sexta-feira, 12 de julho de 2019

REFORMA DA PREVIDÊNCIA: BOLSONARO NÃO SÓ CHAFURDA NA ÁGUA SUJA, COMO AINDA FAZ MAROLA...

vinícius torres freire
BOLSONARO AGE COMO SINDICALISTA E SABOTA REFORMA, SEU GOVERNO E A ECONOMIA
A cada vez que parece haver progresso de um plano racional qualquer de governo, Jair Bolsonaro nos relembra de que não habitamos mais o universo da razão, nem mesmo o da realpolitik. Goste-se ou não do plano, uma ideia que faça sentido será vítima da artilharia desvairada do presidente.

Os tiros são dados durante as folgas da atividade principal de Bolsonaro. Na sua faina diária, o presidente ocupa-se mesmo é de ninharias, como mudar o formulário de requisição de passaportes, ou de enormidades e outros ataques contra a República, como a tentativa reiterada de nomear filhos para altos cargos ou de fazer da religião um assunto de Estado.

Bolsonaro plantou bombas de efeito retardado na reforma da Previdência. Como o sindicalista paroquial que sempre foi, atacou o projeto do próprio governo a fim de beneficiar ainda mais a categoria de policiais e assemelhados, como se sabe. A bomba explodiu e abriu buracos por onde entram as tropas de outros lobbies.

A discussão de destaques e emendas da reforma começou apenas na noite desta 5ª feira (11), quando eram escritas estas linhas, e iria até a madrugada. Mas afora mágicas e milagres, a reforma sairá ainda menor.

Para começar, deste modo Bolsonaro dinamita os planos de seu próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, que ainda têm ou tinha ambições grandiosas de continuar a reforma previdenciária, insistindo no problemático ou talvez desastroso projeto de capitalização (criar um regime de poupança previdenciária com contas individuais).

Sem contenção grande de despesas no sistema previdenciário atual (de repartição), haveria ainda menos dinheiro para bancar a temeridade da capitalização. Há quem diga melhor assim, que a capitalização vá de vez para o vinagre. Mas não é essa a questão aqui. Nota-se apenas que Bolsonaro desautoriza e desmoraliza seus próprios economistas.

A sabotagem da reforma da Previdência tende a criar problemas políticos e econômicos que prejudicam o próprio governo, é óbvio, para nem falar do país. Uma reforma mais fraca piora as perspectivas das contas públicas. Problema remoto? Não e não apenas.

A depredação da reforma cria mais incerteza sobre o que será do governo daqui em diante. Abala a confiança na possibilidade de alguma recuperação econômica. Sim, ainda lidamos com o mesmo presidente que quis bulir com preço de combustível e estatais.

Na complicadíssima e conflitiva reforma tributária, Bolsonaro vai vestir também a camisa de algum lobby setorial? Como vai se comportar na reforma de salários e carreiras da administração pública?

O presidente já deu indícios do que é capaz ao fazer promessas de benefícios para igrejas, policiais e militares. Vai prejudicar outras reformas com a desmoralização de qualquer ideia de interesse geral e nacional?

Bolsonaro ignora os assuntos da administração pública, mas havia a ficção de que poderia ser contido por conselheiros técnicos e políticos. Sim, fantasia, vide o estrago que ele e seu partido fizeram na reforma previdenciária.

Apesar da festinha financeira na praça do mercado, convém notar que a economia ainda balança no fio que paira sobre o buraco de nova recessão. 

O crescimento anual da indústria é atualmente nulo, o varejo cresce apenas ao ritmo de 1,3% ao ano, soube-se nesta 5ª feira, e o setor de serviços pouco menos do que isso.

A água suja está pelos nossos narizes. Bolsonaro ainda chafurda e faz marola. (por Vinícius Torres Freire)

4 comentários:

Anônimo disse...

CL,
Desculpe-me, mas você posta um texto de um pena de aluguel que reproduz a voz do patrão ao se referir à "sabotagem da reforma da previdência pelo bozo"...

Que sabotagem? Uma reforma que não foi debatida com os trabalhadores e simplesmente suprime direitos. Vai gerar miséria, retrocesso e aumentar a desigualdade...

O povo brasileiro está parecendo mulher de malandro, "bate mais que eu gosto"...

Vandeco disse...

Concordo com o artigo. No entanto pergunto: O que a esquerda tem oferecido para melhorar essa situação? A esquerda não está apresentando nada de bom e que concretamente melhorasse o que está sendo proposto. A dita esquerda só sabe falar em Lula Livre, sabendo de antemão que ele tem mais 10 processo para responder. Não é essa esquerda que eu esperava que o Brasil tivesse. Pobre Brasil!

celsolungaretti disse...

Anônimo das 21h47,

a reforma da Previdência produzirá efeitos lá longe e o Bolsonaro é nosso grande problema aqui e agora. A análise que o Vinícius Torres Freire faz do desgoverno do Bozo, no meu entender, é mil vezes mais importante do que essa reforma da Previdência.

Por que? Porque de nada adianta defendermos algo totalmente inviável, como a Previdência atual. Esqueça o lero-lero falacioso do PT. Em termos capitalistas, segundo as regras atuais, a receita jamais baterá com a despesa.

E os remendos que estão tentando fazer também de nada servirão. Pensam que a economia vai voltar a crescer se a reforma for aprovada, mas o Dalton Rosado já publicou aqui pelo menos uma dúzia de artigos provando que não. E muitos outros articulistas, em muitos outros espaços, fizeram o mesmo.

A ÚNICA SOLUÇÃO POSSÍVEL PARA OS IDOSOS SEREM TRATADOS COMO VERDADEIROS SERES HUMANOS É A SUPERAÇÃO DO CAPITALISMO!!! Aí os recursos a eles destinados não dependerão de receitas orçamentárias. Passarão a ser encarados como uma OBRIGAÇÃO da sociedade para com seus integrantes (assim como a assistência às crianças, a medicina gratuita para todos, a educação universal, etc., etc.).

Se você suprimir o lucro e todas as atividades parasitárias desenvolvidas em função dele, assim como toda a produção de inutilidades para atender a minorias de privilegiados, a humanidade tem condições mais do que suficientes para assegurar uma sobrevivência digna a cada um de seus integrantes.

ISTO é o que a esquerda tem de voltar a propor. Não ficar defendendo o que não se sustenta em pé e perdendo batalha após batalha, como perderá inevitavelmente também a atual. Defender mecanismos capitalistas obsoletos é uma tremenda idiotice. Temos é de defender bandeiras que vão ALÉM do capitalismo, pois essas sim nos conduzirão aonde queremos chegar.

celsolungaretti disse...

Vandeco,

a resposta ao anônimo acaba valendo também para você. A esquerda não tem mesmo nada a propor no quadro atual, porque nenhuma Previdência vai realmente atender às necessidades dos idosos sob o capitalismo.

Não considero que a função da esquerda seja ficar discutindo meros paliativos. O capitalismo é a própria essência da desumanidade e à esquerda compete acabar com a desumanidade, não avalizá-la.

Ou a esquerda volta a ser revolucionária ou continuará sendo isso aí que estamos vendo, figurante menor na farsa capitalista, perdendo tempo com os castelos de areia que um mercador de ilusões (Guedes) tenta erguer e que inevitavelmente desabarão com a grande crise do capitalismo que se aproxima cada vez mais.

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