domingo, 26 de maio de 2019

A BALBÚRDIA DOMINICAL DOS FEIOS, SUJOS E MALVADOS DEU CHABU

Bolsonaro fez o de sempre: piorou o que já estava ruim. 

Tentou obscurecer a imagem das belas manifestações dos estudantes contra o destruição da Educação lavada a cabo pelos sinistros ministros olavetes mas acabou por reavivá-las, o mais desfavoravelmente possível para si. Fracassou rotundamente.

As avaliações da mídia são quase todas no sentido de que a balbúrdia dominical dos feios, sujos e malvados no máximo igualou numericamente os protestos estudantis. 

Mas, seu espectro era muito mais amplo e tinha o próprio presidente da República fazendo proselitismo descarado. Igualar, nessas condições, equivale a perder de goleada.

De resto: 
— expôs fraturas significativas nas forças de apoio ao bolsonarismo; 
— fez soar os mais estridentes alarmes no Congresso Nacional e no STF, que tendem a doravante colocar cada vez mais pedras no caminho de quem já vinha colecionando derrotas aos montes; 
— impulsionou um aumento expressivo das dúvidas nos círculos decisórios (até quando o poder econômico continuará pacientemente aguardando a entrega da contrapartida que exigiu de Bolsonaro para conduzi-lo poder?); e
— reforçou a convicção, esposada por contingentes cada vez maiores de brasileiros, de que o verdadeiro objetivo desse caótico governo é golpista, na linha da fracassada tentativa de Jânio Quadros em 1961, quando tentou esvaziar os outros Poderes e acabou sendo por eles esvaziado.

O sucesso dos direitistas nas ruas durante a campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff se deveu, basicamente, à desastrosa política econômica por ela adotada, causadora de uma aguda recessão; e ao antipetismo insuflado dia e noite pela indústria cultural. 

Fora Dilma! era uma palavra de ordem simples, clara e agregadora, pois vinha ao encontro de um sentimento compartilhado por muitos.

Já a micareta deste domingo atirava em direções demais (a favor da reforma da Previdência e do pacote anti-crime do Sérgio Moro; defendendo o indefensável governo do pior presidente brasileiro de todos os tempos; tentando intimidar a imprensa; atacando ministros do Supremo; hostilizando estudantes, professores, a intelligentsia como um todo e toda e qualquer manifestação de vida inteligente; satanizando o Rodrigo Maia; descendo o pau no MBL, etc.) .

Errou todos os alvos, menos o pé do Bolsonaro, que deve estar com mais furos do que uma peneira...
Há algumas semanas coloquei em questão se o homem da arminha conseguiria manter-se à testa do governo durante, pelo menos, os 200 dias que o homem da vassoura aguentou antes de despencar; foi, contudo, mais como zombaria e sarcasmo, pois não consigo levar a sério isso que está aí

Começo agora a crer que a profecia poderá tornar-se realidade. (por Celso Lungaretti)

8 comentários:

Fausto Neves disse...

Celso, caríssimo
Só "no máximo igualou numericamente os protestos estudantis" já me acentua o pessimismo paranóico ubaldiano. Esse verdeamarelismo ainda pode fazer muito estrago.

Anônimo disse...

Bom dia Celso, tudo bem?!

Algumas perguntas:

Entendendo a utilidade e a necessidade de ponto e contar-ponto,
a posição e oposição como sendo traços de qualquer Democracia,
gostaria de saber o que está sendo feito para se reestrutura-la.

Considerando uma de suas crônicas sobre a falta de apoio popular,
como uma das mazelas da esquerda, e a "vidraça social", que o PT
se tornou ( vide seus políticos mais emblemáticos em algumas
situações lamentáveis ), gostaria de saber, se a Você acha que
a esquerda continuará atrelada ao lulo petismo, ou se já sinaliza,
algo de novo, nova forma de comunicação com as massas ( ou comunicador ).

