domingo, 16 de fevereiro de 2020

GOEBBELS ESTÁ MAIS VIVO DO QUE NUNCA NO ESGOTO DAS REDES INSOCIÁVEIS

flávia lima
ÀS FAVAS COM A VERDADE
Faz lembrar um western famoso: a boa e digna jornalista...
Ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp foi convocado na 3ª feira (11) a prestar depoimento na comissão parlamentar que investiga a disseminação de notícias falsas na eleição.

Hans River do Nascimento foi fonte de uma reportagem da Folha de S. Paulo, publicada em dezembro de 2018, sobre o uso fraudulento de nomes e CPFs no disparo de mensagens pelo aplicativo. 

Diante de deputados e senadores, Hans River ofereceu informações falsas e fez acusações contra uma das autoras da matéria, Patrícia Campos Mello.

A repórter juntou provas —capturas de tela de conversas, áudios e documentos enviados pelo agressor—e rebateu ponto a ponto as mentiras reproduzidas nas redes sociais.

Desmascarada a mentira, diferentemente do esperado, não houve um recuo nas postagens. O que se viu nas redes sociais foi uma enorme disposição em negar provas e evidências, num grande movimento de manada rumo à desinformação.

...o mau caráter que esfaqueia mulher pelas costas ...
Prevaleceu a tendência a acreditar apenas no que é conveniente —o chamado viés de confirmação, conceito cada vez mais relevante no jornalismo.

Levantamento exclusivo feito pela empresa de análise de dados Bites deixa isso claro.

A Bites analisou posts de deputados federais em seus perfis oficiais no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.

Entre a tarde de 3ª feira (11) e as 18h de 6ª feira (14), os deputados publicaram 9.644 posts, alcançando 11,7 milhões de interações (entre curtidas, retuítes, comentários e compartilhamentos).

Três assuntos sobressaíram, todos de alguma forma ligados ao governo ou à família Bolsonaro: a morte do miliciano Adriano da Nóbrega, a fala do ministro Paulo Guedes sobre viagens de domésticas à Disney e o show de Hans River.

Embora em número de posts os preconceitos destilados por Guedes tenham ficado à frente (372 posts contra 187 da comissão e 122 do miliciano), a performance de Hans River foi imbatível em interações: 873.179 interações nas redes oficiais dos deputados, ou o equivalente a 7% do total do período (contra 460.533 de Guedes e 291.868 do miliciano).
...e o feio (de tão brega!) títere que dá show de cafajestagem 
Em defesa da jornalista, 37 deputados publicaram 127 posts com 113.757 interações—defesa feita pelo PT e legendas próximas, ressalvadas algumas exceções. 

No campo dos apoiadores das declarações de Hans River contra a repórter, apenas sete deputados produziram 60 posts que alcançaram assombrosas 759.422 interações, ou quase sete vezes mais que o movimento de defesa.

Das 60 publicações dos sete deputados, 23 partiram da conta de Eduardo Bolsonaro. Sozinho, o filho do presidente alcançou 50% das interações contrárias à jornalista.

Performances como as criadas por Hans River reforçam convicções e animam a tropa virtual a continuar o processo difamatório nas redes. Não há o que os faça parar porque a verdade—e aqui não estou falando de grandes questões filosóficas, mas do que aconteceu ou não—não importa.

Por trás disso, há método. A confusão é armada para criar um ambiente em que tudo vira uma versão e cada um pode escolher a sua. E, se algo der errado, há sempre a possibilidade de dizer que não foi aquilo que foi dito, que houve má interpretação dos fatos ou que não foi dito o que foi dito. (por Flãvia Lima, ombudsman da Folha de S. Paulo).

Toque do editor: este blog e respectiva equipe reiteram a solidariedade à Patrícia Campos Mello e expressam seu repúdio à ralé fascista que tenta intimidar a imprensa com as mais repulsivas grosserias. 

Parafraseando Oscar Wilde, tais ataques, extremamente ignóbeis e covardes, apenas revelam quão abalado Calibã fica quando vê sua imagem horrorosa no espelho. 

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