terça-feira, 3 de abril de 2018

A BOMBA-RELÓGIO DO COLAPSO DO CAPITAL FINANCEIRO JÁ ESTÁ ATIVADA – 2

(continuação deste post)
Cumpre-nos afirmar que tanto o capital financeiro como o capital produtor de mercadorias, sanguessugas sociais, têm idênticas funções, de vez que estão circunscritos ao universo mercantil do vazio fim em si da valorização do valor e, mesmo se constituindo em formas diferenciadas de exploração social, são idênticas no conteúdo, sem tirar nem por.           

Historicamente o capital financeiro faz um pacto com o capital produtor de mercadorias e comercio destas, a chamada economia real, no sentido de alimentar o necessário e crescente investimento deste último setor da atividade econômica em capital constante (máquinas e equipamentos, tecnologia e instalações) para fazer face à concorrência de mercado. É que nele se opera a fratricida busca pela hegemonia do capital, na qual uns crescem na exata medida em que a maioria sucumbe. 

É graças a essa dinâmica inevitável que 82% da riqueza mundial se concentra nas mãos de apenas 1% da população mundial, segundo a ONG Britânica Oxfam, cujo relatório foi apresentado no último Fórum Econômico de Davos, na Suíça.  

O inevitável processo de concentração do capital, que hoje atinge esses níveis insuportáveis, decorre do fato de que quem ganha a concorrência de mercado sobrevive e aniquila os seus concorrentes. Hoje não se pode ser dono de uma pequena unidade fabril ou de uma única farmácia, pois somente subsistem na indústria ou no comércio quem tem capital para a vitória na autofagia capitalista.
A conexão interna entre capital financeiro e capital produtor de mercadorias estabelece um liame indissolúvel, sendo, portanto, ambas pertencentes ao mesmo universo socialmente nocivo da forma-valor. 

Quando à economia real não produz mais-valia necessária para a remuneração do capital financeiro rompe-se a corrente e se prenuncia o começo do fim, como agora está a ocorrer.

SINTOMAS DO FUTURO COLAPSO

O capital financeiro financia o capital produtor de mercadorias; ambos vivem da dinâmica desta última produção, que lhes deve remunerar. 

Entretanto, ao atingir-se o estágio do limite absoluto da capacidade de expansão dessa produção, todo o edifício financeiro tende a ruir como ruiu em pouquíssimo tempo as aparentemente indestrutíveis torres gêmeas do World Trade Center de Nova York. 

Vejamos dois exemplos abrangentes do apocalipse financeiro anunciado:

1) as dívida públicas insolváveis – O sintoma mais visível e previsível do colapso futuro do sistema financeiro pode ser extraído da questão das dívidas públicas insolváveis. 

O sistema mundial de crédito, hoje interligado de modo inseparável, desde há muito deixou de financiar a produção de mercadorias para financiar as finanças públicas dos Estados nacionais, cada vez mais endividados. 

O dinheiro carreado pelo sistema bancário via aplicações financeiras de entes públicos, pessoas jurídicas e físicas, são atualmente aplicados, em maior parte, na compra de títulos públicos. Assim, os bancos ganham um spread (uma percentagem de juros nessa intermediação) sem aparentemente correrem nenhum risco de insolvência. 

Ocorre, entretanto, que os Estados nacionais, enquanto devedores desse colossal débito para com os bancos (os quais, por sua vez, são devedores dos aplicadores privados), não têm a menor condição de saldar as suas dívidas acaso seus credores exigirem a devolução dos valores aplicados ao invés de o reaplicarem.      

Mas, mesmo que os credores privados não exijam simultaneamente o seu dinheirinho de volta, o crescimento constante de tal dívida, como resultado da incompatibilidade entre a arrecadação de impostos e o suprimento das demandas sociais e manutenção da máquina estatal, aponta para uma insolvabilidade até dos serviços da dívida (ou seja, dos juros correspondentes).   

Uma dívida insolvável é, portanto, capital fictício que aposta numa extração de mais-valia e de um lucro advindo da atividade produtora de mercadorias que não virá. A constatação da insolvabilidade da dívida pública e privada estratosférica, impagável, prova, ipso facto, a falência de todo o sistema de crédito, ainda que continue apresentando lucros contábeis (sem substância) nunca antes registrados. 
Na prática o sistema financeiro mundial está falido, apenas esperando a hora da decretação dessa falência. Até lá, contudo, continuará sacrificando os empobrecidos do mundo inteiro com a cobrança dos juros escorchantes que lhe permitem alongar sua agonia. 

