clóvis rossi
SAI A FORÇA, ENTRA O ESTRANGULAMENTO
Dura derrota da nova direita: aliados dos EUA no continente americano descartaram intervenção armada |
Parêntesis: dias atrás, uma sessão informativa de um alto funcionário americano, cujo nome não pode ser citado conforme as regras do jogo, deixara claro que, quando os Estados Unidos dizem que todas as opções estão sobre a mesa, querem dizer apenas todas as opções políticas, diplomáticas, financeiras e comerciais —não a militar.
Até antes da reunião do Grupo de Lima nesta 2ª feira (25), o repúdio expresso a uma ação militar, partido dos presidentes do Peru e do Chile e do vice-presidente do Brasil, enterra de vez essa hipótese, que, de resto, nunca esteve seriamente no cardápio, exceto talvez na cabeça de Trump.
A opção que ficou de pé —reafirmada pelo vice-presidente Mike Pence— é a de sufocar o regime por meio do aumento das sanções.
A opção que ficou de pé —reafirmada pelo vice-presidente Mike Pence— é a de sufocar o regime por meio do aumento das sanções.
Disparates caem bem nas campanhas eleitorais, não nos governos |
Em consequência, em tese haveria um incentivo para que os militares e outros grupos abandonassem Maduro.
Funciona? Talvez, mas há dois fatos para duvidar da eficácia: primeiro, Cuba está há 60 anos sob bloqueio americano, e a ditadura continua de pé. Segundo, Maduro procura sempre driblar as sanções, buscando fontes alternativas de moeda forte. Embarca, por exemplo, ouro para a Turquia e vende petróleo a terceiros países usando intermediários russos.
Ainda assim, o governo tem cada vez mais dificuldades para conter os protestos. Por um motivo simples, como relata David Parra, no Caracas Chronicles, valiosa publicação digital:
"Estive em muitas manifestações nestes anos de violência na Venezuela. Mas o que vi no dia 23 de fevereiro na fronteira com a Colômbia [as manifestações para tentar forçar a entrada de ajuda humanitária] foi diferente: toda uma sociedade lutando com o desespero daqueles que não têm nada mais a perder".Parece evidente que nenhuma sociedade se dispõe a morrer sem lutar.
Ilustração do Caracas Chronicle: disposição de lutarem contra Maduro teria aumentado |
Posição sensata, mas inviável? Não necessariamente, a julgar pelo relato de Ivan Briscoe, diretor do Programa para a América Latina e o Caribe do International Crisis Group, dedicado precisamente a analisar e, de preferência, prevenir conflitos.
Briscoe conversou com um membro da Assembleia Constituinte, o Parlamento ilegítimo que a ditadura montou para desautorizar a Assembleia Nacional de maioria oposicionista. Esse leal, mas crítico chavista, como Briscoe o definiu, sugeriu que uma saída seria os generais tomarem o poder por um ano ou dois, período em que negociariam um acordo com a oposição e a comunidade internacional e, então, realizar eleições para devolver o poder aos civis.
Pode ser uma posição isolada mas é reveladora de que até no coração do regime há gente pensando em um pós-Maduro. (por Clóvis Rossi)
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