segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A MULTIDÃO DE ZUMBIS SEGUE UM MODO DE PRODUÇÃO IRRACIONAL SEM QUESTIONAR; A ESQUERDA MAJORITÁRIA, INCLUSIVE.

O QUE É ANTICAPITALISMO

"A utopia é a doença infantil do capitalismo,
não do comunismo" (Robert Kurz, Ler Marx)

Por que o capitalismo liberal (capitalismo privado) se parece tanto com o capitalismo de Estado (socialismo real)? 

A resposta não pode ser outra senão a constatação de que ambos são iguais nas suas essências constitutivas, diferenciando-se apenas na questão da organização política:

— o capitalismo liberal, por ser dono dos meios de produção de mercadorias, impõe, sob sua exploração econômica, a extração de mais-valia dos trabalhadores assalariados; 

— o socialismo real, por ser dono dos meios de produção de mercadorias por meio do Estado, impõe, sob sua exploração econômica, a extração de mais valia dos trabalhadores assalariados;

— o capitalismo liberal e o socialismo real têm ambos o dinheiro e as mercadorias como forma de mediação social inquestionável, com administração do controle monetário (ora irremediavelmente incontrolável) pelo Estado; 

— o capitalismo liberal defende a sua estrutura de organização política e social, tendo o Estado como organismo pretensamente capaz de prover as necessidades sociais via cobrança de impostos. Este diz funcionar como esfera social neutra e isenta, quando, na verdade, configura-se como linha regulamentadora auxiliar da coerção tácita ou explícita do trabalho abstrato, fonte da exploração dos trabalhadores e de indução das demais categorias capitalista (não sendo, portanto, nem neutro, nem isento);
Os zumbis da vida real

— o socialismo real defende a sua organização político social a partir de um Estado forte, proprietário e cobrador de impostos dos cidadãos, e tido como pretenso organismo a serviço dos trabalhadores, que são mantidos como tais por coerção explícita ao trabalho abstrato, fonte da exploração dos primeiros (os trabalhadores assalariados). O capital tem dinâmica auto-produtiva que não admite distribuição que depaupere a sua necessária sanha aumentativa; 

— o capitalismo liberal defende a tese falaciosa de que a invisible hand do mercado seria capaz de estabelecer critérios de eficiência, qualidade, equilíbrio de produção de mercadorias, meritocracia, redução de custos de produção capaz de viabilizar o consumo coletivo, etc.;

— o socialismo real defende a proteção, a partir do Estado forte, do mercado interno contra a concorrência internacional de mercado, bem como a planificação da economia com a pretensão de potencializar a produção de mercadorias para as necessidades coletivas de consumo (isto somente até ter de abrir suas fronteiras ao mercado externo);
  
— e por aí vai. 

Como se pode depreender das diferenciações acima referidas, todas elas:

— integram o universo de formas políticas de conduta, e não de conteúdo intrínseco existencial; 

— inserem-se no invólucro das categorias históricas, não ontológicas, imanentes ao modo de produção capitalista, cuja síntese foi mundo bem definida pelo Marx esotérico como pertencentes ao universo do fetichismo da mercadoria e sua dimensão tácita que tudo transforma a partir do seu caráter onívoro.
Tresler, verbo intransitivo: ler de trás para diante; ler às avessas.
Não é por menos que o Marx exotérico teve vida curta, dele hoje restando apenas grupelhos remanescentes ou marxistas pós-modernos, ditos reflexivos, que mais não são do que envergonhados reformistas do próprio invólucro do capitalismo. 

Isto se dá porque ele se circunscreveu apenas à luta de classes, como se a produção de valor estivesse inquestionavelmente acima do bem e do mal, podendo ser boa ou má, dependendo apenas da forma de sua apropriação e distribuição, ainda que tais postulados tenham sido negados a tempo pelo próprio Marx, ao afirmar que “não sou marxista”.

Mas, agora, quando as categorias capitalistas de trabalho abstrato, valor, mercadoria, mercado, dinheiro, Estado, política, democracia, presentes nos dois modelos políticos antes identificados (capitalismo liberal e socialismo real), tornam evidentes os seus limites internos absolutos existenciais provocando uma crise categorial sem precedentes históricos, o discurso político e as ações administrativas imanentes ao invólucro capitalista não apresentam alternativas capazes de superação dos problemas por elas mesmas causados. 

Caem, portanto, no descrédito popular consciente ou inconsciente, pois os cidadãos estão cansados de uma empiria que empurra o futuro para épocas cada vez mais distantes, enquanto  afirma o presente como tragédia social crescente. 
Frase de Daniel Tanuro, eco-socialista belga. 
O discurso político vigente, quando não é ridículo ou canastrão, é falacioso, e isto dos dois lados da vida política:  sob o invólucro capitalista liberal ou keynesiano.

