josias de souza
SE TRUMP PULAR NO PRECIPÍCIO, BOLSONARO VAI JUNTO
"Mais perdido do que capacho em tiroteio!", diz Trump |
A decisão de Donald Trump de assassinar o general iraniano Qassem Soleimani dividiu o povo americano, contrariou líderes das principais potências do mundo, inquietou os mercados e eletrificou o Oriente Médio.
Mas Jair Bolsonaro achou que seria uma boa ideia ignorar princípios da diplomacia brasileira, desprezar o interesse nacional, subverter a lógica e apoiar a ordem de Trump.
Ao endossar nota em que o Itamaraty tratou a execução de Soleimani como ato de luta contra o "flagelo do terrorismo", Bolsonaro empurrou o Brasil para dentro de um conflito alheio.
A Chancelaria do Irã cobrou explicações à embaixada brasileira em Teerã. Como o embaixador Rodrigo Azeredo está em férias, coube à encarregada de negócios da embaixada, Maria Cristina Lopes, arrostar o constrangimento de explicar-se no Ministério das Relações Exteriores iraniano. Tudo "dentro da usual prática diplomática", declarou o Itamaraty. Será?
Afora a ginástica que o governo realiza para atenuar os efeitos de um inevitável reajuste no preço dos combustíveis, a pasta da Agricultura receia que a tensão provoque prejuízos para o agronegócio brasileiro, grande exportador de grãos e carnes para o Irã.
No ano passado, as transações resultaram num superávit de US$ 2 bilhões para a balança comercial brasileira. Nada que impressione Bolsonaro e seu antichanceler Ernesto Araújo.
No ano passado, as transações resultaram num superávit de US$ 2 bilhões para a balança comercial brasileira. Nada que impressione Bolsonaro e seu antichanceler Ernesto Araújo.
Considerando-se o teor da nota divulgada pelo Itamaraty nas pegadas da ação militar americana, Bolsonaro e Araújo concluíram que "o Brasil não pode ficar indiferente a essa ameaça" terrorista que Trump enxerga no Irã. Uma ameaça que "afeta inclusive a América do Sul".
A última investida atribuída a iranianos por estas bandas foi o atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina, a Amia, em Buenos Aires. Deu-se há mais de duas décadas, em julho de 1994. Não há vestígio de ameaças contemporâneas. Mas o governo brasileiro parece decidido a celebrar uma aliança preferencial com o mau agouro.
De acordo com pesquisa de opinião divulgada nesta 2ª feira (6) nos Estados Unidos, a maioria dos americanos (57%) acredita que o risco de uma guerra com o Irã aumentou. Apenas 8% acham que o ataque reduzirá as tensões. Mas Bolsonaro continua 100% fechado com Trump.
Sob o impacto das cenas produzidas pela multidão que foi às ruas de Teerã para cultuar o cadáver de Soleimani e exigir vingança, países como França e Alemanha muniram-se de baldes de água fria. A própria Grã-Bretanha, aliada tradicional da Casa Branca, pediu moderação. A União Europeia convocou os líderes do bloco para uma reunião na 6ª feira. Alheio à movimentação, Bolsonaro não se deu por achado.
Em essência, a morte do general iraniano Qassem Soleimani em território iraquiano não contemplou nem os interesses do próprio Trump.
Em essência, a morte do general iraniano Qassem Soleimani em território iraquiano não contemplou nem os interesses do próprio Trump.
— fazia troça de um pedido de impeachment fadado ao arquivo;
— asfixiava o regime de Teerã com sanções econômicas draconianas;
— lustrava a promessa de reduzir as tropas americanas no Oriente Médio; e
— celebrava indicadores da economia doméstica cuja pujança dava à sua reeleição uma aparência de triunfo esperando para acontecer.
Hoje, Trump:
— convive com a ameaça de aprovação na Câmara de um projeto limitando sua autonomia para exercitar o papel de xerife do mundo;
— assiste ao movimento que transforma os protestos contra o regime de Teerã numa erupção nacionalista antiamericana; e
— convive com a ameaça de aprovação na Câmara de um projeto limitando sua autonomia para exercitar o papel de xerife do mundo;
— assiste ao movimento que transforma os protestos contra o regime de Teerã numa erupção nacionalista antiamericana; e
— cutuca a sociedade americana com o pé ao substituir a promessa de desmobilizar as tropas pelo reforço da presença militar na região.
Tudo isso em meio a uma ameaça de guerra que, se deflagrada, colocaria em risco uma reeleição com cara de jogo jogado.
Noutros tempos, a experiente e respeitada diplomacia da Casa de Rio Branco teria entrado em cena apenas para exercitar o pragmatismo que permitia ao Brasil atravessar as crises externas administrando os prejuízos sem perder o rumo.
Sob Bolsonaro, a bússola do Itamaraty foi substituída pela ideologia e pelo personalismo. O capitão apoia Trump até no erro.
Se o presidente americano decidir saltar num precipício, Bolsonaro decerto concluirá que político, quando é evoluído, cria asas. E pulará junto, batendo freneticamente as mãozinhas enquanto repete seu mantra predileto: "Eu amo Trump". (por Josias de Souza)
2 comentários:
A propósito, será que agora a "ditabranda" da folha virou uma imundície ?
https://bit.ly/2tF3U9W
Eu até pensei em trazer para o blog esse artigo do Celso Rocha de Barros, mas depois refleti melhor: seu objetivo é convencer os caciques da Fiesp de que não devem aderir ao bolsonarismo, conforme o Skaf está fazendo.
Ora, como homem de esquerda, o meu papel é convencer os explorados de que devem resistir ao bolsonarismo e tentar superar o capitalismo (que foi quem botou esse bode na sala e, enquanto não o derrubarmos, estará pronto para empossar outros bodes quando nos livrarmos do caprino ignaro atual).
Então, pouco se me dá que a Fiesp chafurde ou não nesse chiqueiro. Sigo a palavra de Cristo: "deixai os mortos enterrarem seus mortos".
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