(continuação deste post)
Mas, nas repúblicas mercantis, capitalistas, nascidas sob a égide do iluminismo burguês, há uns que são mais iguais do que outros, com a balança da justiça pendendo sempre em seu favor.
Costumo dizer que, neste sentido, o poder Judiciário é o cutelo dos poderosos: o carrasco executor final de um interesse sistêmico que está longe de ser isonômico.
O ato de julgar fica, assim, previamente maculado por uma ordem legiferada flagrantemente injusta. E ai daquele magistrado que se meta a subverter esta lógica, pois será punido por sua desobediência jurídica!
A iniciativa histórica de combate à corrupção promovida por um juiz federal de primeira instância, prática em princípio elogiável, deve ser, também, compreendida no seu sentido macrossocial sistêmico.
O combate à corrupção com o dinheiro público está contido no interesse sistêmico capitalista, pois visa preservar o erário público (que tem como função manter e promover a injusta ordem mercantil segregacionista) contra a ganância de empresários e políticos que buscam o enriquecimento fácil ou precisam de recursos para investirem nas eleições seguintes e, assim, manterem seu naco de poder.
A corrupção com o dinheiro do erário público conspira contra o próprio capital (como subproduto nocivo à funcionalidade da sua lógica) e somente por isto é coibida, com seu combate sendo considerado como como providência jurisdicional virtuosa pela ordem sistêmica.
Daí tal juiz ser incensado por instituições do grande irmão do norte e pelos donos do PIB como um herói. O povo também vai nessa onda, mesmo sem saber exatamente onde foi que o galo cantou.
Não devemos esquecer que os Estados Unidos, tão cioso de sua função de palmatória do mundo e sempre disposto a cobrar comportamentos éticos dos outros países, é aquele mesmo país que sempre apoiou governantes corruptos e subservientes de carteirinha, como o truculento presidente cubano Fulgêncio Batista, títere estadunidense até ser desposto pelos guerrilheiros.
Hoje sabemos que os EUA estavam prontos para ajudar, com grande aparato militar já estacionado na nossa costa, os militares brasileiros, caso houvesse resistência ao golpe de 1964.
Assim como sabemos que as empresas estadunidenses sempre fizeram dumping no mercado internacional e/ou corromperam governantes para serem favorecidas na contratação de obras faraônicas ou serviços de larga abrangência social (companhias de energia elétrica, construção de hidroelétricas, construção e exploração de ferrovias, venda e distribuição de petróleo, etc.).
Entretanto, apressam-se em condenar as Odebrecht tupiniquins como se somente a eles fosse permitido fazer o que a Odebrecht fez.
Corrupção está na essência constitutiva do capitalismo |
Há um componente de hipocrisia jurídico-processual internacional nisso tudo, e que envolve o judiciário instrumentalmente.
O poder Judiciário daqui e dos Estados Unidos apenas cumpre a agenda jurídico-processual de um sistema carregado de contradições, injusto na sua essência constitutiva antológica e ontológica.
A mais severa das ditaduras é aquela exercida sob a capa preta de um poder legitimado pela ordem constitucional vigente, e que quer parecer isonômico sem sê-lo. (por Dalton Rosado)
2 comentários:
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Parabéns pelo seu diligente esforço de nos esclarecer através de textos coerentes e bem escritos.
Isto de escrever bem, não consigo. Aliás, tenho estado com a mente um pouco fatigada, devido ao transcorrer dos anos. Possivelmente, não comentarei mais.
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O mínimo estudo que empreendi levou-me a perceber que todo é qualquer governo converge para tirania. As mazelas apontadas no seu artigo são as provas dessa afirmação.
Mas, considerando isso fato pacífico, existem duas perguntas a serem feitas.
Se todo governo é uma tirania, porque precisamos de governos?
Será que não somos capazes de governar a nós mesmos?
Ao que parece, não.
Então, tome tirania!
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O crepúsculo dos tiranos.
A tirania dos togados está chegando ao fim.
As Perícias estão se estruturando.
A prova material se impõe com sua objetividade, norteando a aplicação da Justiça. Ao passo que, a subjetividade pedante dos magistrados é uma coisa anacrônica. Palpiteiros que submergem num mar de evidências científicas.
Em breve, terão avaliadas suas atitudes.
Veremos se sua ação é parte do problema ou da solução.
Se eles suportam auditorias isentas do resultado do seu "trabalho".
Caro SF,
entendo que o poder verticalizado em qualquer sociedade (poder estatal) é sempre nocivo porque serve a determinados interesses de subjugação do povo. O poder vertical é sempre despótico, ainda que diluído em vários poderes independentes e harmônicos entre si, como nas repúblicas ditas democráticas.
As sociedades podem, e devem, organizar-se a partir de estruturas descentralizadas que reflitam micro-comandos dentro de um determinado padrão de produção social (que é o que define o caráter das sociedades) voltado para a satisfação das necessidades coletivas, e com cânones jurídicos que serão substancialmente diferenciados do nossos atual direito civil e consentâneos com esse desiderato (o conteúdo deve ser sempre coadunado com a forma, e quando isso não acontece, como agora ocorre com o capitalismo, é prenúncio de ruptura e limite do modelo adotado) no que diz respeito à distribuição e uso dessa produção.
Vou lamentar bastante se você deixe de escrever, principalmente comentando nossos artigos, porque eles propiciam esclarecimentos de nossa parte e contribuem para o debate (ainda que o blog não seja tribuna ou instrumento de instrução acadêmica).
Ademais, o ato de escrever nos mantêm lúcidos, pois exercitam o cérebro, e nos ajudam a aprender. Exemplo disso é a resposta que ora lhe damos, que serve para esclarecer para mim mesmo e aos leitores a minha opinião sobre o poder vertical do Estado.
Um abraço agradecido, Dalton Rosado.
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