domingo, 30 de junho de 2019

CONCLUSÕES SOBRE OS ATOS DE DOMINGO

O pedaço da sociedade leal a Jair Bolsonaro (vide ao lado) voltou às ruas neste domingo. O país vai se habituando a um fenômeno novo: o protesto a favor. 

Dessa vez, a favor de Sergio Moro, da Lava Jato e de pautas que interessam ao governo no Legislativo –sobretudo a reforma da Previdência e o pacote anti-crime. 

Foi o segundo ato organizado por simpatizantes do governo em 35 dias. O primeiro, em 26 de maio, veio em resposta a um protesto de estudantes e opositores do governo contra o congelamento de verbas para a Educação. 

Agora, a mola propulsora foi a divulgação de mensagens tóxicas atribuídas a Moro e aos procuradores da Lava Jato. O temor da anulação da condenação de Lula enviou ao asfalto os defensores do combate à corrupção. 

Vão abaixo quatro conclusões que ajudam a compreender as consequências da nova manifestação: 
1) A base social de Bolsonaro: Em termos nacionais, a manifestação deste domingo foi equiparável à de 26 de maio, talvez ligeiramente menor. Nenhuma das duas foi monumental. Nada comparável aos atos pró-impeachment de Dilma Rousseff. Mas ambas estão longe de ser inexpressivas. Ao contrário, revelam que Bolsonaro mantém uma base social sólida e fiel, a despeito da queda dos seus índices de popularidade. 
2As instituições sob pressão: Os refrões, os figurinos e as alegorias do ato não deixam dúvida. O Congresso e o Supremo Tribunal Federal continuarão enfrentando uma pressão de fora para dentro. Hostilizaram-se congressistas, entre eles o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Foram atacados também ministros do Supremo. Gilmar Mendes foi o alvo mais evidente. 
Faixa contra o MBL no RJ. Em SP seus ativistas só não foram agredidos graças à ação da PM...
Embora congressistas e magistrados neguem a influência do asfalto nas suas decisões, é improvável que Brasília ignore o tamanho do meio-fio ao programar os seus passos. Isso já está acontecendo. O fenômeno ajuda a explicar a disposição do Congresso para entregar uma reforma da Previdência tão indispensável quanto impopular. Deputados e senadores não querem ser responsabilizados pela crise. 

Compreende-se melhor também por que a 2ª Turma do Supremo adiou para depois das férias o julgamento do pedido de suspeição de Moro, indeferindo por 3 a 2 a abertura antecipada da cela do presidiário petista. Uma das bandeiras do asfalto é justamente a ressurreição da CPI da Lava Toga, arquivada no Senado apesar de dispor de apoiadores na quantidade exigida pelo regimento. 
3O presidencialismo de trincheira: Bolsonaro enxerga nas ruas respaldo para manter a corda esticada nas suas relações com o Legislativo. No Twitter, o capitão anotou neste domingo: "A população brasileira mostrou novamente que tem legitimidade, consciência e responsabilidade para estar incluída cada vez mais nas decisões políticas do nosso Brasil". 

Há na ótica do presidente uma distorção e um quê de miopia. Não foi a população brasileira que saiu às ruas, mas um pedaço dela, eis a distorção. 
...que foi parabenizada por prender os adversários.

Bolsonaro foi eleito porque os votos das pessoas que pensam como ele foram reforçados pelo apoio dos eleitores que não queriam de jeito nenhum a volta do PT ao poder. 

Esse pedaço do eleitorado antipetista mudou de faixa. Está no acostamento. Já não existe unidade nem mesmo no bloco bolsonarista. 

De resto, o déficit de interlocução política empurra o Legislativo para uma pauta própria, nem sempre coincidente com a do Executivo. A queda de braço já começou e será intensificada depois da aprovação da reforma previdenciária. Nessa briga, o interesse público só está presente até certo ponto. O ponto de interrogação. 
4Os limites da tática do confronto: Quando os partidários de Bolsonaro foram às ruas em 26 de maio, a previsão de crescimento da economia captada no mercado pela pesquisa Focus, do Banco Central, era de 1,24% para o ano de 2019. Na última 2ª feira, a mesma enquete resultou numa estimativa de evolução do PIB de ridículos 0,87%. 

O flerte com a volta da recessão e a presença de 13 milhões de desempregados no olho da rua intima o governo de Bolsonaro a apresentar resultados. Sob pena de levar às ruas não os apologistas do governo, mas os brasileiros que estão de saco cheio da polarização eterna.

Ou seja: num ponto o governo de Bolsonaro é igualzinho às administrações anteriores: seu futuro depende do desempenho. Sem prosperidade não há popularidade.
(por Josias de Souza)

2 comentários:

Anônimo disse...

Não entendi o sentido de você postar essas "conclusões" inconclusas de Josias.
Acredito que faltou aquele seu toque do editor para ficar mais clara sua intenção.
Forte abraço.

celsolungaretti disse...

Ora, minha intenção foi apenas a de dar ao leitor uma noção do que ocorreu.

Se eu estivesse dirigindo a cobertura das manifestações por parte de um veículo da grande imprensa, disporia de textos de uns 30 jornalistas de todo o Brasil para dessa massa de informação toda extrair um balanço razoavelmente correto.

Como não tenho mais nada disso a meu dispor, prefiro disponibilizar as sínteses de jornalistas que têm acesso a esse aparato.

A minha posição está no post de hoje:

1) o Bolsonaro já está caindo na real e sendo engolido pelo sistema;

2) a ralé fascista ditará cada vez menos os rumos do governo, embora o Bolsonaro não vá alijá-la totalmente porque vai precisar de tarefeiros de 2022;

3) o que teremos daqui pra frente será apenas um governo medíocre de direita, não muito diferente do tempo do Temer. A montanha pariu um rato;

4) em meio a toda essa pasmaceira, a própria esquerda se tornará cada vez mais irrelevante, se não reciclar-se e renovar-se. O PT já morreu, mas esqueceram de mostrar o atestado de óbito para os zumbis dirigentes;

5) a esperança está no movimento estudantil renascido. Desde que ele defina e trilhe seus próprios caminhos, evitando ser publicamente identificado com os erros crassos que a velha esquerda cometeu nesta década (principalmente).

No fundo, o desafio é o mesmíssimo de 1968: provar que pudesse existir uma esquerda diferente da que se desmoralizou em 1964. Agora, é provar que possa existir uma esquerda que lute pelo povo, ao invés de ficar desvairada atrás de boquinhas e disputas de poder.

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