Políticos profissionais, retórica à parte, têm lá seus interesses comuns... |
Os advogados do Lula, Dilma, Temer e Aécio articulam o lançamento de um manifesto conjunto para questionar as ilegalidades cometidas pelo Judiciário e o Ministério Público no combate à corrupção.
Dramatizando um pouco, pleitearão o fim do Estado de exceção. Mas, têm toda razão ao denunciarem que não podem cumprir plenamente seu papel de defensores quando vários dispositivos legais que protegem os réus estão sendo atropelados pela cruzada moralista em curso.
Como era facílimo de prever, foram o fracasso e a desmoralização do complô para derrubar o presidente da República, encabeçado pelo perturbador-geral da República e pelas Organizações Globo, que deram o impulso final na articulação.
Cantei esta bola. A Operação Lava Jato parecia ao cidadão comum uma iniciativa não conspurcada pela sórdida politicalha ambiente, daí o apoio entusiástico que recebia, principalmente da classe média. Mas ao instrumentalizá-la, cometendo um sem-número de arbitrariedades para viabilizar uma delação premiada flagrantemente direcionada para uma finalidade política (e golpista, ainda por cima!), Rodrigo Janot colocou um ponto de interrogação na cabeça de todos que são capazes de somar 2+2 e encontrar 4.
Pergunta que não quer calar: o que a Globo almeja com o golpe? |
Como sempre, a Globo superestimou o poder de persuasão de suas manipulações da opinião pública, que só funcionam bem com os videotas, conforme a irônica designação do escritor Jerzy Kosinski.
A coisa deu tanto na vista que o Supremo Tribunal Federal já pisou no freio, ao impedir que o senador Aécio Neves continuasse sendo arbitrariamente impedido de exercer o seu mandato, pois tal medida só poderia ser tomada pelo próprio Senado, jamais por um ministro do STF em decisão monocrática.
O resultado da lambança foi o ministro Edson Fachin receber uma verdadeira aula do seu colega Marco Aurélio Mello sobre as prerrogativas dos Poderes numa democracia burguesa. E, para completar o estrago, o procurador Deltan Dallagnol deitou falação sobre a fantasiosa possibilidade de o Super-Aécio, com liberdade de ação, "articular o fim da Lava Jato", tendo recebido um merecido cala-boca do advogado do senador, que o acusou de praticar "terrorismo" para intimidar o STF.
Também não há dúvida de que as denúncias da família do homem da mala, segundo as quais Rodrigo Rocha Loures estava sendo mantido em condições carcerárias típicas de masmorras medievais como uma forma de coagi-lo à delação premiada, foram o motivo do recuo de Fachin. Aliás, sua decisão de libertá-lo sugere que, após ser publicamente desagravado pelos outros ministros conforme o figurino corporativista, ele pode muito bem ter sofrido um enquadramento nos bastidores, para não continuar servindo de despachante para o Janot.
Não se deve confiar em presente de grego nem em afago do Janot |
O certo é que a Operação Lava-Jato marcha para o desfecho costumeiro das tentativas de erradicar-se a corrupção sob o capitalismo com medidas policialescas: a onda passa e o statu quo ante é, pouco a pouco, restabelecido, até que a roubalheira se torna ostensiva demais e novo ciclo começa. É uma versão na vida real da História Sem Fim ficcional...
Mas, a ilusão serve para conservar os contingentes mais amplos da população entretidos demais com miragens para perceberem o oásis que existe por trás delas: a corrupção pode, sim, ser extirpada, desde que se lance toda a artilharia contra o verdadeiro inimigo, o capitalismo.
Pois, enquanto os seres humanos forem tangidos a buscarem, acima de tudo, enriquecimento pessoal, poder, status e privilégios, sempre haverá mais espertos ou mais ousados encontrando atalhos para atingirem o objetivo à margem das leis vigentes.
Mas, se a prioridade máxima passar a ser o bem comum e incentivar-se, acima de tudo, a cooperação de todos para a felicidade de todos, aí a corrupção perderá sua razão de existir.
4 comentários:
"Statu quo ante", e não "status quo ante". .
Grato,
Marco A.
Celso,
Como você já disse, esmiuçar os enfadonhos movimentos da justiça dominada pela cegueira e numa sociedade na qual o imperativo categórico é o lucro, é tarefa ingrata e contra-producente.
Em alguns momentos você explicita-se como cético o que me faz crer que duvide de haja uma justiça possível. Tanto que adjetiva a palavra justiça com o epiteto burguesa.
Ora, sendo burguesa será mercadoria e não justiça, pois, como vimos aprendendo, existe na ordem social burguesa a trapaça original.
Numa sociedade assim o judiciário e todo aparato do estado existem para a perpetuação da trapaça básica, ou seja, sonegar a parte devida aos trabalhadores na produção da riqueza social.
Assim, não é de se surpreender as distorções da lídima e serena justiça, principalmente quanto ao processo legal eivado de desrespeito ao L.I.M.P.E. (Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência).
E as coisas continuarão neste compasso até esse edifício social ruir completamente.
Sendo também cético, balizo a minha análise pelos rudimentos de teoria dos jogos que consegui captar.
E eles me dizem que os políticos vencerão, mas foram atingidos, e terão de criar novos arranjos para continuar a roubalheira.
O que permanece um mistério para mim é: como?
Não só a evolução científica e tecnológica criou a chance real do fim da miséria, como o nível de inteligência para operá-la suplanta a capacidade mental desses parasitas que infelicitam a humanidade.
Eles não sabem gerir riqueza.
Então, ou regredimos, ou colapsamos ou evoluímos no sentido do bem comum.
Duvido muito que toda a riqueza produzida vai continuar a serviço do vício, da licenciosidade e da vaidade de uma classe.
Agradeço o toque, Marco. Já corrigi.
Fui ver no Google e encontrei tanto defensores de sua posição (segundo eles, a expressão completa é "statu quo ante bellum", que significa "o estado em que as coisas estavam antes da guerra") quanto os que consideram válidas as duas formas.
Acabei concluindo que o certo é mesmo, como vc disse, "statu quo ante". E que, quando não se usa o "ante", é "status quo" mesmo.
Confuso, não? Mas, é preferível usarmos sempre a grafia correta. Valeu!
SF,
lamentavelmente a coisa não será tão fácil.
O capitalismo é pródigo em artifícios para adiar a derrocada final, como o da concessão ad nauseam de crédito para os consumidores continuarem adquirindo os produtos que à vista não teriam mais como bancar e encalhariam em larga escala; a emissão de moeda sem lastro, etc. Além de contar com o formidável poder manipulatório da indústria cultural e com o sinistro poder militar.
Temo que a revolução só "pegará no tranco", ou seja, vai ocorrer quando as sociedades estiverem tão desestruturadas como estavam na Rússia (1917), na China (1948) e em Cuba (1959).
Abs.
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