sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O PT ESPERAVA BENEFICIAR-SE DA LENTIDÃO JUDICIAL, COMO OS OUTROS PARTIDOS? QUANTA INGENUIDADE!

Toque do editor
Como de hábito, o articulista Hélio Schwartsman teve algo inteligente a dizer sobre a rápida tramitação na Justiça do processo que pode abater a campanha presidencial do Lula, então vale a pena disponibilizar sua opinião aos leitores deste blog.

Eu vejo a coisa de forma mais simples.

O PT, em parte, é herdeiro da tradição revolucionária, segundo a qual, numa Justiça de classe, prevalecem os interesses da classe dominante.

E Lula, o representante mais emblemático da corrente que conduziu o PT à acomodação com a burguesia, trocando a luta de classes pela harmonização de interesses, embora, nesta barganha sórdida, a parte do leão acabe sempre cabendo ao grande capital: ele mantém firmemente em suas mãos as rédeas da política econômica, que, segundo Karl Marx, é a mais determinante em qualquer governo, pois decide como serão repartidos os frutos do trabalho.

Mas, sob Lula e em boa parte por causa do Lula, o PT acreditou que, firmando o pacto com o diabo  (expresso na repulsiva Carta ao Povo Brasileiro de junho de 2002), passaria a receber o mesmo tratamento dado aos demais partidos. Quanta ingenuidade!

Bastou reeleger uma presidente incapaz e que estava conduzindo o país ao caos econômico para os donos do PIB, com a maior sem-cerimônia, a expelirem pela via parlamentar.
Isto era in para o PT no século passado, hoje é out...
Ou seja: não basta haver abandonado os ideais revolucionários para o PT ter o direito de gerenciar indefinidamente o capitalismo sob a tutela dos capitalistas ("Moço, posso tomar conta do seu carro?"). Precisa também desempenhar o papel de serviçal com um mínimo de competência...

E, ainda que o poder econômico tenha decidido utilizar durante algum tempo os préstimos do PT, não deixou de apoiar, por baixo do pano, o enfraquecimento do partido via mensalão. Houve um momento, no primeiro mandato do Lula, em que poderia, inclusive, tê-lo derrubado, mas naquele instante não lhe convinha ir tão longe. Quem realmente incomodava era o Zé Dirceu, e este foi tirado do caminho.

Os dirigentes petistas  então se defenderam, face à opinião pública, com a alegação pinoquiana de que não existira mensalão nenhum (só os devotos incondicionais engoliram a balela).
Desde 2002 a postura do PT mudou

Houve também quem, com mais sinceridade, admitisse o prática da corrupção por parte do PT, ressalvando, contudo, que os partidos de centro e de direita sempre fizeram a mesmíssima coisa sem que o rigor da lei despencasse com tamanha contundência sobre eles.

Eu mesmo concordo e assino embaixo. Mas, alertei que o fato de a lei ser frouxamente cumprida com relação a outrem não obriga a Justiça e a polícia a tratarem da mesma forma o PT. Aos olhos da opinião pública, soava patético o chororô de que "os outros delinquiam em paz e nós somos crucificados". O erro não era o que se estava fazendo com o PT, mas sim a impunidade (às vezes total, às vezes parcial) dos demais.

O ridículo se repete, com os protestos de que a Justiça brasileira nunca agiu tão rapidamente como está agindo para condenar Lula em 2ª instância. É uma ofensa à inteligência dos cidadãos.

No fundo, o pecado pelo qual o PT está pagando é o de ter acreditado que, esquecendo Marx e adotando como guia (embora sem admiti-lo explicitamente) Eduard Bernstein, o pai do reformismo, passaria a ser visto pela burguesia como parceiro, tanto quanto o PSDB ou o PMDB, p. ex. 

Não percebeu que estava sendo apenas tolerado pelos poderosos, enquanto isto lhes convinha...
LULA TEM DIREITO À LENTIDÃO?
Os advogados de Luiz Inácio Lula da Silva questionam a rapidez com que o recurso do ex-presidente tramitou no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Sustentam que a celeridade dada ao caso viola o princípio da isonomia, pelo qual todos os cidadãos deveriam receber igual tratamento.

Uma implicação interessante da tese da defesa é a de que haveria uma espécie de direito de usufruir da ineficiência do Estado. Se a Justiça é lenta, não pode ficar rápida logo no meu caso –mesmo que a morosidade seja reconhecida por todos como falha a extirpar. 

O debate é intelectualmente estimulante, mas, por outros motivos, acho que o TRF-4 está certo em correr com o processo de Lula. Não dá para fingir que este é um caso ordinário e não tem nada de especial.

Se os magistrados confirmarem a sentença do juiz Sergio Moro, o ex-presidente, que é pré-candidato do PT para voltar ao posto em 2019, fica em tese inelegível (Lei da Ficha Limpa) e pode até ser preso. 
Próxima parada: Palácio do Planalto ou cadeia de Curitiba?

Se o absolverem, Lula dificilmente seria impedido de concorrer e, caso vencesse e reassumisse o cargo, todos os outros processos a que ele responde ficariam suspensos até o fim do mandato. Em qualquer hipótese, uma eleição com Lula na corrida será totalmente diferente de uma sem ele.

A democracia tem como pressuposto a estabilidade e a previsibilidade dos processos. À luz desses princípios, acho que a sociedade tem o direito de entrar na campanha sabendo quem está habilitado a concorrer e quem não está. 

O pior cenário, o mais instável, me parece, seria uma possível prisão do candidato líder nas pesquisas no auge da campanha ou sua cassação depois de eleito.

Eu preferiria que o petista disputasse. Penso que é importante para a democracia que o principal dirigente de um partido que fracassou tanto no campo ético como no administrativo enfrente o contraditório político na campanha e seja derrotado pelo voto, não pelas regras de alistamento.

2 comentários:

SF disse...


Celso o PT nunca leu Epíteto e o que ele fala sobre pagar o preço do banquete.

Ou, o que esperar quando visitar um alto dignatário...(Enchiridion - Epíteto)

Agora, o perda total é só chororô e vitimismo.

Imagine se Sêneca se rebaixaria tanto?
Condenado injustamente, preferiu a morte!

Até o "velhinho" teve mais hombridade que o pernambucano.

Tranquilo.
Não está no nosso domínio a volição alheia.

Alguns, você incluso, procurou alertá-los.

Se estão na situação difícil, por falta de aviso é que não foi.

celsolungaretti disse...

Você me fez lembrar da greve de fome do Lula. Que ridícula! Será que ele não se tocou de que só parte para algo assim quem está disposto a morrer?

Quando eu lutava por minha anistia, em 2004 e 2005, várias vezes a situação esteve desesperadora. Fiquei a pique de perder tudo que me restava, a companheira com a qual vivia e o apê cujos alugueis de não pagos se acumulavam.

Tinha decidido: se fosse despejado, não iria para baixo da ponte, mas sim para o tudo ou nada, numa greve de fome em Brasília.

Mas, foi aparecendo uma ajudazinha daqui e dali, a própria dona da administradora de imóveis me deu uma força e consegui ir-me mantendo à tona, até que a Comissão de Anistia me concedeu o benefício e dei a volta por cima.

Enquanto havia qualquer outra opção, evitei a greve de fome, pois tinha consciência de que é uma iniciativa da qual não podemos recuar de jeito nenhum, sob pena de desmoralizar o que geralmente é a última cartada de um revolucionário.

O Lula e o Garotinho a desmoralizaram, sem dúvida. Até o Bispo do São Francisco foi mais valente do que esses dois.

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