domingo, 3 de março de 2019

ABRAÇO DE AFOGADOS: APÓS O REINADO DE MOMO, O REI BOZO REASSUME E VAI VISITAR OS ENROLADÍSSIMOS TRUMP E NETANYAHU.

clóvis rossi
ÍDOLOS DE BOLSONARO
EM APUROS
O presidente Jair Bolsonaro tem agendadas duas viagens internacionais, não por acaso para países governados no momento por seus dois maiores ídolos, o americano Donald Trump e o israelense Binyamin Netanyahu.

Ótimo. O Brasil deve manter de fato boas relações com ambos, como, de resto, o tem feito nos últimos muitíssimos anos.

O problema é que Bolsonaro chegará a Washington e Jerusalém em um mau momento —talvez péssimo— para seus ídolos.

Os rolos de Trump têm sido divulgados um dia sim, o outro também, mas atingiram um cume de escândalo depois do depoimento ao Congresso de Michael Cohen, o ex-advogado pessoal do presidente.

Como se sabe, Cohen chamou seu ex-cliente de racista, mentiroso e vigarista.

Pode estar mentindo? Pode, até porque já mentiu antes. Mas, convenhamos, poucas pessoas teriam melhores condições para avaliar Trump do que Cohen, que com ele conviveu por dez anos.
"racista, mentiroso e vigarista", além de histriônico...

Vale, a propósito, mencionar o que escreveu David Frum para The Atlantic: “O depoimento de Cohen pode não se mostrar inteiramente correto, mas todo ele é plausível”.

É terrível que uma publicação importante ache plausível que o presidente seja um vigarista.

Há, no depoimento de Cohen, um trecho que convida o ministro Sergio Moro a pensar, depois do vexatório desconvite a Ilona Szabó: o ex-advogado, relata o New York Times, ofereceu um retrato daninho da vida na órbita do presidente —na qual, disse, assessores sacrificam integridade pela proximidade com o poder.

Depois da visita a essa Washington tóxica, Bolsonaro partirá para Israel.

Lá, o procurador-geral Avichai Mandelblit avisou que está dando os passos necessários para eventualmente indiciar o primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, envolvido em três casos de corrupção e de abuso de poder.

Antes, Mandelblit ouvirá o premiê. Se não se convencer de suas explicações, vai indiciá-lo, no que seria a primeira vez na história de Israel em que um primeiro-ministro enfrentará acusações criminais na posse do cargo.
"envolvido em três casos de corrupção e abuso de poder"
O indiciamento parece provável, porque “a investigação [que pode levar ao indiciamento] foi conduzida com cautela, alguns até diriam com excessiva cautela, ao longo de muito tempo”, como disse ao jornal digital The Times of Israel Suzie Navot, professora de Direito Constitucional e Parlamentar.

Bolsonaro desembarcará em Israel dias antes da eleição de 9 de abril, em que o simples anúncio do indiciamento pode desbancar Netanyahu: pesquisa de The Times of Israel mostra que o indiciamento roubaria seis cadeiras no Knesset, o Parlamento, da coligação que apoia o premiê, reduzindo-as a 55 de um total de 120. Sem indiciamento, Netanyahu teria uma minoria rasa —61 cadeiras.

Seria, portanto, prudente que Bolsonaro tratasse de manter alguma ponte com o novo bloco de oposição, capitaneado por um militar como o presidente brasileiro o foi.

Chama-se Benny Gantz, ex-chefe do Estado Maior das Forças de Defesa de Israel. Ele criou o bloco Azul e Branco (cores da bandeira de Israel) com dois outros ex-chefes militares (Moshe Yaalon e Gabi Ashkenazi), além do centrista Yair Lapid.

Seria bom que o presidente brasileiro aprendesse que simpatias pessoais não podem determinar relações de país para país, ainda mais quando os ídolos de Bolsonaro estão tão enrolados. 

(por Clóvis Rossi)

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