Tais empobrecidos se situam exatamente nos países periféricos do capitalismo, que são obrigados ao pagamento desses juros com taxas insuportáveis. 

Paralelamente, os países donos do PIB mundial, como os da União Européia, os EUA, Japão e China, maiores devedores em termos relativos (percentagem da dívida em relação ao PIB) e absolutos (valores de suas dívidas), conseguem obter taxas de juros baixas, ou até mesmo nulas.

Os grandes credores mundiais, situados exatamente nesses países, preferiam manter suas dinheiramas em aplicações dos ditos países por questão de segurança; agora já estão botando as suas barbas de molho e procurando ativos pretensamente mais seguros.  

O Brasil, p. ex., pagou no exercício fiscal de 2016, um montante de R$ 407 bilhões em juros, que corresponde a cerca de 8% do PIB nacional (R$ 6,6 trilhões, um pibinho relativamente à sua população e extensão territorial, bem como na comparação com os países do chamado 1º mundo). 

Os juros pagos anualmente pelo Brasil, que tem uma dívida pública de pouco mais de 70% em relação ao PIB (bem menor, proporcionalmente, à dívida pública dos países donos do PIB mundial), correspondem a quase duas vezes todo o capital contábil da Petrobrás (R$ 205 bilhões). 

Trata-se de uma corrupção ainda maior do que aquela perpetrada pelos ladrões dessa estatal. E o vilão é inalcançável por parte de nossas cruzadas contra a corrupção, pois foi praticada pelo sistema financeiro mundial, em detrimento de todo o povo brasileiro. 

A agiotagem financeira que sacrifica o Brasil é a mesma que fustiga mais de uma centena de países mundo afora. Esta é a verdadeira face do capitalismo mundial.

As agências de rating jamais fazem a avaliação crítica aqui exposta; não devem, portanto, ser tidas como analistas sérias e isentas, embora os noticiosos burgueses assim as considerem. 

Somos pobres do ponto de vista da riqueza abstrata; temos níveis absurdos de concentração de renda; e, ainda por cima, sofremos a extorsão do capital financeiro mundial. Resta-nos o consolo de sermos um dos países mais ricos do mundo em riquezas materiais, as quais, no entanto, hoje são inacessíveis ao povo brasileiro. 

No dia em que o capitalismo falir e se estabelecer uma nova forma de relação social mundial, solidária e distributiva, o Brasil deixará de ser o país do futuro para ser apenas uma região que compartilha a sua riqueza material abundante com os demais povos do planeta, numa relação mundial fraterna de reciprocidade de tratamento. É o que eu espero e acredito. 

Salta aos olhos que a colossal dívida pública e privada mundial não pode ser saldada pela economia real, produtora de mercadorias, única capaz de produzir valor válido sob os critérios capitalistas. A bomba-relógio do colapso financeiro mundial já está, portanto, ativada.

2) a explosiva economia chinesa – A China tem atualmente um PIB de USD 12,1 trilhões e cresce 6,7% ao ano. O crescimento chinês se baseou no endividamento público e privado que, hoje, alcança 270% do seu PIB. 

Ou seja, acumulou uma dívida colossal de USD 30 trilhões, que é impagável sem produção de mercadorias em proporções gigantescas. Necessita extrair mais-valia e obter lucros suficientes para saldá-la e, ainda, fazer frente aos juros correspondentes.   

Conforme afirmou o FMI “as enormes dívidas pública e privada da China estão num caminho perigoso, implicando o risco de uma desaceleração de crescimento econômico”.

Ora, a China está esbarrando no limite interno da expansão capitalista, cujo extraordinário crescimento somente lhe foi possível graças à sua pequena participação anterior no comercio exterior e ao baixo nível dos salários dos seus trabalhadores, trazidos do campo para a cidade como servos miseráveis do trabalho abstrato.  

Na medida em que a China afetou a concorrência internacional capitalista abocanhando grande fatia do mercado mundial (que tem limite de consumo pré-estabelecido), o Tio Sam, antes ferrenho defensor do livre mercado, agora está impondo-lhe barreiras alfandegárias protecionistas de mercado.

Entretanto, as barreiras alfandegárias contra a China podem torná-la insolvente de sua colossal dívida para com o sistema financeiro mundial. Com isto, vai abrir-se uma fissura do tamanho da muralha da China no já combalido sistema financeiro internacional. 

O capitalismo está numa sinuca de bico. Ou, lembrando outra expressão popular, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come(por Dalton Rosado)

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails