quarta-feira, 17 de julho de 2019

OS BRASILEIROS ESTÃO SE HABITUANDO A BEIJAREM A MÃO QUE OS CHICOTEIA – 2

(continuação deste post)
A retomada do desenvolvimento econômico é tão desejada por todos que até a vitória de restrição de direitos previdenciários é saudada por grande parte dos prejudicados como uma grande conquista, numa demonstração patente de como a sociedade é inconsciente de si mesma e de como ela costuma beijar a mão de quem a chicoteia.

A lógica perversa de reprodução do valor (que ora esbarra no seu limite interno), antes de provocar a discussão sobre as causas intrínsecas do travamento da produção social sob seus critérios, resvala para a discussão de questões periféricas como o combate à corrupção com o dinheiro do erário, transformando em heróis e justiceiros justamente aqueles que defendem a institucionalidade burguesa que é a forma legal e militar da manutenção de uma ordem social decrépita. 

O povo é iludido e foi levado a acreditar que: 
 seus verdadeiros opressores seriam, pelo contrário, salvadores da pátria; e 
 uma nova política possa deles provir para redimi-lo da miséria, quando, na verdade, a tradicional e velha política continua onipresente, inclusive sob a forma de liberação antecipada de verbas públicas orçamentárias para deputados votarem num projeto que retira direitos previdenciários.

Deve-se acrescentar: é também a velha política que norteia a reincidência no nepotismo mais descarado, com a nomeação, para um dos postos mais cobiçados da diplomacia brasileira, de um jovem deputado que aguardou a data limite de sua idade para receber do pai um inusitado presente: a embaixada do Brasil nos Estados Unidos, como se fôssemos uma republiqueta das bananas. 
É claro que o capital internacional desempregado está ansioso para abocanhar fatias de mercado de empresas estatais brasileiras que têm produção e consumo assegurados, e com eles o lucro de que tanto precisam, daí saudarem a chegada no Brasil de um governo (toscamente) liberal que lhes proporcione sobrevida.

Isto não representa, nem de longe, uma solução definitiva para nossos males sociais. Mas, talvez e apenas, um paliativo para as contas públicas que vêm sendo tratada como a questão primordial para o equilíbrio econômico estatal, cidadela indispensável à opressão aos contribuintes incautos, principalmente nestes tempos de falência sistêmica mundial. 

Trata-se de um tema aparentemente dicotômico, mas que, bem vistas as coisas, nos é indiferente, pois tanto faz que o nosso patrão seja o Estado brasileiro, o capital nacional e/ou o capital estrangeiro, pois o nosso norte referencial deve ter outro imã magnético: o da bússola emancipacionista que defende  critérios diferentes de produção e organização sociais. 

Como acreditar que, com os nossos atuais níveis de produtividade, consigamos competir e vencer num mercado internacional cada vez mais reduzido e disputado (vide a briga comercial entre Estados Unidos e China, p. ex.)? 

Como aceitar que devamos trabalhar mais em nossa velhice, como quer a reforma da previdência, quando temos 13 milhões de desempregados? 

Não seria muito mais racional e plausível dividirmos pela população apta à produção todo o esforço produtivo, o que nos permitiria despender menos esforços diários e com melhor resultado (hipótese que nos é negada pelo capitalismo, mas possível sob outra lógica de produção social)?

A gestão do capitão Boçalnaro, o ignaro, a cada dia dá mais demonstrações de que representa apenas uma reprodução do velho piorado. 

Isto vai desde as suas escolhas de influência no governo até a interveniência intempestiva e pessoal em questiúnculas que melhor caberiam na pauta de um vereador paroquial (como bem disse Ruy Castro) que na de um governante presidencial, parecendo uma triste imitação, menos erudita, do que foi Jânio Quadros.

O Brasil, comparado pelo presidente a uma virgem que todos os tarados querem estuprar, é por ele tratado como um macho alfa que não admite concorrência nesse capítulo sexualmente repugnante. 

Na verdade somos mesmo o país do mundo com mais potencial de riquezas naturais a serem aproveitadas, mas isto somente será possível com uma produção social voltada para a satisfação das necessidades de sua população, nunca sob os incensados critérios de desenvolvimento econômico (o qual é predatório, segregacionista e fadado à falência por seus próprios fundamentos contraditórios).
Os defensores do sistema repetem incansavelmente o mantra do desenvolvimento econômico. De nossa parte, prefiro este outro mantra: a emancipação social somente é possível com produção social voltada para o atendimento das necessidades sociais, nunca para o lucro! (por Dalton Rosado)

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