domingo, 12 de novembro de 2017

BOLSONARO EM PELE DE CORDEIRO

"O capitão da reserva [Jair Bolsonaro] passou a angariar apoio após desbancar os preferidos do mercado nas pesquisas eleitorais e despontar como rival do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno. O próprio Bolsonaro se deu conta do trunfo.

Enquanto Lula seguiu pelo interior do Brasil numa caravana sem paz ou amor pelas reformas, Bolsonaro chegou a se reunir com investidores em Nova York, apoiado pelo banqueiro Gerald Brant, da firma de investimentos Stonehaven.

O seu novo combo econômico fala de Estado mínimo, eficiente e livre da corrupção; prega a redução do juro para 2%; e até aceita privatizações —algo no mínimo esquisito para um nacionalista de carteirinha que considera um perigo o avanço global chinês.

...'Bolsonaro adotou uma atitude que precisa ser olhada com cuidado, mas que segue numa toada mais construtiva: tem sido menos polêmico', afirma Ignacio Crespo, economista da corretora Guide Investimentos.
Quer que acreditemos na sua nova imagem? Deveria começar renegando o Mein Kampf brasileiro...
A guinada liberal foi recente. Em março deste ano, em entrevista à Folha [de S. Paulo], disse ser 'completamente contra' a reforma da Previdência, p. ex. (...) Em outubro, o tom já era de cautela. 'Dá para sair, devagar, dá.'

...'O Bolsonaro falava em estatizar companhias, agora diz que tem que diminuir o tamanho do Estado. Ele gera imprevisibilidade', afirma Celson Plácido, estrategista-chefe da XP Investimentos.

Quem tem estrada no mercado financeiro tece explicações para o fenômeno. 'Pela conversa com investidores, o Lula hoje é um problema. Pode ser disruptivo. O Bolsonaro tenderia a causar um estresse menor no mercado', avalia Raphael Figueredo, sócio-analista da empresa de análise Eleven Financial.
...além de tomar muitos calmantes.

Haveria também uma aversão ao PT. 'Bolsonaro se torna mais interessante porque não seria o PT no poder. Mesmo o Lula tendo feito um primeiro governo favorável ao mercado, a percepção hoje é que ficaria mais fácil com Bolsonaro montar um ministério com figuras alinhadas à atual agenda', diz José Francisco de Lima, economista-chefe do banco Fator.

Para o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, o que está ocorrendo é autoenganação coletiva.

'A visão do Bolsonaro sobre economia é zero, ele nunca teve preocupação com isso. Mas agora ele está fazendo um discurso liberal para reduzir a resistência do establishment econômico contra ele. É uma estratégia. O liberalismo econômico não está no DNA dele', afirma."

(trechos selecionados da notícia Mercado flerta com agenda reformista de
Bolsonarode autoria da repórter Danielle Brant, publicada
na edição dominical da Folha de S. Paulo)

2 comentários:

SF disse...

Se o que você diz for verdade o Bolsonaro será teleguiado pelo poder econômico.
E suas análises são bem acertadas.

Mas, depois de 2008, o neo-liberalismo está com o filme queimado.

Ao final de tudo, sairam em busca do Estado para os salvar da falência.

Logo, coisas como desatitazação (desratização?) e estado mínimo são interessantes, desde que acompanhadas de uma reforma fiscal = diminuição drástica dos impostos.

Pode restar ao Estado a segurança pública que: impõe a formação de cidadãos e forças de segurança bem aparelhadas e a serviço do bem comum.
Bem comum esse, expresso numa constituição enxuta que explicite deveres, muito mais do que direitos.

A formação de cidadãos deve vir de uma Educação que vise formar e não apenas informar. Na qual os valores também reprovem o aluno, pois não adianta ter o saber e não ter caráter para usá-lo bem.

O que nã dá. Admitamos! Não tem como continuar! É o estado se imiscuir em tudo. Do alfinete ao foguete o intruso está se intrometendo e perturbando.

E essa mudança virá.

Poderia já ter vindo, se a sensatez tivesse balizado as decisões dos dirigentes. Se a Prudência os guiasse.

Ah! Esqueci... sensatez e prudência são valores pequeno-burgueses e "todo poder ao soviet"!

Amigo, caridade deve ser feita por filantropos. A suas expensas.
Arte, se boa, terá sua vez.
Quem produz petróleo são petroleiras.
E por aí vai...

Ao Estado compete gerar um clima de tranquilidade e Justiça para que os cidadãos possam desenvolver suas atividades em paz e harmonia.

E hoje em dia "cidadão" é um conceito mais global. Todo planeta já é nosso.

Portanto, seja vindo de maneira traumática ou não, a mudança virá.

E se o povo não tiver equilíbrio dará ouvidas a múmia gritando veladamente: eu eu eu ...!

E se tiver que passar por grandes sofrimentos, passará. Pois só se colhe o que se planta!

A cada dia se tem a oportunidade de ser melhor, no limite nas nossas possibilidades, mas se desprezamos essa oportunidade cotidiana, como mereceremos conquistar algo de bom na sociedade, ou do Estado?

Adonar-se do que outros construiram nunca foi o caminho.

Anônimo disse...

Tenho sérias dúvidas sobre estes efeitos procurados pelo capitão. E a primeira delas é se por ser capitão pode alimentar esperanças de passar a general... Há casos, sim, mas não são significativos. Chavez era coronel e virou general-presidente, Napoleão era cabo e virou imperador. Hitler, bem... Era a voz do ressentimento exacerbado depois dos erros do Tratado de Versailles. Mas eram outros tempos e a história não se repete tintim por tintim.
De qualquer forma, o capitão precisaria representar os “sans-culottes” do século XXI para angariar votos. O mercado financeiro e seus “opinion makers” não dão sustança eleitoral. Nem a turma com saudades da ditadura.
Preocupação? Claro. No caso de uma pletora de candidatos quem tem 30% ou mesmo 20% pode e deve chegar ao 2º turno. Os chamados “neoliberais”, agentes do mercado financeiro e cultores do monetarismo estão agarrados ao poder há muitos anos. Mas até o FMI dá sinais de mudar.
A questão da estatização passa pelo problema enorme de uma nação cujos rumos estão determinados pelo poder central e centralizado. Com mais de 70% dos recursos fiscais nas mãos a União é que tem o poder e, como todos sabemos, segue o que lhe é determinado pelos donos do poder, isto é, a burguesia e, em termos, a pequena burguesia – os ratos e as moscas que voejam em torno do poder centralizado. Alvo fácil para os grandes tubarões. A interface para atingi-lo é menor e mais cara. O rebatimento regional dos recursos fiscais é a forma de calar a boca do populacho. Estados também manobram e atraem moscas ao desfrutar de algo em torno de 25% da massa tributária. As comunidades, os distritos municipais, estão limitados aos restos que, mesmo assim, estão na mão de prefeitos...
Resultado: ficamos reféns entre o capitalismo das corporações e o capitalismo do Estado. Com a preciosa ajuda dos marqueteiros de plantão somos arrastados para a indigência ideológica, agora mais ainda com o surgimento das tais “bolhas” de opiniões homogêneas fabricadas pelos navegadores e redes sociais. A tal da inteligência artificial está a serviço não apenas do consumismo, mas também da fabricação de fantoches virtuais. E assim o capitalismo faz um diferimento dos avanços sociais.
Precisamos de uma virada libertária...Janjão

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