Pilatos, fugindo da sua responsabilidade. Fez escola. |
O resultado final vai ser exatamente o mesmo: ela ficará na gaveta até o dito cujo concluir o mandato, perdendo então a imunidade. Só que as indefinições se prolongarão inutilmente e ninguém vai ganhar nada, exceto aqueles parlamentares que receberão seus regalos natalinos já em outubro.
Brasileiro adora satanizar vilões reais ou supostos, lançar diatribes exaltadas contra os poderosos e posar de rebelde sem o ser. Ir à luta que é bom, pouquíssimos vão.
Quando me lembro de que as manifestações contra a ditadura em 1968 seguramente reuniram, no Brasil inteiro, pelo menos 500 mil pessoas, mas nem 5 mil continuaram firmes na resistência depois da assinatura do AI-5 (quando os milicos desembestaram o terrorismo de Estado), dá vontade de chorar.
Só nesta passeata éramos 100 mil. Aí a barra pesou e... |
Quantos imprescindíveis morreram! Quantos prescindíveis se preservaram, para depois ajudarem a tirar a esquerda dos trilhos revolucionários e conduzi-la à conciliação de classes!
Mesma coisa agora: malhar no teclado o insignificante Temer como se fosse um Judas em sábado de Aleluia é simples, cômodo e dá prestígio.
Ir travar as lutas do povo e organizá-lo para a luta contra o poder econômico do qual Temer e todos os presidentes da República brasileiros são mero serviçais, isto quase ninguém vai. É complicado, incômodo e corre-se o risco de sangrar ou ser preso.
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Carrancas nunca mais! |
Deu zebra. Um jornalista de direita alertou os golpistas e estes, à cata de pretextos para o fechamento político, fingiram-se escandalizados, exigindo que o Congresso lhes entregasse a cabeça do deputado fanfarrão. Os parlamentares, gatos escaldados, resolveram não aceitar a imposição, temerosos de que, na sequência, muitas outras cabeças rolassem. Estava criada a justificativa para a virada de mesa.
Como as lições da História são facilmente esquecidas por aqui, muitos fazem estardalhaço sobre o que melhor seria minimizar. O que o Mourão-que-queria-ser-Olympio-mas-não-é disse normalmente teria pouca repercussão entre os fardados de hoje, mais preocupados em subir na carreira do que em brincar de salvadores da Pátria. Já uma punição a ele, ainda mais se for decorrente de pressões dos paisanos, vai angariar-lhe solidariedade.
Quem é burro, pede a Deus que o mate e ao diabo que o carregue.
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As quarteladas no Brasil são decididas pelos grandes capitalistas e executadas pelos militares. No momento, os donos do PIB não têm motivo nenhum para darem o sinal verde, daí a desnecessidade de alguma medida mais drástica por parte do Exército.
Seria possível resolver-se tudo internamente, sem criar-se um desnecessário clima de confronto. Até porque a estabilidade brasileira é muito precária e os cenários mudam rapidamente. Essas crises podem começar num momento em que não são perigosas e o desfecho ocorrer num momento em que se terão tornado perigosas. Malandro que é malandro não dá sopa pro azar.
Ou, dito de outra forma, é uma má hora para se brincar com fogo. Pode-se sair queimado ou, pior ainda, botar fogo no circo.
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