Acredita em oposição, não necessariamente a esquerda?

Um abraço, e desejo de dias ótimos dias, do Hebert.

celsolungaretti disse...

Sendo uma manifestação meio "chapa branca" e reunindo forças dispares, enquanto a dos estudantes se referia a uma área específica, a da Educação?

Francamente, Fausto, o chabu de ontem me tranquilizou. O bolsonarismo saiu diminuído, na minha avaliação.

Um forte abraço!

celsolungaretti disse...

Hebert, meu caro,

eu não vejo nenhuma solução para a crise terminal do capitalismo dentro do atual sistema econômico e do arcabouço político que lhe dá sustentação.

A oposição nos marcos da democracia burguesa é, para mim, o que sempre foi para os verdadeiros revolucionários: uma ferramenta com utilidade unicamente tática.

Serve para conquistar governos, mas o poder que realmente manda e desmanda é o econômico, sempre pronto para passar como um trator sobre as garantias do tal "Estado democrático de Direito" (que para mim não passa de um Estado discricionário de direita.

Acabamos de aprender de novo isso em 2013.

Um forte abraço!

SF disse...

***
Ah! Celso.
Quando encontrei o seu blog encantei-me com se texto e com sua perspicácia.
Gosto de quem escreve bem. Agora mesmo, estou lendo Eça de Queiroz para ver se consigo escrever sem tantos erros.
Doce ilusão, parece que não chegarei a alguma excelência neste mister.
É duro reconhecer minhas limitações.
O que eu não faço é tentar diminuir o mérito dos outros. Reconheço quando alguém é superior e, por seus próprios valores, ergue-se acima de todos, eleito pela vontade do povo.
E tão querido e amado é que mobiliza a nação.
Venceu?
Talvez não, mas a esquerda derrotou-se a si mesma.
Amesquinhando-se como agora está, mal disfarçando o ressentimento e a inveja típica dos derrotados.
Lamentável.

celsolungaretti disse...

SF,

não entendi a quem você se refere como "alguém superior que, por seus próprios valores, ergue-se acima de todos, eleito pela vontade do povo".

Se é ao Bozo, só pode ser piada de mau gosto. O sujeito é de uma mediocridade assombrosa.

Eleito, qualquer cavalgadura pode ser, depende de estados de espírito momentâneos dos eleitores.

Mas, presidentes ineptos não conseguem governar, como o Bozo. Então, tentam golpes de Estado trapalhões na esperança de aumentarem seus poderes e diminuírem os daqueles que os impedem de fazer grandes bobagens, como o Congresso e o STF.

Mas, incompetentes até nisso, dão com os burros n'água e são expelidos pelo sistema, como o Jânio Quadros foi e o Bozo tem enorme chance de vir a ser.

SF disse...

***
Então, o que você diz do bozo diziam de Lula os seu igualmente medíocres adversários.
Por sinal, estou lendo A Ilustre Casa de Ramires, de Eça de Queiroz. Lá, o fidalgo é inimigo figadal de Cavalheiro, esquecido de que ele também grande coisa não é, pois o livro que pretende escrever é plágio...
Então, o melhor é tentar construir pontes sabendo que do outro lado estão pessoas tão imperfeitas como nós.
"Nosso mundo é um brinquedo com pecinhas para unir. E ele será todo seu, se você pensar assim: vamos construir!". Bem dizia Sandy e Júnior.

celsolungaretti disse...

Sim, vamos construir. Mas, antes, seria necessária uma desobstrução do caminho, com a remoção de um mandatário que só sabe destruir e desagregar. Enquanto ele estiver onde está, não há nenhum avanço possível, só mais retrocessos.

Infelizmente, o eleitorado não tem poder para desfazer seu erro catastrófico. Então, só nos resta aguardar que o poder econômico se penitencie de sua culpa por haver apostado todas as suas fichas num candidato cuja trajetória apontava claramente na direção do pandemônio atual.

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