dalton rosado
SOBRE A QUIMERA DA RETOMADA DO DESENVOLVIMENTO
"Ainda que absolutamente necessária, a reforma da
da Previdência não é o
suficiente (Delfim Netto)
.
"A reforma da previdência é como um pára-quedas cuja função é reduzir a velocidade da queda em meio a um sem número de problemas fiscais" (Marcos Lisboa)
O grande e único objeto teleológico dos esforços políticos e sociais da atualidade é a retomada do desenvolvimento econômico.
Direita e esquerda (a institucional, partidária, principalmente); religiosos de todos os matizes; trabalhadores e patrões; ateus e fundamentalistas bíblicos; empregados e desempregados; homens e mulheres; enfim, todos são levados a encarar o desenvolvimento econômico como fórmula única de viabilização da atual vida social em decomposição orgânica.
Tal ocorre porque somos educados a acreditar que a vida social mediada pela forma-valor (dinheiro e mercadorias) é algo ontológico, natural, imutável, ganho civilizatório irreversível e indispensável da humanidade.
Não há nada de mais falacioso e burro do que essa convicção unânime e generalizada que nos foi introjetada mentalmente por anos de dominação educacional equivocada.
Assim, considerando-se que não há outro modo de se viver socialmente senão produzindo mercadorias para vendê-las no mercado, atribui-se a miséria social reinante na grande maioria das populações mundiais a erros gerenciais, e nunca à própria natureza dessa forma de produção social.
Inversamente ao que se deveria propor, ou seja, a superação de um modo de produção que se tornou socialmente obsoleto, discutem-se maneiras de intensificar e aperfeiçoar a causa do mal (o capitalismo).
Propor a superação do dinheiro e das mercadorias é sacrilégio herético perante o Deus da modernidade: a forma-valor.
Nada se tem a dizer aos 13 milhões de brasileiros desesperados que se amontoam em filas para disputar escassas vagas de empregos, a não ser que aguardem a retomada do desenvolvimento econômico, o qual, supostamente, traria de volta os postos de trabalho fechados e sanearia as finanças públicas, de modo a que o pudesse possa prover as demandas básicas da sociedade: educação, saúde e segurança pública.
Mas como pedir aos provedores da família, homens e mulheres aptos ao trabalho, cujas mãos estão atadas pela travamento da produção capitalista, que aguardem pacientemente a retomada do desenvolvimento econômico, quando o não pagamento da energia elétrica, p. ex., implica o corte imediato do fornecimento?
Como lhes pedir paciência se o fornecimento de água, sem a qual a vida se torna impossível, é igualmente cortado em caso de inadimplência?
Como se conformar com o choro dos filhos quando falta dinheiro para comprar-lhes a mais barata das guloseimas?
Como se manter a tranquilidade enquanto o pagamento do aluguel ou da prestação da casa financiada pende sobre a cabeça como a lâmina de uma guilhotina?
Como se suprir as despesas com vestimenta, transporte, remédios, lazer, etc., sem meios para tanto?
Não há atualmente nenhuma providência social séria para a solução do impasse causado pelo desemprego estrutural que afeta o Brasil e o mundo (vide como se assemelham às nossas as taxas de desemprego na culta União Europeia –com quem fizemos recente acordo de comércio bilateral), senão a quimera da retomada do desenvolvimento econômico.
Vivemos um ciclo vicioso no qual é o próprio capital que está, também, desempregado. O grande capital financeiro carreado para o sistema de crédito é, hoje, usado para o suprimento das dívidas pública e privada crescentes, justamente porque a produção de mercadorias já não oferece retornos possíveis e seguros aos investimentos.
O processo gigantesco do fenômeno da paralisia da produção destinada ao mercado é a causa do crescimento constante das dívidas pública e privada, que oferece temerariamente aos rentistas financeiros a ilusão de segurança e perenidade das suas aplicações financeiras e receitas representadas pelos juros que lhes são pagos. Isso é o que tem sustentado o setor da sociedade que detém tais capitais.
Mas, tal miragem somente subsistirá até o dia em que ficar patente a insolvabilidade dos juros e do principal da dívida pelo sistema de crédito financeiro.
Aí eles (os rentistas) se juntarão aos trabalhadores desesperados que já não sabem o que fazer para sobreviver. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)
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