segunda-feira, 19 de novembro de 2018

O GRANDE DESAFIO: UM DEBATE ENTRE O EMANCIPACIONISTA DALTON ROSADO E O NEOLIBERAL PAULO GUEDES – 1

Senhores leitores, senhores entrevistados, o objetivo deste debate (*) é o confronto de visões sobre os problemas e soluções sociais para este início de século XXI, e especialmente para o Brasil, nos próximos anos e décadas. 

Temos aqui, de um lado, o pensamento liberal capitalista do economista Paulo Guedes; e do outro lado, a crítica da economia política (uma corrente marxiana que se pretende à esquerda da esquerda marxista tradicional) do advogado Dalton Rosado. 

Agradecendo a presença dos dois debatedores, vamos sem demora à pergunta inicial: 

Qual a visão dos senhores sobre
a realidade social atual?

Paulo Guedes: entendo que a visão estatizante da economia, praticada pelos socialistas (o PT criou 43 estatais em 13 anos) e também por governos fechados como o regime militar (que foi estatizante de infraestrutura, tendo criado 47 estatais em 21 anos, embora haja privatizado outras), causa estagnação econômica e corrupção política. O poder político corrompe e o poder absoluto corrompe ainda mais.

O governo administra mal; o segmento político, quase sempre fisiológico, interfere nisso de modo negativo e corrupto; e o resultado é sempre desastroso. Acredito que só um governante outsider, com visão diferenciada da velha política, pode mudar isso.

O mundo liberal capitalista vem conseguindo reinventar-se e libertar o mundo das amarras do atraso econômico. A eurásia, por exemplo, tem libertado cerca de 3,5 bilhões de pessoas da miséria. 

O capitalismo liberal de mercado está cumprindo uma missão libertadora e o Brasil, para soerguer-se, precisa seguir tal caminho, com competência.

Nos últimos 30 anos houve uma alternância de governos civis que, embalados por um discurso de assistência social pelo Estado, caíram no engodo da irresponsabilidade fiscal a qualquer custo. 

O resultado foi um endividamento a juros altíssimos; custo da máquina estatal elevado, com desníveis salariais de segmentos privilegiados da estrutura do Estado; custo previdenciário em elevação constante; e corrupção nas estatais. 

Essas são as causa primárias de termos um estado que consome 40% do PIB em impostos. sem que nada disso represente crescimento econômico.

Dalton Rosado: primeiramente, cumpre enfatizar que todas as experiências históricas do socialismo (veja que até Hitler se dizia nacional-socialista, uma contradição desde o enunciado) trabalharam com as categorias capitalistas, que são: trabalho abstrato, dinheiro, mercadorias, mercado, Estado, política, etc. 

Como economista liberal bem formado, o senhor sabe muito bem que toda a lógica de produção social era capitalista, diferenciando-se apenas na condução política, por vezes democrático-burguesa, por outras ditatorial, militarista, liberal, keynesiana, ou o diabo que o parta. 

Nada mais estatizante do que um liberal quando a economia fica deprimida; e nada mais liberal do que um governo keynesiano tendo como base uma economia de mercado em ascensão. São os humores da economia que conduzem a política capitalista, seja sob o nome liberal, ditatorial, social democrata ou socialista. 

Se é verdade que o capitalismo, na sua ânsia de conquista de mercados para permanecer vivo, produziu um vertiginoso acesso ao saber científico que melhorou a vida de parte das pessoas mundo afora, também é verdade que nunca se viu na história mundial tanto genocídio pelas guerras e tanta exclusão social! 
"...fruto de uma produção social irracional e consumista..."

Isto sem falar na devastação ecológica, fruto de uma produção social irracional e consumista.

A FAO tem denunciado o aumento da fome no mundo. Assim, se se pode afirmar que alguns países da Eurásia e da Ásia (como a China), graças à industrialização mercadológica, retiraram da extrema miséria agrícola centenas de milhares de pessoas, deve-se igualmente destacar que agora os chineses se veem ameaçados por uma dívida pública e privada que ascende a mais de 235% por cento do PIB. 

Isto torna imperativo que a roda da economia (ora ameaçada pela estagnação mundial) continue a girar na mesma velocidade, sob pena de um colapso econômico que sacudirá toda a economia mundial. 

A China está provocando um tsunami na economia mundial a partir de produção de mercadorias com salários baixos. É o crescimento rabo de cavalo, para baixo.
"...quebra do sistema financeiro internacional..."

O estopim do colapso capitalista deverá ser a quebra do sistema financeiro internacional do qual o senhor é defensor. A economia mundial, ao contrário do que o senhor sustenta como economista liberal e banqueiro que é, está patinando de modo preocupante. Quem diz isto são as estatísticas mundiais, que o senhor tem omitido.

Mas, vamos nos restringir ao Brasil. A que os senhores atribuem a atual situação de falência da União, estados e municípios, assim como os índices de
crescimento pífios ou negativos da economia? 

Guedes: o déficit fiscal deriva de comportamentos econômicos irresponsáveis, tendo como objetivo a eleição mais próxima. Ficamos presos ao nosso próprio espaço mental da social-democracia do PSDB e do PT nos últimos 24 anos, bem como da insanidade econômica dos planos econômicos de Sarney e Collor entre 1985 e 1992, com apenas uma iniciativa de relativo sucesso, o Plano Real do Governo Itamar Franco.
"...o Brasil fez tudo errado nas últimas décadas..."

