sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

NERO TOCOU LIRA ENQUANTO ROMA QUEIMAVA. E TRUMP, TOCARÁ TROMPA COM A ECONOMIA DOS EUA DESPENCANDO?

Por Celso Lungaretti
Por maiores que sejam meus esforços, não consigo levar o Donald Trump a sério. Até porque o próprio não se faz por respeitar. 

Quando penso nele, imediatamente me vêm à mente as imagens de outros bizarros da política oficial, como Silvio Berlusconi, Jânio Quadros, João Dória, Enéas Carneiro, Tiririca. Se tomar posse trajando uma toga e se dizendo o novo César, não me surpreenderá...

É óbvio que, por mais patético que seja o personagem, as decisões que tomará como presidente dos EUA terão importância. Mas, estas só saberemos de verdade quais sejam quando começar a governar. Por enquanto, tudo são conjecturas para preencher espaços do noticiário. 
 Famoso precursor do Trump

Cá no blogue não existe a obrigatoriedade de postar-se algo sobre o Trump neste dia em especial, mas, velho jornalista, eu me sentiria em falta se não o fizesse. É difícil , depois de uma longa carreira, abandonarmos os hábitos do ofício.

Por outro lado, não queria nada que o tornasse diferente do que é, pois abomino falsidades. PRESIDENTES DOS EUA como foram, p. ex., Roosevelt, Kennedy e Obama, ele jamais será. Trata-se apenas de mais uma prova eloquente da decadência do capitalismo e da democracia burguesa. Só num fim de feira como o atual os loucos assumem a direção do hospício.

Por sorte, o veterano jornalista e escritor Gilles Lapouge escreveu o artigo abaixo, encontrando o tom ideal para expressar seu estranhamento com relação a presidente tão insólito.

O Giles ainda foi um pouco condescendente, na minha opinião. Mas, ninguém é perfeito...
.
ESPERAMOS O BUFÃO OU O CAUBÓI DURÃO
.
Nasce um trouxa a cada minuto. E todos votaram nele...
Todos esperamos Trump, um pouco como as crianças no circo querem saber quando aparecerá o palhaço ou o leão no picadeiro. Esperamos fazendo graça, mas também com o coração um pouco acelerado..

Porque será tudo isso ao mesmo tempo: um número de teatro de variedades, um número com palhaços ou com animais ferozes, em que todas as figuras se misturam e se confundem. 

E a incapacidade de saber quem é o verdadeiro Trump: o bufão? O sujeito do teatro de variedades cercado por todas essas Barbies que compõem sua família? Ou o caubói, o durão, aquele que “é mais rápido no gatilho do que a própria sombra”?

Em poucas semanas, Trump tornou-se a personalidade de destaque absoluto. Até mesmo os que se sentem mais chocados com sua grosseria, obscenidade, prepotência e caprichos, o observam tremendo de medo.
É o último dos Velhinhos Transviados?

Reconheçamos que ele conseguiu uma façanha: de repente, temos todos esses políticos mundiais, esse espetáculo de exaustão total, esse desfile de marionetes parecidas, todas bem educadas, grisalhas, que se sucedem na ponta dos pés, com a mesma expressão, as mesmas ideias e a mesma insipidez. As mesmas mentiras. 

A principal força de Trump está exatamente nisso: num mundo desprovido de surpresas, ele se encarrega do imprevisível. Ele pode dizer branco hoje, preto amanhã e vermelho depois de amanhã. É aí que está sua capacidade de seduzir. É também sua terrível leviandade. Seu pecado.

Para avaliar quão inesperado é o fenômeno Trump, é preciso ir ao 47.º Fórum Econômico de Davos, onde se reúnem os políticos, os grandes responsáveis pelas decisões, os pensadores. Lá, tudo é chique, meias palavras, silêncios, meios silêncios, os oitavos de silêncio, ironias invisíveis e ceticismos discretos. Aqui respira-se a elite, que há alguns anos vem acumulando o repúdio e o ódio dos populistas e evidentemente dos broncos que levaram Trump às alturas.

Em Davos, os empreendedores até que simpatizam com Trump. Esperam maravilhas dele, para os próprios bolsos. Ao contrário, os políticos, os intelectuais, grande parte dos jornalistas pronunciam a palavra Trump como um palavrão. 
Se bobearmos, este aqui também virará presidente...
No fundo, Davos detesta Trump, porque ele pretende aplicar um programa que contradiz frontalmente o catecismo da elite universal: o liberalismo absoluto, eficaz e às vezes injusto.

Pessoalmente, espero que ele assuma as rédeas. Faço um esforço, mesmo que o personagem me desagrade bastante. Procuro ver se, apesar da vulgaridade, não haverá, num lugar ou em outro, alguma coisa de proveitoso. 

As sociedades avançam num corredor, de cada lado do qual há portas que, por um acordo tácito, ninguém jamais ousa abrir. O que há por trás dessas portas? Ninguém jamais viu. 

Fazer perguntas consideradas tabu: saber se a União Europeia não deveria ser totalmente refeita. Ou ainda, se o general De Gaulle não tinha razão quando optou por sair da Otan. E por que não lembrar também que, durante a guerra, EUA e Reino Unido não hesitaram em aliar-se aos comunistas soviéticos para vencer a infâmia nazista?

Certamente, grande parte das intenções de Trump é repugnante. Muitas das direções que aparentemente ele quer seguir são impasses. São muitos os motivos de alarme. E uma razão a mais para se tentar conhecê-lo sem falsear seu retrato com opiniões preconcebidas. 
(por Gilles Lapouge)


Frank Zappa foi profético. Como sempre...

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails