O JORNALISMO SUFOCADO E
AS REDES SOCIAIS ELETRÔNICAS
A cobertura econômica efetuada pela grande mídia — seja a impressa (hoje com menor tiragem), a radiofônica (ainda com muita agilidade e estilo próprio insuperável) ou a televisiva (com grande força de comunicação) — serve ao lucro e ao sistema político do qual é dependente; assim, os seus profissionais da comunicação, os jornalistas, são submissos a esse interesse patronal, ainda que queiram prestar informações pretensamente isentas.
A novíssima variante disso é a mídia eletrônica via internet, que interligou o mundo em tempo real, com acessibilidade fácil e generalizada. Livre das concessões estatais (embora alguns países façam restrições ao seu uso indiscriminado), a mídia eletrônica, entretanto, não está imune à interferência do capital na formação da opinião pública.
Descobriu-se mais recentemente (como ficou claro nas últimas eleições brasileiras) que é possível produzir-se um massacre de informações negativamente manipuladas por essa nova mídia, a partir de mecanismos empresariais robóticos ou utilizando-se internautas pagos.
Além da doutrinação sobre conceitos, valores morais e comportamentais equivocados, a veiculação em massa de notícias pela internet geralmente vem acompanhada das chamadas fake news, que de tanto serem repetidas e de constantemente martelarem as cabeças dos usuários, terminam por estabelecer como verdades informações falsas numa dimensão muito maior que a das transmissões a rádio a mando de Joseph Goebbels na Alemanha nazista.
Lia-se o trabalho liberta logo ao entrar no campo de Auschwitz |
Entretanto, o mais grave no jornalismo ligado às grandes empresas de mídia é a incidência de informações parciais sub-repticiamente positivadas como virtuosas, que são introjetadas de modo sublinear ou mesmo explícito nas mentes dos indivíduos sociais mal aculturados.
Aliás, tais ensinamentos formam conceitos que vêm desde os bancos das escolas (que sempre tiveram e terão partido, no sentido doutrinário) que positivam as categoriais capitalistas pelo via do ensino fundamental até as academias de ensino superior.
Exemplo mais flagrante da positivação do negativo, seja pela grande imprensa burguesa ou pelo sistema educacional, é a frase o trabalho dignifica o homem, que sempre nos foi ensinada como edificante, quando, na verdade, representa a escravização e a alienação do ser humano sob o modo de produção social que lhe é imposto. Uma variante, o trabalho liberta, era o primeiro slogan que os prisioneiros liam ao chegarem nos campos de concentração nazistas.
O jornalismo acrítico, ou politicamente superficial (com algumas exceções que confirmam a regra) considera a mediação social sob a forma-valor (leia-se capitalismo) como dado antropológico natural da sociabilidade humana e como forma ontológica da vida social, corroborando o objeto teleológico do comando midiático empresarial com a superficialidade das críticas comportamentais sociais dos políticos e empresários (um viés que impregna até o noticiário aparentemente neutro, como o policial, o esportivo, etc.).
Assim, os profissionais da grande mídia não conseguem (nem podem) exercer suas funções profissionais com abordagens fora da lógica sistêmica, e acabam atuando como se não fossem possíveis formas sociais alternativas.
"as mazelas do capitalismo são incorrigíveis" |
Daí a incapacidade de contradita jornalística ao que está posto como forma de relação social.
O jornalismo tradicional, mesmo quando se apresenta como crítico, atua como se fosse possível corrigir, por meio de matérias investigativas, as incorrigíveis mazelas inerentes à mediação social político-econômica sob o capital.
Tal forma de crítica, ao invés de ser transformadora, procura manter vivo o sistema ao fazer crer que, se lhe retirassem os desvios comportamentais, viveríamos num mar de rosas. Assim, desvia a atenção da necessidade da superação da essência do modo de ser social existente.
Querer consertar a debacle capitalista a partir de denúncias de corrupção e incompetência administrativa (como os desperdícios em obras superfaturadas, inacabadas, mal construídas a ponto de desabarem, etc.) é função contributiva social, mas que incorre na mesma superficialidade do atual surto justicialista do Poder Judiciário contra a corrupção endêmica.
