(continuação deste post)
— dívida superior ao seu PIB anual e que é suportável apenas por sobre ela incidirem juros baixos, em razão da crença equivocada (e convenientemente conivente) do sistema financeiro mundial e respectivos rentistas na sua pujança, solidez e capacidade de solvência;
— balança comercial internacional deficitária e que a cada ano aumenta tal déficit;
— padrão de consumo e de renda per capita sustentado por salários incompatíveis com a média mundial, mas que são viabilizados por fatores como:
a) emissão de moeda sem lastro, mas por todos aceita como se fosse válida, e, que, assim, não provoca inflação interna;
b) geração de lucros (e recebimento das remessas destes) por empresas cujos tentáculos se espalham mundo afora, explorando os baixos salários dos países da periferia capitalista e comercializando mercadorias com preços de alto valor agregado em razão das patentes e segredos industriais (o preço de uma minúscula pílula para carrapatos em cachorro fabricada por um laboratório estadunidense corresponde a dias de salário de um trabalhador centro-americano ou africano!); e
c) exploração de juros cobrados aos países pobres por um sistema de crédito bancário internacional extorsivo, em grande parte ali sediado, cujos créditos são de duvidosa capacidade de solvência por parte dos devedores extorquidos;
— orçamento militar exorbitante e, portanto, insuportável para o orçamento público sustentado pelo aumento da dívida pública, mas que o faz de modo a constranger o mundo à obediência aos seus interesses econômicos pouco confessáveis (e que se coloca como justiceiro e palmatória do mundo de modo cínico e contraditório, à base do faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço, como no caso da produção das bombas atômicas e seus materiais radioativos.
Por que os países da América Central (todos); os da América do Sul (aí incluída a outrora rica Argentina, e em menor proporção apenas o Chile e o Uruguai, pouco populosos); e o México, primo pobre da América do Norte, enfrentam depressão econômica, falência estatal, níveis de desempregos insuportáveis, serviços públicos precários ou inexistentes, violência urbana e outros tantos sintomas de decadência social que tão bem conhecemos no Brasil?
Ao respondermos a esta pergunta, não devemos adotar uma postura xenófoba contra o povo estadunidense, posto que, não é ele o promotor de tal miséria mundial, como de resto não são culpados os povos dos países ricos ou pretendentes a sê-lo (os componentes do G-20, que acabam de reunir no Japão).
A culpa da degradação da vida sobre a face da Terra (a fome, p. ex., aumenta sem parar em âmbito mundial!) não é dos povos, mas de uma lógica social fetichista, coisificada (reificada), patrocinada pelo conteúdo autotélico e vazio de sentido humano do capital e da necessidade de sua reprodução contínua e cumulativamente excludente.
Uma lógica que submete o Estado a seus desígnios, pois os governos desses países estão totalmente atrelados a ela.
Assim, os inimigos do povo são, pela ordem:
— a lógica do capital e suas categorias auxiliares (trabalho abstrato, dinheiro, mercadorias e mercado);
— o Estado e todas as suas instituições auxiliares (direito, justiça, parlamento, força militar, política, partidos, etc.);
— a servidão voluntária a essa ordem (obediência civil às instituições, à lei e ao modo de produção capitalista), que involuntariamente (por medo ou ignorância) ou voluntariamente (por mero oportunismo individual) se perpetua, com os seres humanos prostrados de joelhos diante da exploração social no altar da iniquidade, ainda que tal ordem sócio-econômica esteja se exaurindo por sua própria ilogia.
.
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DO DESESPERO DOS IMIGRANTES – a diáspora mundial é bem maior do que constatamos pelo acompanhamento do noticiário internacional.
No nosso caso, são muitos os brasileiros com nível superior e bom nível de instrução que buscam a meca do capitalismo mundial (os Estados Unidos) ou países como o Canadá, Austrália e Portugal (que serve de porta de entrada para a comparativamente próspera União Europeia).
Assim, o Brasil perde os cidadãos mais capacitados que forjou para o seu presente e futuro; e os brasileiros menos capacitados (vítimas de uma educação pública ineficiente e da segregação social cada vez mais acentuada) sofrem com o fantasma do desemprego estrutural, uma tragédia sem precedentes na nossa história.
Observamos, hoje, duas grandes rotas migratórias: entre os continentes e no interior destes. Ambas são representadas pela fuga desesperada das populações tangidas por governos tiranos (e pelo crime organizado) que tentam se manter no poder pela força, já que as insatisfações populares com a perda da qualidade de vida e de oportunidades profissionais desgastam ciclicamente os governantes.
Em geral os déspotas se apoiam nos militares, que cumprem esse nefasto papel de manutenção de uma ordem decrépita nos países atingidos pelos desníveis de produtividade de mercadorias, que dita quem vai sobreviver ou morrer na guerra concorrencial de mercado. Quando você vir uma criança morta numa fronteira terrestre ao afogada num praia, debite tal acontecimento na conta da irracional lógica da autofagia de mercado.
A completa impossibilidade de vida em seus países de origem é o que empurra milhões de famílias africanas para aventuras marítimas num trajeto de cerca de 350 quilômetros no mar Mediterrâneo, em embarcações precárias e sem a menor segurança, mesmo sabendo da rejeição cada vez maior de socorro por navios mercantes e governos insensíveis ao seu terrível drama humano.
Os imigrantes, quando conseguem escapar da morte por afogamento e chegar às praias europeias, são rejeitados como se fossem portadores de doenças contagiosas e colocados em tendas de acampamentos que chegam a lembrar as instalações daqueles campos de extermínio que nos horrorizam quando vemos filmes sobre o Holocausto. (por Dalton Rosado)
(continua neste post)
"...quando há uma terra prometida/ o bravo irá e outros o seguirão/ a beleza
do espírito humano/ é a vontade de realizar os próprios sonhos/ e assim,
as massas atravessam o oceano/ em direção a uma terra de paz e
de esperança/ mas ninguém ouviu uma voz ou viu uma luz/
enquanto era jogado na costa/ e ninguém foi recebido
pelo eco da frase Eu levanto minha lâmpada
junto à porta dourada..."
Um comentário:
Vale apontar que o Chile, embora seja de fato um ponto fora da curva na América Latina, tem o seu PIB atrelado ao cobre, commodity essa que representa a metade do PIB. Aliado a uma baixa população e (ainda) a uma demanda relativamente alta por cobre no mundo a um preço que se mantém, faz com que o Chile apresente bons indicadores sociais. Mas vejo isso apenas como uma nuvem que passa.
Postar um comentário