quinta-feira, 17 de novembro de 2016

ROCK'N ROLL CAN NEVER DIE

Minha primeira seção fixa na Música (1)
Rolou um papo saudosista no Facebook, com o Adalto Alves divulgando um artigo que escreveu para o site da rádio Interativa FM (ele produz o programa Doa a quem doer, uma das atrações da emissora), no qual relembrou o jornalismo musical dos anos '70 (eu incluso):
"Antes da revista Bizz, Maurício Kubrusly editava a SomTrês. Não guardei nenhum exemplar. Saudade. Bem feito. Quem mandou? Li minhas primeiras críticas de música na SomTrês. E pulava toda aquela parte sobre equipamentos de som.
A revista Música também tinha uma parte, que eu pulava, sobre equipamentos de som (...). Cresci ouvindo LPs. Não perdi o tato pelo disco. Adoro ouvir música em disco. 
E ler sobre música em revista. Na SomTrês, conheci Ezequiel Neves. Na Música, conheci André Mauro (ele e Celso Lungaretti são os mesmos). Ezequiel assinava ora Zeca’n’Roll ora Zeca Jagger ora Zeca Rotten. O Celso era o André.
Ezequiel delirava com o rock. Era puro Dionísio. André teorizava sobre o rock. Era Apolo. O primeiro me divertia. O segundo me fazia pensar. Conheci obras maravilhosas por meio do trabalho dos dois. Tenho uma dívida de gratidão impagável.
Mas foi o texto do André que me deu vontade de ser, não jornalista, mas crítico de música. Foi lendo o André que eu pensei: 'é isso o que eu quero fazer'. Bom, hoje eu faço. Nem como o André nem como o Zeca. Mais ou menos como eu mesmo. 
A molecada da Bizz fez o papel de soterrar os coroas. A Bizz era moderna. Surgiu com a new wave. Zeca e André eram dos anos 70. Mais hard rock, heavy metal, punk, progressivo, blues. Mas todas as revistas acabaram. Tudo migrou para a rede.
Com tanta gente na rede, nunca achei quem me deleitasse tanto quanto as extravagâncias do Zeca na SomTrês e as reflexões políticas do André na Música. Talvez eu não esteja procurando direito. Acho que eu sofro de nostalgia".
Uma ousadia, repudiando a autocensura (2)
Um comentarista lhe passou o link deste blogue, mas o Adalto respondeu que não curte a linha atual do meu trabalho:
"Agora ele fala só de política (...).  Não de política através do rock. Eu gostava mais do André.
Acho que eu tenho que avisar o Celso Lungaretti que eu estou falando dele aqui. Ezequiel Neves morreu em 2010".
Não precisou ele avisar, fui avisado pelas notificações do Facebook. E eu entrei na conversa:
"Adalto, o rock que eu curtia se foi, assim como seus grandes expoentes estão indo: Joe Cocker, Leonard Cohen e agora o Leon Russell, que teve uma grande fase no início dos '70, depois voltou ao mero country. 
Há 25 posts com a tag rock no meu blogue, inclusive três que coloco entre os melhores da minha carreira: 2 sobre o Raulzito e o outro, uma panorâmica do festival de Woodstock. Também há outros posts musicais e muitos de cinema (talvez vc ignore, mas também fui crítico de cinema durante anos). 
E, ao contrário dos Pepes Escobares da vida, aos 66 anos continuo acreditando nos ideais da Geração 68 e tentando torná-los realidade. Não virei nenhum rabugento da velha esquerda, fazendo chatíssimas análises geopolíticas e justificando quaisquer ditaduras desde que adversárias dos EUA. Continuo sendo, acima de tudo, um libertário. Abs.".
O Adalto respondeu de forma simpática: 
"Jamais seria capaz de imaginá-lo rabugento, da velha esquerda, defendendo o indefensável, Celso Lungaretti. Vou dar uma olhada, sim, no seu blog, com atenção. 
Abraço fraterno".
Retribui. E me senti mais animado, por ter nova comprovação de que nunca são inteiramente esquecidos os textos nos quais colocamos a alma. Por mais que o mundo pareça marchar em direção contrária aos nossos sonhos, outros momentos históricos haverá, bem como leitores que recordarão nossas bem traçadas linhas e, talvez, inspirem-se nelas para transformar a sociedade. Temos de acreditar, sempre. E continuar lutando, enquanto não nos faltarem forças e lucidez. 
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1) A seção Rock Stars começou com duas páginas, depois passou a quatro e acabou se tornando uma revista independente, em formato menor.
2) Na edição inaugural da Rock Show, uni o útil (pegar no pé da gravadora, que não ousara lançar no Brasil a capa do LP do Scorpions com a menina nua, criando outra, especial para países preconceituosos) ao agradável (os diretores da editora viram na imagem impactante uma oportunidade comercial e bancaram a ideia, apesar dos riscos).

3 comentários:

Leandro Ramos Benfatti disse...

Boa noite Celso! Tudo bem? Li o texto e ouvi a música do Neil Young e gostei! Excelente! E vou continuar compartilhando seus textos e do Dalton Rosado- que, diga-se de passagem, são ótimos!. Abraços!!!

celsolungaretti disse...

Obrigado, Leandro. Desde a primeira vez que a ouvi, "My my hey hey" me pareceu uma espécie de hino do rock. Um pouco mais do que "Born to be wild" (do Steppenwolf) e "Light my fire" (do Doors), que também são empolgantes.

São de um tempo em que o rock era algo além de um ritmo: fazíamos parte de uma minoria que vivia tão à margem do sistema quanto possível. Quando chegávamos numa cidade diferente, com nossos cabelões e roupas coloridas, os roqueiros locais nos protegiam e ajudavam, enquanto os cidadãos comuns olhavam espantados e até hostilizavam.

O Gilberto Gil disse tudo: quem não dormiu no sleeping bag (percorrendo as estradas do Brasil, na maior dureza, mas com muito arrojo e determinação), nem sequer sonhou.

Um forte abraço!

Leandro Ramos Benfatti disse...

Celso, simplesmente ADORO " Light My Fire" do The Doors, é uma música excelente e considero o Jim Morrison um gênio! De vez em quando ouço essa canção do Doors no Kboing (um site de músicas que acesso e do qual gosto muito) e também no YouTube. Quanto aos hippies, entendo que os cidadãos comuns olhavam espantados e até hostilizavam porque na época o Pais estava vivendo os dias da ditadura militar (1964-1985) e também eles faziam isso movidos pelo preconceito e pelo conservadorismo. Um forte abraço também pra você camarada!!!

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