A função jurisdicional estatal, ao mesmo tempo, descriminaliza o roubo oficial do capital que é feito pela via da extração da mais-valia como se tal prática fosse algo natural e socialmente benéfico.
Vivemos sob uma ética avessa a qualquer código moral humanista mais aceitável (lato sensu). Vai daí que os Moros da vida, quando conscientes do ethos social vigente, são estatistas hipócritas no que tange à busca e promoção do bem-estar social equânime; quando inconscientes, não passam estatistas ignorantes.
Sérgio Moro: um estatista hipócrita? |
Ambos os tipos de magistrados, enquanto pertencentes à estrutura superior de poder do Estado, são, por determinação profissional, carrascos sistêmicos e fieis cumpridores das leis burguesas (magistrados corruptos, tais quais os policiais corruptos, enquadram-se em categorias abjetas, subprodutos sistêmicos que transcendem o escopo deste texto).
Um jornalismo implicitamente enquadrado, impedido de fazer reflexão científico-filosófica sobre o que está subjacente às mazelas sociais que se aprofundam, repete, cansativamente, fatos econômicos e político-criminais, sem que tal noticiário tenha o condão de contribuir para modificar o que está posto.
São poucos os jornalistas que se dispõem a uma prática jornalística fora da caixa, como o que é praticado no blog Náufrago da utopia.
Como advogado que sou, diariamente exerço a minha profissão com os mecanismos jurídico substantivos (leis ordinárias) e adjetivos (leis processuais) que me são facultados, tal como fazem todos os trabalhadores assalariados para garantirem o seu sustento pessoal, dando, mesmo que eventualmente contra as suas vontades, sustentação ao capitalismo com suas produções diárias de mercadorias (serviços aí incluídos) e valor.
Sob o capitalismo, todos os comportamentos profissionais remunerados são imanentes à liberdade de escolha compulsória, ou seja, àquela na qual se tem de escolher entre reproduzir valor para o capital ou morrer de fome; e no jornalismo não é diferente.
"liberdade de escolha compulsória" |
Os jornalistas, em que pese a sua função social informativa e educativa, também não podem fugir dessa camisa-de-força, justamente porque, como os demais trabalhadores, são assalariados que devem cumprir o seu papel a partir do caráter onívoro da mercadoria, que tudo transforma em valor econômico.
Assim, há que se compreenderem as limitações das funções jornalísticas e seus conteúdos, principalmente das atuações não voluntárias. Há também muitos jornalistas que convergem voluntaria e conscientemente para o objeto teleológico da mídia que cumpre o papel de fiel serviçal dos interesses empresariais (estes são os mais incensados e premiados), utilizando suas aptidões para o desiderato socialmente trágico do capital. Nem sempre o talento vem acompanhado de caráter.
A comunicação eletrônica, pela natureza de sua forma, é de mais difícil controle sistêmico, pois não há como selecionar o que interessa ao capital daquilo que lhe é contrário (nesse sentido, os Steve Jobs da vida, mesmo querendo ganhar dinheiro e em razão das contradições inerentes à vida sob o capital, foram revolucionários).
É aí que se pode introduzir a cunha capaz de abrir a fissura do dique.
"massacre de informações manipuladas" |
Nós, que não aceitamos passivamente viver sob as botas do capital e que temos discernimento para promover a emancipação social ao facilitar a compreensão dos problemas estruturais por parte dos cidadãos comuns, devemos e podemos divulgar textos esclarecedores e estimular a participação de pessoas capazes de refletir conceitualmente sobre a possibilidade de um novo modo de sociabilização.
Ainda que o capital possua recursos para intervir poderosamente na comunicação via internet, como vimos na última eleição presidencial, podemos nos contrapor a isso formando um contingente de emancipacionista lúcidos e dispostos a abrir novos caminhos, diferentemente do velho travestido de novo que se nos apresenta para os próximos anos sob Boçalnaro, o ignaro (aquele que brevemente vai evidenciar-se como a maior de todas as fake news brasileiras).
(por Dalton Rosado)
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