sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

CESARE BATTISTI: O PREÇO DO REPOUSO DO GUERREIRO FOI TER SACRIFICADO SUA REPUTAÇÃO. VALEU A PENA?

lucas ferraz
ISOLADO NA PRISÃO, BATTISTI ACUMULA DERROTAS NA JUSTIÇA ITALIANA
E TENTA CONTATO 
COM O FILHO 
Isolado num presídio de segurança máxima na ilha da Sardenha, Cesare Battisti, 65, não parece ter um futuro promissor.

Como afirmou à Folha de S. Paulo seu advogado italiano, Davide Steccanella, ele precisa esperar “dois ou três anos” para então solicitar uma eventual progressão da pena de prisão perpétua. O defensor não esconde que, para alguém que fugiu por tanto tempo, as chances são escassas.

Nesse primeiro ano [de prisão, após ser traído e entregue à Itália por Evo Morales (o editor)] , a defesa de Battisti não teve êxito nos dois pedidos apresentados à Justiça para tentar converter a prisão perpétua numa pena de 30 anos, como prevê o acordo de extradição brasileiro decidido pelo Supremo Tribunal Federal em 2009.

Em novembro, a Suprema Corte italiana declarou “inadmissível” o recurso apresentado pela defesa ao considerar inválido o acordo de extradição com o Brasil. Isso porque Battisti fugiu do país e foi expulso da Bolívia.

“Para alguém de 65 anos, não muda se pegar 30 anos ou a prisão perpétua”, minimiza o advogado, que é especializado nos anos de chumbo italianos. 
No presídio sardo Cesare pode escrever livros e receber visitas

Curiosamente, seu escritório em Milão fica na rua Cesare Battisti (esse homônimo famoso do seu cliente foi um jornalista e político assassinado na 1ª Guerra Mundial, hoje com status de herói nacional).

Ele conta ter conhecido Battisti pela internet, na época em que o ex-terrorista estava no Brasil, antes das reviravoltas impulsionadas pelos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro.

O direito à progressão da pena depende de muitos fatores. Os condenados à prisão perpétua devem cumprir pelo menos dez anos para poder requisitar a revisão. Steccanella quer usar o tempo que ele passou detido no Brasil (mais de quatro anos) e na Itália (entre 1979 e 1981).

Antes, o defensor espera que as autoridades liberem o italiano para poder conversar com o filho brasileiro por Skype. O pedido foi apresentado recentemente e aguarda deliberação. Ele prefere que a criança o veja, o que considera menos traumático para ela.

Sem o cavanhaque exibido quando foi preso, Battisti continua isolado após passar os primeiros seis meses numa solitária. A penitenciária, que abriga criminosos relacionados com a máfia, controla o convívio dos detentos de acordo com uma certa classificação –como não encontrou nenhum outro preso na sua condição, ele segue sozinho. 

Os familiares italianos o visitam com frequência. Um sobrinho contou recentemente numa entrevista que o tio estava sereno e bem de saúde, o que o advogado confirma.
O advogado Steccanella tem escritório na rua Cesare Battisti

Steccanella ressalta que deseja mantê-lo longe das hostes midiáticas, sobretudo após o que chamou de circo, referindo-se à recepção armada ano passado pelo então ministro do Interior, Matteo Salvini (...), que esperava por Battisti na pista do aeroporto e pediu que ele ficasse preso “pelo resto dos seus dias”.

Em março, em audiência com um juiz, Battisti admitiu pela primeira vez participação nos assassinatos. Steccanella não comenta se a confissão faz parte de uma estratégia de defesa [a informação da qual o blog dispõe é a de ele ter sido chantageado pelas autoridades italianas, que só assim consentiriam no cumprimento da pena em condições civilizadas (o editor)]. Meses mais tarde, em setembro, o ex-terrorista divulgou uma carta aos ex-companheiros de armas reconhecendo que a “luta armada não valeu a pena”.

Um dos efeitos do seu retorno à Itália foi o reenvio por parte de Roma de um pedido para o governo francês extraditar 13 italianos condenados por terrorismo.

Eles estão refugiados há décadas no país, como aconteceu com Battisti. Entre os que permanecem na França estão nomes como Marina Petrella, condenada à prisão perpétua por participação no sequestro e assassinato do ex-primeiro-ministro italiano Aldo Moro, em 1978. (principais trechos de reportagem desta 6ª feira, 10, de Lucas Ferraz, diretamente de Roma, para a Folha de S. Paulo)

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