quinta-feira, 15 de novembro de 2018

AS REDES SOCIAIS TORNARAM-SE GRANDES DIFUSORAS DE MISTÉRIOS E ESCURIDÃO

Toque do editor
Nunca fui preconceituoso com relação à proveniência de textos consistentes e esclarecedores. Avalio o que está escrito, não quem o escreveu. A postura contrária não passa de uma repetição do macartismo e suas listas negras, pouco importando se a prática estiver sendo hoje adotada por pessoas ditas de esquerda.

Neste feriado chocho, o que de melhor encontrei em termos de política nacional foi o editorial abaixo da Folha de S. Paulo, por dar mais detalhes de como as redes sociais foram utilizadas para fabricarem um monstro, no pior estelionato eleitoral brasileiro de todos os tempos.

Estou descrente de que a Justiça Eleitoral ouse tomar a única decisão cabível face à enormidade da manipulação operada: a cassação da chapa vencedora da eleição presidencial de 2018.

É importante, contudo, sabermos o máximo possível sobre Goebbels update, para não sermos surpreendidos de novo, não só nas eleições, como noutras situações em que os poderosos necessitarem impingir sua visão aos incautos.

Se desta vez o jornal da ditabranda, paradoxalmente, está prestando um bom serviço aos leitores, ótimo! Como dizia o título brasileiro do clássico Shane (com Alan Ladd),  os brutos também amam... (por Celso Lungaretti)
REDES DE ESCURIDÃO
Não surpreende a resposta protocolar ao Tribunal Superior Eleitoral, quase insultuosa de tão cínica, dos conglomerados que dominam as chamadas redes sociais sobre a atuação de empresas no impulsionamento de mensagens eleitorais.

Desdenhar autoridades investidas do poder legítimo tem sido o padrão desses oligopólios. Dobram-se diante de ditaduras, mas sentem-se à vontade para contornar duros questionamentos em democracias onde atuam.

A solicitação do ministro Luís Roberto Barroso a Google, Facebook, Twitter, Instagram e WhatsApp foi objetiva: deveriam identificar "a contratação de impulsionamento de conteúdos na rede mundial de computadores em favor do candidato eleito à Presidência da República, senhor Jair Messias Bolsonaro", e informar detalhes como data e valor dos contratos.

Está longe de satisfazer à indagação responder, como Twitter e Facebook, que a campanha do PSL não contratou o serviço. É preciso saber se outras pessoas, físicas ou jurídicas, agiram para catalisar mensagens em prol da chapa.

Em setembro o TSE multou um empresário por ter feito exatamente isso, mas nem sequer esse fato notório o Facebook reportou.

Reportagem da Folha em outubro revelou que empresários apoiadores de Jair Bolsonaro contrataram agências para impulsionar, no WhatsApp, conteúdo desfavorável ao seu adversário no 2º turno, Fernando Haddad.

Como a plataforma de troca de mensagens não aceita impulsionamento pago, o subterfúgio utilizado é a mobilização em massa de números telefônicos, fora do país inclusive, para que o disparo múltiplo atinja grupos de pessoas que se comunicam pela ferramenta.

Essa ação na surdina não é feita diretamente pela campanha nem pelos empresários contratantes, mas por operadores intermediários. O WhatsApp, porém, tem como detectar o movimento atípico e chegar aos seus perpetradores.
Tanto tem que, logo após a publicação da reportagem, suspendeu as contas de quatro agências mencionadas. Por que não informa ao TSE quantas contas associadas a esses intermediários baniu? Ou a lista dos números detectados em atividades suspeitas? Ou os dados do tráfego anômalo de conteúdo ao longo da campanha eleitoral?

O WhatsApp, que pertence ao Facebook, não faz isso porque está acostumado a se valer das virtudes da democracia, como o devido processo legal, para dissimular os males que o uso indiscriminado dos seus dispositivos está provocando nas sociedades abertas.

As redes sociais tornaram-se grandes difusoras de mistérios e escuridão. Derrotar a sua petulância e lançar luz sobre as suas práticas daninhas é uma tarefa inadiável do poder legalmente constituído.

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