segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

WEINTRAUB É O MINISTRO INCAPAZ DE TODO DE UM PRESIDENTE CAPAZ DE TUDO

josias de souza
FIASCO DA EDUCAÇÃO TEM
 AS DIGITAIS DE BOLSONARO
O que é um fenômeno? 

Um ministro inepto não é um fenômeno. O ministério da Educação não é um fenômeno. Um presidente sem freios não é um fenômeno. Fenômeno é um ministro como Abraham Weintraub, incapaz de todo, ser mantido na pasta da Educação por um presidente como Jair Bolsonaro, capaz de tudo. 

Não fica bem pensar mal de Weintraub e usar luvas de renda para falar de Bolsonaro. Ao veicular nas redes sociais um novo vídeo estrelado por seu ministro, o presidente reforçou a sensação de que o grande problema do MEC não é o comandante da pasta, mas o chefe dele. 

No vídeo trombeteado por Bolsonaro, o ministro sustenta sua tese predileta. A tese de que a administração pública é um ninho de esquerdistas. Atribui a hipotética anomalia ao viés ideológico dos concursos públicos. Citou como exemplo um teste da Agência Brasileira de Inteligência: 
"Entre na internet e veja como foi o último concurso público da Abin. Se você ver, é um concurso que tem praticamente nada de matemática e está lá falando governo estado-unidense.  
Então você, na seleção, já seleciona pessoas com viés de esquerda nos concursos, como é o Enem".
Cada ideologia tem a inquisição que merece. Mas o ministro precisa explicar em que sílaba se esconde o esquerdismo nos meandros do termo estado-unidense, um inofensivo sinônimo de americano (*). Do contrário, esmagará os calos do general Augusto Heleno, superior hierárquico da Abin com a ajuda do capitão. 

Um chefe que se cerca de ministros tantãs imagina garantir, por contraste, uma aparência de sensato. Mas Bolsonaro exagera no MEC. 

Ali, o capitão é reincidente. Antes Weintraub, nomeara Vélez Rodrigues, uma piada colombiana. No alvorecer do segundo ano de governo, já não é mais possível terceirizar todas as culpas. 

Ao endossar reiteradamente a esquizofrenia de Weintraub, Bolsonaro não deixa margem para qualquer tipo de dúvida. O fiasco da Educação tem as digitais do presidente da República. Pior do que a patrulha ideológica só mesmo a picaretagem ideológica. (por Josias de Souza)
.
* Não é bem assim. O termo americano tem o pequeno inconveniente de poder igualmente ser reivindicado por outros 34 países e 16 colônias. Então, nenhum deles tem o direito de se considerar a América, como fazem arrogantemente os estadunidenses.

O mesmo raciocínio se aplica a norte-americano, pois também o são os canadenses, os mexicanos e os nascidos em dependências europeias como a Groelândia e as Bermudas.

Então, o certo é mesmo estadunidense (e não estado-unidense, viu, Weintraub?!), não por viés ideológico, mas porque viraria um samba do crioulo doido se os franceses começassem a se intitular a Europa e os vietnamitas, a Ásia... (o editor)

4 comentários:

Henrique Nascimento disse...

Cada língua tem as suas particularidades. Para eles, os nativos da língua inglesa, sejam os canadenses, australianos, britânicos etc, um cidadão nascido nos Estados Unidos é um "American", simplesmente porque não existe dentro da língua inglesa uma forma análoga àquilo que nós (latinos) podemos chamar de "estadunidense", pois nossas línguas assim permitem. Portanto, não é questão de arrogância, mas de semântica.

celsolungaretti disse...

O país deles se chama United States of America, mas eles aludem ao dito cujo, simplesmente, como America. America isto, America aquilo, America First, etc. Se isto não é arrogância, a palavra mudou de significado.

E a discussão não é como eles devem chamar a si próprios, mas sim sobre como nós, brasileiros, devemos chamá-los. Não podemos aceitar que eles se designem pelo nome do nosso continente, como se fôssemos mesmo quintal dos EUA. [Talvez até o sejamos, mas passarmos recibo seria indignidade demais.]

Para nós eles continuam sendo um entre 35 países do continente americano e um entre três nações da América do Norte. E é assim que os devemos tratar, sem o puxa-saquismo explícito dos Weintraub da vida.

Henrique Nascimento disse...

Concordo. "Americano" para nós deveria ter um significado mais amplo - pessoas que habitam um continente hoje denominado América. Da mesma forma que os "ameríndios", cujo significado é a denominação ampla dos povos que habitavam toda a América antes da chegada dos portugueses, espanhóis, britânicos e franceses.

O problema é que, somente aqui no Brasil, temos uma cultura antiga de "aportuguesar" palavras de origem inglesa. Há vários exemplos e "American" é uma delas, a qual é traduzida literalmente para americano(a). Diferente daqui, os países de língua espanhola, nossos vizinhos, sempre referiram-se a eles como "estadunidendes".

celsolungaretti disse...

Às vezes eu me sinto um como um estranho numa terra estranha.

Ontem, ao pedir um pastel de feira, de carne com cheddar, a senhora que me atendia corrigiu minha pronúncia de cheddar.

Logo em seguida, vi numa loja da galeria qualquer coisa sobre pets, termo que os macaquitos daqui adotaram unanimemente, substituindo "mascotes", "bichos de estimação" e outras opções existentes em nosso idioma.

Assim como lojas chiques não anunciam mais promoções ou ofertas, mas "tanto por cento off". Fiquei me lembrando do velho panfleto nacionalista, "Um dia na vida do Brasilino".

Mas, minha ojeriza não começou por motivos políticos ou ideológicos, a coisa vem de quando eu tinha 11 ou 12 anos. Certa noite, nós todos, alunos do ginásio, descemos à quadra de basquete para escutar alguns visitantes da Aliança para o Progresso. Minha impressão deles foi péssima.

Usavam calças bege com bainhas de uns 10 centímetros e um cinto grosso; camisa brancas de manga curta; cabelos bem curtos; e tinham caras de "bebê Johnson", como o John Kennedy.

Fiquei com o saco cheio de estar lá, de pé, ouvindo eles enumerarem as esmolas que davam a nós, bugres. E, com suas roupas conservadoras num período que as nossas começavam a ser descontraídas, pareciam-me ainda mais adultos que não haviam crescido.

Quando entrara no ginásio, em 1962, o primeiro acontecimento marcante havia sido uma greve dos alunos que trabalhavam durante o dia, contra a diretora que queria impor-lhes o uso do uniforme escolar à noite. Chegaram a bloquear a avenida num sentido, obrigando os carros a pegarem ruas laterais. Acabaram vencendo e sendo isentados da chatice.

E o sotaque horroroso com que eles falavam o português me marcou. Desde então, pelo resto da vida, resistir a tentar imitar sotaque de gringos, sejam eles estadunidenses ou mesmo dos hermanos. Na minha terra, falo as palavras estrangeiras como as leio, não dou a mínima para a fala original, assim como eles também nunca conseguem pronunciar nossas palavras como nós. Por que deveria dar-lhes tratamento diferente do que eles nos dão?

Hoje, infelizmente, os brasileiros voltaram a ser tão deslumbrados e macaquitos em relação aos estadunidenses como eram na década de 1950. Parece que os anos 60 foram apagados da História.

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