Nada mais conservador do que um partido de esquerda investido no poder político do Estado em crise econômica.

Nada mais keynesiano do que um neoliberal quando se trata de salvar a economia das labaredas cada vez mais intensas de um modo de produção que se tornou anacrônico por suas contradições existenciais.

OS ENSINAMENTOS DO MARX ESOTÉRICO,
 VERDADEIRAMENTE ANTICAPITALISTA

Foi o Marx da maturidade quem, a partir do discurso sobre o fetichismo da mercadoria, questionou as categorias capitalistas, após um estudo profundo que lhe consumiu anos de reflexões e análises históricas e empíricas, até que se tornou capaz de prospectar e vaticinar um futuro que agora é atingido (e isto durante a 1ª revolução industrial e sua não simultaneidade, como agora ocorre com a globalização da economia) 

E fê-lo de forma científica brilhante, demonstrando, de forma lógica a irracionalidade de um modo de produção social caracterizado por contradições internas não facilmente identificáveis, e que é racional apenas dentro da estreiteza de um sistema objetivado que admite como naturais procedimentos antinaturais (sendo a compra e venda o primeiro deles). 

No último domingo (26) assisti a um debate televisivo no qual o ex-governador Tarso Genro, do PT, defendia a formação de uma frente ampla de esquerda (preferencialmente com Lula à frente), capaz, segundo ele, de implantar um programa de governo com vistas à manutenção das franquias sociais conquistadas. 

Vale lembrar que o entrevistado se pretende à esquerda do PT quando defende aliança com o resto da esquerda; já o seu guru não tem o menor pejo em buscar alianças com a direita corrupta que procura governar na base da aceitação da chantagem como critério para a concessão de apoio político. 

A inconsistência discursiva é total, somente podendo agradar aos desavisados de plantão.  

Ora, mesmo o discurso aparentemente avançado, ainda que bem intencionado e vindo de um antigo marxista tradicional convertido ao lulismo, demonstra à saciedade a ignorância, pela esquerda, da dinâmica do capital em crise e dos postulados do Marx da crítica da economia política, cujo vaticínio correto demonstra que não há saída para algo que está nos seus estertores: o capitalismo. 

A insistência em reformas econômicas, ainda que de modo bem intencionado visem a justa distribuição do dinheiro, apenas reflete o desconhecimento da própria dinâmica da formação e reprodução do dinheiro, que agora se encontra em fase de incapacidade auto-reprodutiva dentro das exigências da economia mundial. 

A insistência no gerenciamento do Estado como instrumento de realização das demandas sociais mínimas, mais parece a mendicância de pedintes escravizados ao seu senhor para que seja menos mau.

A esquerda institucional, predominantemente, e mesmo os resíduos da esquerda marxista tradicional não institucionalizada, estão pateticamente perdidos.      

A nós, que desejamos e lutamos pela emancipação humana, não há por que deixarmos de nos debruçar sobre os ensinamentos do Marx esotérico, da crítica das categorias capitalistas, para que, de pé sobre os seus ombros, possamos vislumbrar novos horizontes.
Devemos nos contrapor a tudo que represente a manutenção da coerção tácita ou explícita da forma-valor, viabilizada pelo fetichismo da mercadoria, ainda que isto pareça ser, para o pensamento inserido no invólucro capitalista desse mesmo fetichismo da mercadoria, coisa de gente fora da realidade.

Na verdade, a imensa massa de zumbis que segue sem questionamento um modo de produção irracional, procurando reformá-lo, tanto do ponto de vista social como ecológico, é que está fora de uma realidade que se impõe a olhos vistos e que a cada dia vai se tornar mais evidente. 

Quando o pensamento crítico científico social se coadunar com a realidade, exigindo novas posturas sociais por absoluta falta de alternativas dentro do invólucro capitalista, inverter-se-ão as posições do pensar atual, ou seja, os que eram considerados sábios cientistas políticos ou políticos institucionais tornar-se-ão ridículos analistas de uma mídia manipuladora e executores de ações de partidos políticos falaciosos e insensatos. (por Dalton Rosado)

2 comentários:

Valmir disse...

não existe nenhuma outra forma de produção que não seja capitalismo...então a critica não faz nenhum sentido.

celsolungaretti disse...

Caro Valmir,

quando os portugueses chegaram à costa brasileira, há apenas 517 anos, encontraram, segundo a carta de Pero Vaz de Caminha, belas índias com suas vergonhas desnudas. Todas e todos produziam comidas, bebiam, e eram felizes, sem o modo de produção capitalista.

O modo de produção capitalista não é ontológico, mas histórico (com nascimento, vida e morte). Pense nisso.

Dalton Rosado

Related Posts with Thumbnails