sábado, 31 de agosto de 2019

PRESIDENTE OFENDE ATÉ A SOMBRA

Uma mulher notável...
Um seguidor de Jair Bolsonaro comparou a primeira-dama Brigitte, com 25 anos a mais do que Emmanuel Macron, à Michelle, que tem 27 anos menos do que o presidente brasileiro e é a sua terceira esposa.

Fez a comparação valendo-se de fotos de cada uma com os respectivos maridos. E publicou: “Entende agora por que Macron persegue Bolsonaro?” E o presidente que nos envergonha continuamente respondeu: “Não humilha, cara. Kkkkkkk”.

Não é preciso dizer que a imprensa estrangeira ficou indignada e o acusou de sexismo. Neste caso, foi discriminação contra uma mulher idosa. 

Vale lembrar que Emmanuel fez o possível e o impossível para se casar com Brigitte, que ele conheceu aos 15 anos, em Amiens, norte da França. Ela era a sua professora de francês e latim. Além de ensinar, animava um grupo de teatro, do qual ele participou. Os dois montaram uma peça juntos, e a história de amor começou.

Os familiares eram contrários à relação. Além de mais velha, Brigitte era casada e mãe de três filhos. Os rumores não paravam, mas a afeição era profunda. Só deixaram de se ver quando Emmanuel foi terminar os estudos em Paris. 

Em 2006, ela finalmente se divorciou. Emmanuel pediu a sua mão, dizendo: “Aconteça o que acontecer, vou casar com você”. Um ano depois, o casamento foi oficializado no civil. 

...e um homem abominável.
Com o seu ridículo Kkkkkkk, Bolsonaro desqualificou o amor e fez a apologia da beleza, que é passageira. Deu a entender, com o seu humor negro, que não é a qualidade da mulher, mas o físico que importa. 

Após ter facilitado os incêndios na Amazônia, acendeu uma fogueira para as idosas, exercitando-se na sua especialidade: a exclusão. 

Macron reagiu ao Kkkkkkk. Disse que, por ser presidente da França, ele não ofende os de outros países. Acrescentou que tem grande consideração pelos brasileiros e espera que logo tenham um presidente digno. 

Como o fogo na Amazônia, o panelaço se espraiou pelo Brasil e pelo mundo… Bolsonaro ofendeu todas as mulheres, das recém-nascidas às que um dia serão idosas. Na sua insensatez, ofendeu também a mãe.
Macaco, olha o teu rabo!

A entrevista de Macron após o encontro do G7 mostra que é uma sorte ter no mundo um político como ele. Foi capaz de fechar o evento com Donald Trump, que prometeu aderir ao tratado do clima e negociar com o Irã para evitar a guerra. 

Um chefe de Estado que não sabe o peso das palavras e se vale de brincadeiras —que pode ser um recurso civilizatório— para ofender o próximo não é digno do cargo. Ao injuriar Brigitte Macron, Bolsonaro injuriou todas as mulheres. 

Tão lamentável quanto ter dito, no passado, que as mulheres só devem ser violadas se forem bonitas e devem ganhar menos porque engravidam.

Até quando será necessário aceitar, no Brasil, um presidente que usa a palavra mais do que indevidamente e abusa de seu cargo, fazendo pouco dos que o elegeram? Até quando seremos vítimas do seu Kkkkkkk perverso? 

Depois de ter-se ridicularizado em Davos, na Suíça, Bolsonaro se ridicularizou em Biarritz, na França. (por Betty Milan)
.
Toque do editor: eu considerava que este assunto já dera o que tinha para dar até ler este ótimo artigo da escritora e psicanalista Betty Milan. Porém, houve um motivo a mais para eu decidir disponibilizá-lo aos leitores do blog.

É que, ao ser libertado das prisões militares nos anos de chumbo, fui juntar os cacos numa comunidade alternativa, convidado por um amigo e colega de colégio que atuara ao meu lado no movimento estudantil. E lá conheci um estranho casal, ambos na faixa de uns vinte e poucos anos.

A I, no entanto, tinha uma rara doença que a fazia envelhecer rapidamente, então já aparentava ser mãe do S. O que não os impedia de se amarem muito. Tanto que chegavam a me comover.

Com o fim da comunidade, distanciamo-nos. Uns 15 anos depois, encontrei o S num ponto de ônibus. Estava com um namorado e ficou visivelmente sem graça.

A chegada do ônibus me livrou de uma  situação constrangedora e nem cheguei a perguntar-lhe o que acontecera com a I, mas era óbvio que o envelhecimento acelerado acabara detonando a relação (caso ainda estivesse viva, ela pareceria uma anciã). 

O destino foi sábio quando dotou o Jair de um sobrenome que, aplicado a ele, imediatamente nos faz lembrar o adjetivo ignaro. (por Celso Lungaretti)

2 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia Celso, tudo bem?

Uauuuuu, que inveja do Macron,
Quem bom seria, se todas as gozações, se resumissem a isso,
ser "alvo", tendo alguém como Brigitte ( nome de Musa ), ao lado.

O mais patético, está no fato de pessoas acharem que é demérito,
ser casado, com a beldade, que passa imagem de elegante, e comunicativa,
pela simples imagem.
Creio que os "piadistas", acabam se tornando a própria piada,
sem sem se dar conta, não é verdade?!

Por coincidência, eu tinha curiosidade
em saber de onde vinha esta expressão.

Um abraço, do Hebert.

celsolungaretti disse...

Ignoro a origem, Hebert.

Mas, me vira o estômago constatar que existe gente capaz desprezar dessa maneira uma mulher, ainda mais uma que leva todo jeito de ser boa pessoa.

Um dos grandes arrependimentos na minha vida, que me incomoda até hoje, foi o de ter contribuído para as gozações que meus colegas de ginásio fizeram desde que conheceram a nova professora de Português, uma bela moça negra.

Não eram ofensas racistas propriamente ditas, mas sim um tratamento pejorativo, fazendo-lhe perguntas óbvias, tratando-a como se não estivesse à altura do cargo, coisas assim.

Como era período noturno, eu, que tinha 12 anos, me sentia um tanto inferior à maioria dos colegas, que eram mais velhos e já trabalhavam. Então, para não destoar deles, também colaborei com aquilo, poucas vezes e sem entusiasmo. Sabendo que agia de modo errado.

Depois de alguns dias, ela cansou de não ser levada a sério e desistiu de lecionar na nossa escola. E aí fiquei cheio de remorsos, pois não imaginara que a coisa teria consequências tão drásticas.

Decidi que nunca mais na minha vida me comportaria como um cafajeste só para obter a aprovação do grupo.

Ao ver marmanjos se referindo de maneira tão torpe à Brigitte, lembrei-me desse episódio.

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