quarta-feira, 30 de maio de 2018

"QUASE 9 EM CADA 10 BRASILEIROS ESTÃO EM REVOLTA DESNORTEADA"

Por Celso Lungaretti
Reproduzo o artigo abaixo do comentarista político e econômico Vinícius Torres Freire por ele estar certíssimo quanto às contradições que flagra nas opiniões do povo, dos políticos e de contingentes majoritários da esquerda brasileira sobre a paralisação dos caminhoneiros.

Mas, deixo registrada a ressalva de que Freire também erra, ao dar a entender que a explosão, a agonia crônica e a inflação têm como alternativa cortes (de despesas) e rediscussão da divisão do bolo

Como há muito venho alertando e o Dalton Rosado esmiuçando, o capitalismo está em sua agonia final, que ainda pode tardar umas poucas décadas mas é inexorável e inevitável.

Então, a alternativa verdadeira é a revolução, pois, seja para qual lado se estique o cobertor do capitalismo, sempre haverá uma parte do corpo descoberta (com o agravante de que tal parte não pára de crescer). 

Mas presumo que, mesmo se Freire concordasse comigo, não lhe permitiriam afirmá-lo nas páginas da Folha de S. Paulo...

Por Vinícius Torres Freire
PAÍS SE REVOLTA
CONTRA SI E NÃO SABE
Um tanto como no junho de 2013, no maio de 2018 há uma revolta quase geral dos brasileiros contra si mesmos, mas os revoltados não sabem disso. 

Acreditam que a culpa de tudo que está aí é do bode expiatório de duas cabeças, a corrupção e a política, que nos impede de chegar até o fim do arco-íris, onde se encontra o pote de ouro a ser aberto e dividido para benefício geral, sem conflitos.

Pesquisa Datafolha mostra que 87% dos brasileiros são a favor da paralisação dos caminhões. Também 87% recusam a solução de aumentar impostos ou cortar gastos a fim de pagar a conta do diesel. 

Caso os caminhões continuem parados, 88% acham que o governo deve continuar a negociar uma solução, sem recorrer à força. 

Mais da metade dos brasileiros, 56%, acha que o paradão caminhoneiro deve continuar, sem mais.

Quase nove em dez brasileiros estão em revolta desnorteada, uma escassa explicação restante para o apoio quase irrestrito a um protesto que está ou esteve à beira de levar economia e relações sociais ao colapso. 
"Uma elite política quase toda desprezível"
Anos de recessão, de escândalos corruptos e a nova revolta contra impostos e governantes em geral acabaram com a paciência.

Uma elite política quase toda desprezível e que sequestrou o país acabou com a esperança. 

A classe dirigente toda, elites de variada espécie, não são muito melhores, pois tolera essa escória, quando não é cúmplice.

Mas o povo que se revolta contra a mão pesada dos impostos é o mesmo que quer a mão do governo a balançar o berço, subsídios para todos. 

O neopopulismo diz que não há conflito social e político na disputa por recursos públicos e privados. O inimigo é o governante malvado, o corrupto.

As principais lideranças políticas, numa combinação de ignorância, irresponsabilidade e oportunismo demagógico, deixam circular por aí a ideia de que há maná para todos, que não há apropriação excessiva ou indevida de recursos públicos ou injustiças outras. 

Essa fantasia está para acabar, de um modo ou de outro. Os recursos públicos chegarão ao limite no ano que vem ou em 2020.

Sem cortes e rediscussão da divisão do bolo, a disputa será feroz e nenhuma saída será indolor.

Candidatos a presidente ratificam a ilusão geral de que combater a corrupção ou cortar cargos comissionados pode dar conta do problema. Líderes do Congresso dizem que há sobras orçamentárias.

O paradão caminhoneiro e suas repercussões são um ensaio geral para a crise fiscal que virá. 

Pode ser uma explosão, se tentarem resolvê-la por meio de mais endividamento. Pode ser uma agonia crônica, morte nacional lenta, se for resolvida apenas no corte de gastos, sem mudanças estruturais. Pode ser uma inflação, com o que a vida será um inferno, mas um tanto mais fresco para os ricos, com a miséria ficando para os mais pobres. 

Mas a crise virá. Como eu já escrevi em julho de 2013: “O povo das ruas vai descobrir que o pote de ouro é pequeno; que redividi-lo vai exigir conversa ou conflito. Talvez descubra que boa parte do ouro não está no castelo estatal. No fundo desse castelo do tudo que está aí, enfim, tem um espelho”.

2 comentários:

SF disse...

***
O revolucionário Celso continua firme e forte.
Você vê a revolução como resposta para tudo.
Será?

celsolungaretti disse...

Dê uma lida no post de hoje. Ele deixa as coisas bem mais claras.

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