SUPERSTIÇÃO, FANATISMO, MILAGRE
A religiosidade exuberante do Brasil sempre despertou interesse de artistas, intelectuais e políticos. O pagador de promessas (Anselmo Duarte, 1962) e Deus e o diabo na terra do sol (Glauber Rocha, 1964) são dois dos filmes brasileiros de maior prestígio internacional.
A Flip celebra Euclides da Cunha, escritor de Os sertões (1902), obra magnífica sobre o extermínio de Canudos. Além de Antônio Conselheiro, morto em 1897, outros beatos desgarrados reinaram em diferentes sertões, reprimidos com mais ou menos rigor, conforme a dimensão de seus desatinos.
Ao longo do tempo, sebastianismo, charlatanismo e imoralidade, assim como desvios de conduta ou de dinheiro, mobilizam a atenção de autoridades. João de Deus, padres, pastores e pais de santo são hoje detidos por abuso sexual.
Há uma guerra informal pela conquista de fieis e poder. O desfecho depende da capacidade de comunicação espiritual dos pregadores e de manejo dos mecanismos mundanos da isenção tributária, do dízimo e do próprio sincretismo.
A maioria da população brasileira é cristã (87%, segundo o Censo de 2010) e o catolicismo está em franco declínio. Segundo o IBGE, em 1970, 92% da população era católica: em 1991, 83%; em 2000, 73,6%; em 2010, 64,6%. No Rio de Janeiro, o percentual atingiu 45,8%. Evangélicos que, em 1940, representavam 2,6% da população, alcançaram 22,2% em 2010.
A maioria da população brasileira é cristã (87%, segundo o Censo de 2010) e o catolicismo está em franco declínio. Segundo o IBGE, em 1970, 92% da população era católica: em 1991, 83%; em 2000, 73,6%; em 2010, 64,6%. No Rio de Janeiro, o percentual atingiu 45,8%. Evangélicos que, em 1940, representavam 2,6% da população, alcançaram 22,2% em 2010.
Pesquisa do Datafolha indicava 50% de católicos em 2016, anunciando que 3 em cada 10 brasileiros com mais de 16 anos eram evangélicos.
Em 1991, o papa João Paulo 2º, que depois viraria santo, alertava: O Brasil precisa de santos. Pois o Brasil não tinha nenhum e agora tem 36 santos (28 deles anônimos, é verdade, mártires de massacre calvinista holandês no século 17, em Pernambuco), além de irmã Dulce, que será canonizada em outubro.
Igualmente católicas, na década de 1980, as senhoras de Santana combatiam indecência e sexo na TV. A inspiração messiânica da Lava Jato interfere no tabuleiro eleitoral e populista.
O Vaticano pede perdão pelos pecados cometidos e fabrica santos em série. A Igreja Universal esteriliza pastores para gerenciar melhor o negócio. Brasília é capital mística do país.
Jair Messias Bolsonaro reclama dos males da ocupação ideológica do PT, mas tenta impor uma pauta moralmente primitiva e deletéria. De raiz familiar católica, o presidente circula pelos templos como venerável e não como servo.
O apoio evangélico ao escolhido tem preço e retribuição terrena: afrouxamento da vigilância fiscal. No Palácio do Planalto, onde se flerta com a ideia da terra plana, a nova era é comemorada: Deus vult (como Deus quer) é tudo nosso, pensam eles.
Segundo levantamento do Conselho Nacional de Justiça, o juiz brasileiro é homem, branco, casado, católico e pai. Não é só a vaga do Supremo: como informa o jornalista Frederico Vasconcelos, Bolsonaro nomeará, até o final do mandato, pelos menos 90 juízes em 35 tribunais. Terrivelmente.
Miséria, desalento e ignorância fazem florescer superstição, fanatismo, milagres, demônios e censura.
É de Otavio Frias Filho (1957-2018) o pensamento instigante: Só quando a fé diminui a tolerância aumenta. Ceticismo faz bem. (por Luís Francisco Carvalho Filho)
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