quarta-feira, 31 de julho de 2019

O CASO É PARA IMPEACHMENT OU INTERDIÇÃO? EIS A QUESTÃO...

Um pecado capital do PT foi adotar a ótica simplista de que quem não estava a seu favor, era automaticamente contra. 

Graças a isto, espantou para o outro lado um grande número de forças e atores políticos que não eram necessariamente inimigos, como Hélio Bicudo, D. Paulo Evaristo Arns e Miguel Reale Jr., três cujo prestígio lhe acabou sendo devastador durante o processo de impeachment da Dilma. 

O primeiro, ex-petista que travou luta heroica contra o Esquadrão da Morte em pleno regime militar, foi tratado a pontapés pelo partido e teve carradas de razão para o desfiliamento. D. Paulo, o vencedor do confronto decisivo para a desmontagem da ditadura (a realização da missa para o Vladimir Herzog). E Reale Jr., um centrista que chegou a ser secretário da Segurança Pública no governo de Franco Montoro e ministro da Justiça no de FHC.

Tenho certeza absoluta de que, caso ainda fossem vivos, os dois primeiros estariam se posicionando de forma contundente contra o desgoverno atual.

Reale Jr. o faz. E, numa entrevista à rádio Guaíba (RS), levantou uma hipótese interessante: será impeachment ou interdição o caminho mais apropriado para o Brasil livrar-se do seu pior presidente em todos os tempos?
Reale Jr. vê Bolsonaro como alucinado, cruel e malvado
Ouvido pela Folha de S. Paulo, o jurista admitiu que se tratou antes de um desabafo do que um diagnóstico, explicando: 
"É porque é um processo tão alucinatório. Ele prejudica a si próprio a cada declaração. Lógico que beira o problema do decoro, mas é uma afronta tamanha à dignidade humana o que ele falou sobre o presidente da OAB [ao afirmar que poderia contar-lhe como realmente morreu o pai dele, insinuando haver falsidades nas narrativas sobre seu assassinato por parte dos torturadores].  
O culto aos mortos e aos despojos vem desde os primórdios da humanidade. Dizer isso é (...) uma crueldade, é uma malvadeza. Isso demonstra uma deturpação de sensibilidade. 
Aquela minha frase valeu muito mais como expressão do que como realidade médica. Mas é de se espantar como alguém pode gostar desse mundo obscuro".
Isto não evidencia transtorno mental?!
No entanto, noutro trecho da entrevista Reale se refere a Bolsonaro como um homem, no mínimo, com urgente necessidade de terapia mental:
"[as frases monstruosas dos últimos dias são explicadas] Pela própria personalidade dele, que se tem notado desde a época em que era deputado, quando defendeu que se fechasse o Congresso, que deviam matar Fernando Henrique. É de uma litigiosidade exacerbada, sempre [busca] o confronto. Sempre volta ao passado e [faz] uma reconstrução do conflito que se estabeleceu na época da ditadura. 
Essas manifestações você pode colher ao longo dos 28 anos de um mandato absolutamente medíocre na Câmara dos Deputados, que se pautou por agressões contínuas aos direitos humanos... 
...essa belicosidade é da sua natureza. Ele não consegue sair da dicotomia, do maniqueísmo. É da natureza dele estabelecer continuamente o confronto, e não a união, não a harmonia, o apaziguamento dos espíritos. Ele precisa do confronto. Fora do confronto, ele não sabe viver".
E o que dizer desta frase? É de alguém mentalmente são?
Reale, que presidiu a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos durante seis anos, qualifica os depoimentos por ela colhidos sobre as torturas no Doi-Codi de "impressionantes, era um filme de terror". Daí a indagação: 
"Como um deputado faz elogio ao torturador? No programa Roda Viva, perguntaram a ele qual era seu livro de cabeceira, e ele mencionou o livro do Ustra. Então, o habitat dele é este, o habitat horrendo do mundo das trevas, do mundo da morte, da tortura, da perseguição. É o universo dele. Ele não foge disso. É um universo muito pobre e muito restrito".
Reale conclama a elite brasileira a conscientizar-se de que "ela tem uma responsabilidade de dar respostas consistentes a essa avalanche de ignorância", mas avalia que ainda não existem "condições políticas" para o impeachment de Bolsonaro, assim como "durante muito tempo não havia condições políticas para o impeachment de Dilma", pois "as afrontas que ele pratica podem beirar a falta de decoro, mas ficam numa zona fronteiriça entre a infração política e a infração moral".

A pergunta que não quer calar é: e a interdição? Já não haveria motivos de sobra para que ao menos fosse requerida uma avaliação psiquiátrica?
Antes os malucos se contentavam em ser Napoleões...

Janaína Paschoal, outra peça importante no tabuleiro do impeachment de Dilma, já havia tirado esse gênio da garrafa, ao comentar o fato de Bolsonaro haver compartilhado no seu Facebook um vídeo no qual o pastor Steve Kunda o apontou como escolhido por Deus:
"Um presidente da República, na plenitude de suas faculdades mentais, publicaria um vídeo desses?” 
Temo que ainda voltaremos a este assunto. (por Celso Lungaretti)

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