segunda-feira, 15 de abril de 2019

GRAVÍSSIMAS TRAGÉDIAS ANUNCIADAS SE CONSUMAM, ANTE O DESCASO DOS QUE TÊM A RESPONSABILIDADE DE AS PREVENIR – 1

dalton rosado
AS CONTRADIÇÕES SE EVIDENCIAM; O
GOVERNO SE CONTRADIZ; A
BARBÁRIE AUMENTA.
A Petrobrás anunciou um aumento de 5,74% no preço do diesel; o governo, que na última campanha eleitoral explorou ao máximo a quase quebra da estatal brasileira do petróleo, atribuindo-a ao populismo petista (Dilma Rousseff teria segurado os preços, causando prejuízos à estatal, por razões eleitoreiras), teve sua decisão revogada pelo presidente.

Motivo: os caminhoneiros mostraram a sua força paralisando o país há 11 meses e, não podendo repassar o reajuste do óleo diesel para o preço dos fretes,  ameaçaram com outra paralisação caso o reajuste de preço do combustível fosse oficializado.  

As ações da empresa sofreram uma queda de 8% em apenas um dia (cerca de R$ 34,2 bilhões no valor das ditas cujas virou fumaça), por conta de a intervenção presidencial significar prejuízos no faturamento  e uma explícita intervenção estatal na sua política de preços. A lógica do mercado reagiu, reiterando que o lucro deve ser priorizado acima de qualquer outra consideração. 

A contradição neste caso se explicita pelo fato de que, numa ponta, o consumidor exaurido não pode pagar; na outra ponta, a empresa não pode viver sem lucros. O preço do combustível está indexado ao preço internacional do petróleo e ao dólar estadunidense, enquanto a realidade econômica brasileira está indexada a uma depressão renitente que já dura quase cinco anos, sem nenhuma luz à vista no fim do túnel (as projeções do PIB de 2019 são revistas cada vez mais para baixo).
O mercado concluiu que o Paulo Guedes  não apita nada...

Nesta mesma linha de impasse capitalista, o governo, teoricamente liberal na orientação econômica, termina por ser keynesiano na política e se mostra intervencionista por absoluta falta de opção. 

O petróleo, fonte energética adotada como principal motor do sistema de transporte, apesar de poluente, explicita o choque entre política e economia que se expressa numa contradição sistêmica irresolúvel.

O presidente, que ainda outro dia parabenizava a si próprio pelo índice Bovespa ter alcançado 100.000 pontos, deveria agora se dar os pêsames, pois, apenas algumas semanas depois, já caiu para 92.800 pontos (no momento em que escrevo este artigo). 

A contradição entre o discurso e a realidade demonstra a falta de conexão entre interesse econômico e vida social sustentável e cômoda, por força de uma lógica que se constitui numa equação irresolúvel.

A miséria social e a falência estatal produzem um organismo mafioso denominado malícia (a digitação errada foi ato falho, o nome é milícia), que não é um estado paralelo, mas sim um subproduto da própria opressão estatal. 
"as milícias são um cancro num organismo institucional"
Trata-se de um braço apodrecido do organismo estatal, marginal (mesmo que isso não interesse à opressão legal, instituída), visto que seus integrantes têm estreita conexão como o próprio aparelho de Estado, seja na polícia ou no segmento político, com forte presença no parlamento e no executivo.

As milícias são um cancro num organismo institucional por explicitarem a sua marginalidade diante da lei, a mesma lei cuja função é proteger outro tipo de exploração: a que é feita pelo capital, sob a chancela legal.

Alguém duvida que os assassinatos da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson foram praticado por esses dois segmentos tão presentes na vida carioca, em meio a uma divergência assassina de concepções da vida social? 

Até outro dia Marcelo Crivella era prefeito do belo e trágico Rio de Janeiro, eleito com o discurso de combate a corrupção e a invocação de Deus numa cruzada contra o mal. Hoje está sendo alvo de impeachment por privilegiar segmentos evangélicos em detrimento da população como um todo. Deus, certamente, não é um exclusivista que cuida apenas dos seus pretensos fieis. 
"Deus, certamente, não cuida apenas dos seus fiéis"

As mudanças climáticas mundo afora são evidentes, em que pese a indiferença dos governantes fascistas que tudo aceitam, em defesa da permanência dos lucros decorrentes do ecocídio.

Em razão de tudo isso, o Rio de Janeiro derrete. Quando não se morre ou sofre com as enchentes cada vez mais volumosas, morre-se ou se sobressalta com os tiros de uma guerra urbana que não raro tem um bala perdida achando um endereço indevido: a cabeça de um inocente. 

Doze pessoas morrem em São Paulo e outras dez no Rio de Janeiro por conta de temporais previsíveis, sem que nunca sejam tomadas medidas preventivas; outras no desabamento de um prédio construído sem obediência às normas técnicas e sem o devido licenciamento por milicianos (que dizem abertamente, e com propaganda, onde e como comprar desde um botijão de gás até um pequeno apartamento construído numa área de risco para adquirentes pobres).

Um músico é fuzilado diante de sua família, alvejado por 80 tiros desferidos militares mal orientados, que deveriam receber punições exemplares, até como forma de coibir-se a indução ao direito de matar (uma pregação abjeta que muitas vezes é internalizada equivocadamente na mente dos fardados). 
Mina Engenho, a barragem mais ameaçada de MG
De repente, como se nada pudesse ser de antemão sabido pelos órgãos de controle ambientais e técnicos de engenharia especializados, a população brasileira, e especialmente os moradores de áreas de risco das regiões de explorações minerais, descobrem que existem pelo menos 45 barragens ameaçadas de rompimento, com possibilidades concretas de causarem mortes e acarretarem graves danos ambientais aos mananciais fluviais do Brasil. 

São gravíssimas tragédias anunciadas que se consumam, ante o descaso daqueles que têm a responsabilidade de as prevenir. 

O que está por trás de tamanho descaso genocida é uma lógica de relação social assassina que apenas faz uso da necessidade de produção e consumo das mercadorias pelos humanos para os escravizar. O consumo e a produção de mercadorias estão para o capital como o vício (que torna o consumidor de cocaína e outras drogas um dependente químico) está para o traficante. 

Para o lucro empresarial, o que importa é o resultado financeiro, não (nem como se dá) a satisfação do consumo pelos compradores de mercadorias produzidas; para o traficante, não é o prazer ilusório do entorpecente que importa, mas sim a certeza de que ele voltará a comprar a droga por dependência e isto vai lhe proporcionar os lucros exorbitantes de uma mercadorias proibida.

Eu disse, neste artigo de 2016, que a droga é uma mercadoria; e que a mercadoria é uma droga. 

Acabemos com a forma-valor e acabaremos com essa tragédia que é a produção em larga escala de algo tão nocivo socialmente como os entorpecentes; acabemos com a lógica do lucro e faremos barragens seguras e ecologicamente sustentáveis na extração mineral! (por Dalton Rosado)
(continua)

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