O Brasil fez tudo errado nas últimas décadas. Promoveu um endividamento a juros extorsivos no mercado mundial, para alegria dos rentistas; fez cortesias previdenciárias irresponsáveis para o funcionalismo público; praticou a corrupção nas estatais e com o dinheiro público, que faliu as primeiras; proibiu a chegada dos recursos aos municípios, que é onde o povo vive; espoliou o produtor do agronegócio e das industrias como se fossem os vilões da sociedade; e fez um conluio da governabilidade com o segmento político mais fisiológico e corrupto. 

O resultado disso é que perdemos competitividade industrial e passamos a ser meros fornecedores de matérias-primas para o mercado mundial e importadores de manufaturados. Tudo aqui está de cabeça para baixo.   

O problema não é o capitalismo, que, nos últimos dois milênios, alavancou o crescimento na humanidade em todos os campos do saber: mas o capitalismo burro do assistencialismo social-democrata das últimas décadas, posteriores ao esgotamento do regime militar. 
A História se repete...
Dalton: o problema de sua análise econômica é que ela parte de alguns pressupostos corretos e de outros nem tanto, mas com premissas contextuais e de conteúdo equivocadas para chegar a conclusões insubsistentes.  

Não há nada de novo no seu discurso de nova política e por quantos se alinham ou se subsumam ao seu pensamento, que mais parece a velha UDN moralista de 65 anos atrás rediviva. A nossa história se repete, com o velho travestido de novo.   

É preciso compreender sob quais condições o Brasil se insere na economia mundial atual e qual a dinâmica do capitalismo no século XXI, no qual a tecnologia aplicada à produção (questão de forma) se choca com a questão de conteúdo (a diminuição da massa global de valor e de extração da mais-valia).

O Brasil é um país da periferia do capitalismo e, como tal, não tem mecanismos monetários artificiais que lhe ajudem a manter sua economia em níveis de consumo e produção suficientes para garantirem a ilusão de prosperidade (como ocorre com os Estados Unidos, p. ex.).
...com o velho...

Precisamos entender que o segmento político corrupto e fisiológico não se constitui numa exclusividade brasileira, sendo, tão somente, mais avultado por aqui do que nos países do chamado 1º mundo.  Sempre existiu e foi o que deu sustentação à nossa absurda desigualdade social.

Alguém já nos chamou de Belíndia, ou seja, uma mistura da próspera Bélgica com a miserável Índia (que me perdoem os indianos, outrora tão explorados pela colonização capitalista inglesa).

A falência brasileira é a falência dos países periféricos do capitalismo, quadro que, aliás, se repete em toda a América Latina, na qual as ilhas de prosperidade coexistem com um oceano de pobreza.

A América Latina, que tem crescimento anual do PIB de cerca de 1,6%, vê sua pobreza expressa nas levas de emigrantes em busca do trabalho que lhes é negado pelo desemprego estrutural 
...travestido de novo.
Isto além de estarem fugindo de governos autoritários mas democraticamente eleitos, dos esquadrões da morte a soldo de grandes proprietários rurais, das máfias do tráfico de entorpecentes, etc.

Não há mais como se reverter a falência estatal aumentando os impostos cobrado de uma população economicamente exaurida. 

O senhor analisa os nossos problemas como se fossemos uma economia de 1º mundo ou como se pudéssemos competir com as nações prósperas em igualdade de condições. 

O capitalismo tem que ser superado de forma radical para que possamos construir um mundo humanamente viável, tanto do ponto de vista material como ecológico.
.
* Observação do editor: trata-se, evidentemente, de um debate hipotético, idealizado pelo Dalton para expor, de forma didática e esclarecedora, as diferenças entre o pensamento econômico que norteará o governo de Jair Bolsonaro (enquanto durar) e uma alternativa possível, a da corrente de reinterpretação de Marx conhecida como crítica do valor.
(continua neste post)

3 comentários:

Anônimo disse...

Não somente os hindus foram explorados pelos ingleses, mas todos os indianos.

celsolungaretti disse...

Não se pode acertar sempre. Não tendo particular interesse pela Índia, fiquei com a impressão de que os nascidos na Índia fossem hindus.

E cometi um pecado capital no jornalismo, o de, ao copidescar o texto, corrigir errado o que o autor (Dalton) havia grafado corretamente.

Valeu o toque, já desfiz a lambança. Abs. (Celso)

SF disse...

***
Não tinha outro nome para por a debater com Dalton?
Os economistas e suas teorias, quem sabe?

Celso, apresentar o Posto Ipiranga como representante do pensamento liberal capitalista, só pode ser ironia.
Ele está mais para um bananeiro típico do mercado financeiro estatal-capitalista local.

Dizem que ele teve ótimas relações com executivos que administraram fundos de pensão da CEF, Petrobrás, Correios e BB. Ora, como esses fundos sofreram vários prejuízos com a compra de "títulos da Venezuela" e outros péssimos negócios, ao passo que o Ipiranga criou fundos de investimentos que receberam vultosos aportes destes mesmos fundos de pensão (em alguns casos com lucro para o Posto e prejuízos para os fundos), será que teria condições de mexer nos arquivos e desmascarar os desmandos nos fundos?

Ah! Bancos públicos. Ele foi fundador da BTG: que comprou o Panamericano em parceria com a CEF, comprou títulos da CEF com 90% de desconto e teve o ex-presidente preso na lava-jato.
Será que este cara tem critério para responder alguma coisa de economia? Será que ele liderará a devassa? A conferir...

Related Posts with Thumbnails