rui martins
PRÊMIO CAMÕES E PRÊMIO EM CANNES SÃO DUAS CHAPULETADAS EM BOLSONARO
Todos sabem que presidente Bolsonaro tem cortado o apoio à Cultura no Brasil. Ele provavelmente deve achar que cultura não é importante, pois nunca lhe fez falta.
Assim, o Brasil estará condenado, caso esse presidente exerça seu cargo durante quatro anos, a perder sua projeção internacional nas diversas manifestações artísticas onde tem se sobressaído. Vai ser uma enorme marcha-à-ré que nos condenará à mediocridade.
Mas, por enquanto, não é. E talvez toda a pressão contra nossa cultura acabe provocando resultado inverso. Na 3ª feira (21), foi Chico Buarque quem ganhou o mais importante prêmio da literatura de língua portuguesa, o Prêmio Camões, concedido por Portugal e o conjunto dos países de língua portuguesa, por ser, além de compositor, escritor e dramaturgo. Uma enorme honra para todos nós brasileiros.
E não é só: em seguida veio a conquista pelo cinema brasileiro do prêmio do júri (com o filme Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles), no Festival Internacional de Cinema de Cannes, o mais importante festival de cinema do mundo.
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Chico Buarque, sempre vitorioso, apesar deles... |
É outra bela resposta, para não dizer chapuletada, no presidente Bolsonaro, empenhado em cortar verbas e subvenções culturais a fim de provocar uma paralisação da nossa criação artística no teatro, cinema, dança e na literatura.
Hoje governado pelo que existe de mais atrasado, desatualizado, reacionário, chegando a ser motivo de chacota aqui na Europa, o Brasil culto, inteligente, atualizado, livre, laico, não racista, resiste a essa onda reacionária e retrógrada.
Me permito transcrever aqui as palavras de Mendonça Filho ao jornal parisiense Le Monde, quando perguntado pelo repórter sobre a situação cultural no Brasil:
"Ah, se você soubesse! Nunca eu teria pensado viver essa situação aos 50 anos. Estamos andando num terreno totalmente desconhecido.
Rio de Janeiro, cidade que adoro, se tornou totalmente deprimente. A maioria das pessoas fala no seu desejo de sair do Brasil. Existe uma grande tristeza. As pessoas andam de cabeça baixa, como nos anos 80".
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"o presidente se refere aos artistas como drogados" |
Kleber enfatizou, ainda, a pressão do governo sobre a cultura:
"Tudo o que se relaciona com o mundo das ideias é ridicularizado, diminuído, destruído: as universidades, os festivais, os programas de ajuda sociais. Todo o dinheiro destinado à cultura foi cortado e os artistas são criminalizados. O presidente se refere aos artistas como drogados".
Talvez poucos saibam, mas quando Cannes selecionou o filme Bacurau, as autoridades brasileiras demoraram a oficializar a escolha, pois ela os incomodava. (por Rui Martins)
2 comentários:
Não assisti esse filme ainda e, portanto, a crítica que ora faço não é dirigida aos produtores do mesmo.
Segundo dados divulgados, trinta milhões de brasileiros portam problema auditivo.
A maioria dos filmes brasileiros são produzidos com grande parte de recursos vindo de incentivos fiscais. Nada contra; nos filmes colombianos, argentinos, bolivianos, os créditos das agências governamentais de apoio ao cinema aparecem na tela.
A maioria dos nossos atores veio da televisão ou a televisão fez escola, pois eles não falam, não articulam bem as palavras; simplesmente ciciam.
Mesmo em boas salas, com excelente sistema de som como o CINESESC, da rua Augusta, eu e muitos amigos que portam a deficiência auditiva [e os que não portam também] têm muita dificuldade em acompanhar um diálogo conforme o ator, devido a falta de formação, e mesmo esforço, exercício em aprimorar a comunicação oral.
Deviam mirar-se nos grandes vultos de nosso teatro e cinema tais como Paulo Autran, Walmor Chagas, José Wilker e outros de voz nítida e clara.
Depois de um relativo sucesso, o produtor, o diretor, dão "n" entrevistas.
Mostram uma comovente sensibilidade com os dramas que retrataram, mas não são questionados porque não reservaram uma parte dos recursos captados para legendarem o filme, ante esse terrível problema de surdez que afeta milhões de brasileiros.
Vai ser preciso que o grande pai, a grande teta mãe que é o Estado, que implicitamente, em suas obras cinematográficas denunciam, obrigá-los de que todo filme que for produzido com recursos captados mediante incentivos é obrigatório serem legendados.
Ricardo, companheiro de sofrimento, tenho a impressão de que as legendas incomodariam aos que têm audição boa. Mas, nos cinemas com várias salas, talvez fosse possível exibi-los legendados numa delas ou em determinado(s) horário(s).
Há bom tempo não assisto mais a filmes nacionais por causa desse problema. Quando uma série particularmente me interessou, baixei-a e acrescentei legendas em espanhol que fui buscar num site dos hermanos. Funcionou.
Abs.
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