quinta-feira, 23 de maio de 2019

O BRASIL NÃO É PARA PRINCIPIANTES – 2

(continuação deste post)
SOBRE A INGOVERNABILIDADE – em meio às seguidas derrotas no Congresso, o presidente achou boa ideia compartilhar pelo WhatsApp um texto no qual transfere responsabilidades do seu desgoverno para as corporações e instituições.

Não faz a autocrítica da falta de conexão entre as atuações dos seus ministros (que atuam sem qualquer unidade de linha programática de governo), simplesmente porque elas existem apenas genericamente ou são conflitantes nos seus conteúdos ideológicos.  

Assim, sob o governo do capitão Boçalnaro, o ignaro, tudo piora graças aos critérios governamentais ideológicos conflitantes adotados. Senão, vejamos:
na questão ecológica – sem nenhuma base científica, o presidente agride os movimentos ecológicos mundiais e nacionais. Ante a evidência do aquecimento global e da nossa responsabilidade de manutenção de manejo sustentável da floresta amazônica, o governo dá sinais claros de um liberou geral para desmatadores, à medida que respalda as suas ações. O desmonte do Ibama e o armamento dos senhores de terras são indícios de tal comportamento; 
— na questão da dívida pública e juros sobre ela incidentes – ao invés de bradar contra a diferenciação das taxas de juros aplicadas à nossa dívida pública crescente (já está próxima de 80% do PIB), que implicou o pagamento de mais de R$ 400 bilhões em 2018 (quase o dobro do déficit previdenciário), o governo silencia perante o sistema financeiro internacional e presta reverências ao presidente Donald Trump. Não é por menos que recebe comendas da Câmara do Comércio Exterior Brasil/Estados Unidos; eles adoram quem se rebaixa ao beija-mão submisso;  
— na educação – o governo deseja uma escola com doutrinação dos seus postulados conservadores (o deplorável projeto escola sem partido embute a ideia de um ensino com ideologia neofascista e com professores fiscalizados nas suas ações educativas). Embora a educação seja primordial para qualquer projeto de desenvolvimento social, o governo se apressa em determinar cortes lineares de verbas de 30% para o orçamento da educação, sem levar em conta as peculiaridades de cada caso; 
— na previdência social – apresenta um projeto de regime geral previdenciário que obedece aos critérios de ajuste do orçamento público à realidade de depressão econômica, cortando preferencialmente as verbas para setores sofridos da população como a aposentadoria dos trabalhadores rurais e o Benefício de Prestação Continuada (auxílio mensal aos idosos e portadores de deficiências físicas), além de aumentar o tempo de contribuição necessário para obtenção das aposentadorias. No capitalismo, enquanto muitos estão desempregados, outros têm de cumprir excessivas horas extras e trabalhar até a velhice extrema;
— na subserviência ao capital internacional – as proposições liberais do governo na economia emitem ao capital internacional sinais claros de que pode vir ao Brasil fazer o seu saque tradicional. O critério praticado é o da raposa tomando conta das galinhas, tudo em nome do pretendido crescimento econômico brasileiro, mesmo diante da falência mundial de tal modelo;  
— na questão habitacional –  todos sabemos que um trabalhador de renda pouco maior do que o salário-mínimo atual (e muito menos um desempregado!) jamais poderá adquirir uma casa própria, considerando-se as taxas de juros praticadas no Brasil. Daí termos um déficit habitacional socialmente inaceitável e a proliferação das favelas e dos guetos (frutos da segregação do capital, e que oportunizam a dominação pelo crime, organizado ou não). Contudo, o governo paralisado não lança quaisquer programas habitacionais para essa faixa da população e ainda restringe os já existentes, numa descontinuidade administrativa de cunho ideológico; 
— na saúde pública –  a primeira providência do atual governo foi expulsar os médicos cubanos que aceitavam ir para o interior profundo do país, o qual agora está desassistido por completo (independentemente de condenarmos a extração de mais-valia, por parte do governo cubano, sobre a remuneração desses médicos). É que os bolsonaristas, na sua sanha de combate ideológico, destrói tudo que se assemelhe a socialização, mesmo quando não tem para colocar no lugar. O povo continua a padecer nas filas do SUS, agora de forma piorada. Até a dengue está aumentando neste ano fatídico de 2019;  
— na segurança pública – trata-se de um governo militarista, cujo símbolo de campanha era uma arma. No espírito do combate à força com a força, os seus membros mais destacados (o clã presidencial incluso) sempre defenderam as milícias como forma de combate à violência urbana. Não é de estranhar-se, pois, que queira armar a população sob o pretexto de autodefesa, sem considerar o substrato de miséria social que fermenta o caos patrocinado pela barbárie, o qual se alastra a olhos visto (quantas reportagens de chacinas a TV exibiu nos últimos dias?);  
— na questão agrária – a questão fundiária no Brasil jamais recebeu tratamento adequado. Desde as proposições de João Goulart, sob a relatoria do saudoso Plínio de Arruda Sampaio, o Brasil mantém comportamento tão conservador que até mesmo a reforma agrária, bandeira defendida inclusive pelos capitalistas como forma de atenuar as tensões sociais, não se concretiza. Agora, pelo contrário, o governo quer armar os proprietários de terras e isentá-los de crime por qualquer excesso na defesa de suas posses, além de criminalizar os sem-terras como um todo;
— na questão de gênero – como se esperar um tratamento isonômico do governo na questão de gênero, quando capitaneado (no sentido militar da palavra) por um ex-parlamentar que afirmou em alto e bom som, do púlpito do parlamento, que não estupraria uma colega parlamentar por ela ser feia e não merecer tal privilégio? A mulher, para o presidente e sua ministra dos Direitos Humanos, deve vestir rosa e ser confinada aos estritos limites da reprodução humana. É o fundamentalismo religioso mais tacanho que rege o atual governo na questão de gênero. Não é por menos que o partido ao qual o presidente é filiado, o PSL, usou mulheres laranjas para obter dinheiro para as campanhas dos candidatos homens mais bem cotados (semelhante atrai semelhante);
— na questão étnica – o presente (des)governo tem um vice-presidente que certa vez tratou os negros e índios como indolentes (e olhem que esse general-político vem se mostrando um dos mais moderados e equilibrados membros da trupe que se assenhoreou do poder!). Ao elogiar e se mirar em políticos como o presidente destrumpelhado dos Estados Unidos, um supremacista branco de carteirinha, Bolsonaro dá uma boa ideia da sua concepção racial preferencial; 
— no comércio internacional – o presidente fala sem pensar, só depois se dando conta da extensão desastrosa do que falou. Se fosse um jogador de xadrez estaria perdido, mas como é apenas um presidente inapto para o cargo, só nos resta constatar que quem mais tem trabalhado no Palácio do Planalto é o porta-voz do Bolsonaro, a toda hora acionado para fornecer uma nova e maquilada versão das besteiras por ele ditas. Agredir os chineses e o mundo árabe com afirmações e posturas políticas inconsequentes, p. ex., somente piora o já fraco desempenho brasileiro no comércio internacional, criando mais empecilhos ainda à melhora, por menor que seja, de nossa performance econômica ... (por Dalton Rosado)
(continua neste post)

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