.
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P.S. - Já está mais que claro que para governar, ou pertencer ao executivo, deveria ser obrigatório ter mestrado em administração pública, com muitos anos de experiência, começando das bases... seria o requisito mínimo para poder ser candidato.
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O brazil é realmente o país do "samba do crioulo doido".
Um presidente que mamou 28 anos como parlamentar sem nenhum projeto aprovado, que tem 03 filhos parlamentares e um deles acusado de rachadinha, comete crime de responsabilidade ao aderir à convocação do gado pelo fechamento do parlamento.
A situação é a seguinte. O (des)governo bozo-guedes está dando tudo o que o "deus mercado" quer, pau no trabalhador e arrocho na classe média.
Eles, então, tripudiam de tudo e de todos, pois sabem que nem um outro (des)governo conseguiria ser tão fiel à cartilha neoliberal.
Basta lembrar que, nos balanços de 2019, os bancos distribuiram R$ 52 bilhões de dividendos com zero de pagamento de IR. Vejam que delícia para o capital financeiro.
Ora, dessa forma, enquanto não surgir uma esquerda de verdade que não seja essa esquerda cirandeira, identitária, consentida pela rede globo, bozo-guedes vão sapatear na nossa cara.
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