quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

12 DE DEZEMBRO DE 1969: OS NEOFASCISTAS ITALIANOS COMETEM O PRIMEIRO DOS SEUS GRANDES ATENTADOS TERRORISTAS – 1

O
s anos de chumbo, na Itália, inscrevem-se num contexto internacional em que, do México à França, passando pela Checoslováquia, milhões de pessoas manifestam contra o autoritarismo e procuram construir um mundo ideal de liberdade e de justiça.

A América Latina pagará muito caro esta sede de liberdade. Os sucessivos golpes de Estado fomentados pelos EUA para extirpar os movimentos que prejudicavam os seus interesses seriam apoiados pelos países da Otan, e a França. 

Estratégia do terror, tortura, desaparecimentos e eliminação sistemática dos oponentes foram então erigidos em método de governo. 

A Europa não escapou a este processo; e a Itália, sem dúvida, menos ainda que os outros países.

Aí está porque é necessário recordarmos que, precisamente, a chamada estratégia de tensão, bem como os riscos de golpe de Estado fascista, tomaram corpo naquele país, conforme testemunham os atentados e massacres perpetrados pelo grupo Loja P2, os círculos fascistas e os serviços de informação italianos. O saldo dos anos de chumbo italianos, quanto a atentados terroristas, foi de 140 perpetrados até 1974.

Piazza Fontana (1969 – 17 mortos, 88 feridos), Brescia (1974 – 8 mortos, 94 feridos), Bolonha (1980 – 85 mortos, 200 feridos) são os atentados mais notáveis desse período, mas estão longe de ser os únicos.

No decreto de novembro de 1995, O tribunal supremo italiano revelou a existencia de uma vasta associação subversiva composta: 
— de uma parte, por elementos provenientes de movimentos neofascistas dissolvidos, como Paolo Signorelli, Massimiliano Fachini, Stefano Delle Chiaie, Adriano Tilgher, Maurizio Giorgi e Marco Ballan; e, 
— por outra parte, Licio Gelli (chefe do grupo Loja P2); Francesco Pazienza, o colaborador do diretor geral do serviço de informação militar Sismi; e dois outros oficiais do serviço, o general Pietro Musumeci e o coronel Giuseppe Belmont.

É nesse contexto que mais de 400 organizações estruturaram-se para lutar contra o neofascismo; e que dezenas de milhares de italianos foram às ruas e atacaram tais milícias. Milhares de opositores do neofascismo foram condenados a seculos de prisão.

Sustentar-se hoje que estas condenações não se inscreveram num contexto político e que foram decretadas apenas contra qualquer malfeitor sem fé nem lei, revela simplesmente uma negação da realidade. Ou, mais precisamente, um disfarce da História, que serve para ocultar as razões pelas quais, ainda hoje, o risco neofascista persiste na Itália.
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Toque do editor — Os parágrafos acima foram extraídos de um abaixo-assinado que em agosto de 2009 o Comitê de Solidariedade a Cesare Battisti fez chegar às mãos dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Continua tão atual que faz todo sentido reproduzi-lo quando o atentado da Piazza Fontana completa meio século.

Naquele dia, uma bomba mandou pelos ares o Banco Nacional da Agricultura, sediado na Piazza Fontana, centro de Milão; outras três explodiram noutros locais, causando ferimentos em 17 pessoas; e uma quinta foi encontrada intacta. 

Foram cinco atentados numa mesma tarde, nas duas maiores cidades italianas, Roma e Milão. Os quatro consumados ocorreram num período de apenas 53 minutos. 

O quinto, estranhamente, teve a bomba logo explodida pela própria polícia, após rápidas investigações que em nada a ajudaram a encontrar pistas dos autores.

Daí a sofreguidão com que os neofascistas caçaram Cesare Battisti em dois continentes, torrando rios de euros e cometendo um rosário de ilegalidades (inclusive renegando o solene compromisso assumido com o Brasil de reduzir sua dantesca pena de prisão perpétua para um máximo de 30 anos). 

Era necessário encarcerá-lo ou eliminá-lo de qualquer jeito, para calar a voz de um escritor que fazia o mundo inteiro recordar aquilo que os neofascistas tanto ansiavam por ver esquecido: que eles próprios, apesar de responsáveis por grandes atentados terroristas, foram tratados pela Justiça e pelo Estado italiano com rigor incomparavel e inexplicavelmente menor do que os ativistas da esquerda. (por Celso Lungaretti)
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TERRORISTAS – 2 (clique p/ abrir)

Canto nomade per un prigioniero politico, um 
comovente tributo aos perseguidos políticos italianos. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Celso, vc sabia que funcionários de uma obra encontraram 6 ossadas durante a escavação? Tal obra fica num terreno q dá de fundos pro antigo DOI-Codi da rua Tutoia e era garagem do Doi antigamente. Imprensa foi mal recebida no local pelo delegado, cheirando a abafamento.

celsolungaretti disse...

Ignorava. Mas, com o Dória no Palácio dos Bandeirantes, só por milagre isso seria apurado de verdade. Abs.

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