segunda-feira, 29 de outubro de 2018

SE DEUS É POR ELE, QUEM SERÁ CONTRA ELE?

Citando um versículo bíblico, em João 8.32 (Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará); com oração de olhos fechados, à maneira evangélica, dita por um pastor, no estilo dos crentes estadunidenses; e dizendo o lema nazista (Deutschland über alles) traduzido para o português (o Brasil acima de tudo), Bolsonaro fez seu primeiro discurso de boas intenções como presidente.

Não especificou, contudo, nenhuma medida que pretenda adotar; apenas afirmou repetidamente que vai cumprir a lei e a Constituição.

Sem dúvida, muitos católicos devem ter se arrependido do voto, pois pela primeira vez na história do católico Brasil, um presidente adotou a maneira evangélica estadunidense, digna de um Trump. Adeus laicidade.

Uma decisão ficou bem clara, logo no começo de seu discurso – a de que acabou o que chamou de flerte com o socialismo, comunismo, populismo e extremismo de esquerda. Se aplicar isso só no seu governo, será seu direito, mas o perigo é o de se tornar um regra para entidades, associações, manifestações e opções artísticas.

Como agora o Brasil vai só acompanhar os grandes países liberais, deverá haver uma mudança total da política internacional brasileira, seguindo principalmente os Estados Unidos e deixando de ser o incômodo país que, dentro da Organização Mundial do Comércio, questionava o protecionismo estadunidense.

E o Acordo de Paris, Bolsonaro fará como Trump? Houve um desmentido durante a campanha, porém resta ainda a dúvida – a ecologia será respeitada ou o Brasil, como os EUA, dirá também que o aquecimento global nada tem a ver com os predadores humanos?

Sem dúvida, a insistência na citação da Bíblia e de Deus, mais a oração pública guiada por um pastor evangélico são um agradecimento ao esforço dos evangélicos em considerar Bolsonaro como um messias enviado para solucionar os problemas brasileiros. Sem o apoio dos evangélicos não teria sido possível a vitória.

No passado, houve sempre a presença próxima do clero católico junto do poder, porém é a primeira vez que um conglomerado de igrejas evangélicas substitui o populismo apenas político, dando uma coloração de influência teocrática numa competição presidencial. 

Infelizmente, isto lembra a rapidez com que as denominações protestantes alemãs apoiaram Hitler e nos faz entrar no mesmo esquema de governos muçulmanos, como o Irã, onde o poder supremo é religioso.
Aonde iremos? Estamos realmente intrigados em saber. E, nos inspirando em Bolsonaro, dizemos que deus nos proteja, mesmo se nele não acreditamos e preferimos que fique longe da política. 

A participação de carros com militares na comemoração da eleição reforçou nossos temores.
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(por Rui Martins, editor do Direto da Redação)

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