quinta-feira, 10 de novembro de 2016

FINALMENTE, UM EDITORIAL DA "FOLHA" COM O QUAL O BLOGUE PODE CONCORDAR EM GÊNERO, NÚMERO E GRAU!

SUSPEITA ABOMINÁVEL
Resta muito a esclarecer sobre o brutal assassinato de cinco jovens da zona leste de São Paulo, mas o caso já denota a falência do Estado de Direito brasileiro.

No mínimo porque, a exemplo de dezenas de milhares de episódios registrados anualmente, o poder público se mostrou incapaz de proteger a vida dos rapazes, cujas idades variavam de 16 a 30 anos.

O episódio, contudo, não se esgota nesse revoltante fracasso cotidiano. Investiga-se a possibilidade de que o crime tenha sido praticado por membros da Polícia Militar.

Ou seja, na pior das hipóteses, agentes responsáveis por garantir o cumprimento da lei violam a Constituição e o Código Penal para formar um grupo de extermínio, transformando-se em assassinos; na melhor, a suspeita se provará infundada —mas a simples existência dessa suspeita já terá dito o suficiente sobre o país.

As circunstâncias relacionadas aos homicídios são chocantes. Na noite de 21 de outubro, os cinco jovens dirigiram-se para uma festa em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo. Nunca mais foram vistos e não se sabe se a festa ocorreu.
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"letalidade de nossa polícia: em apenas 
seis dias, mata o mesmo que a do 
Reino Unido em 25 anos —55 pessoas"
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Após duas semanas, seus corpos foram encontrados numa mata de Mogi das Cruzes, também na Grande SP. Enterrados em uma ribanceira, todos tinham marcas de diversos tiros; um deles fora decapitado.

Perto das covas rasas havia cápsulas de pistola calibre.40, de uso exclusivo das forças de segurança. Dias antes do desaparecimento das vítimas, policiais teriam consultado seus antecedentes criminais.

Há rumores de que um dos garotos envolveu-se na morte de um agente da PM. Dois deles tinham algum histórico criminal, e um terceiro ficou paraplégico há dois anos, após ser baleado por policiais.
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Os indícios não são decisivos, mas infelizmente não seria surpresa se levassem à pior conclusão. Em agosto do ano passado, um grupo de extermínio assassinou 17 pessoas nas cidades de Osasco e Barueri. Três policiais militares e um guarda-civil foram apontados como autores da chacina.

Dados do 10º Anuário de Segurança Pública atestam a letalidade de nossa polícia: em apenas seis dias, mata o mesmo que a do Reino Unido em 25 anos —55 pessoas.

Esclarecer a morte dos cinco jovens quanto antes não eliminará a desconfiança da maioria dos brasileiros diante daqueles que deveriam cuidar de sua proteção, mas ao menos indicará que as autoridades não são cúmplices desse crime. (editorial da Folha de S. Paulo de 10/11/2016)
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8 comentários:

william Orth disse...

Caro Celso, faltou você dizer que demoram 110 anos para morrer o número de policiais que morre em 1 ano no Brasil. Com relação ao cadeirante o mesmo disse em depoimento na ocorrência que ficou aleijado que realmente disparou contra os policiais. Ainda não há nenhum indício comprovado da participação da PM no ocorrido. Abraço.

Valmir disse...

a policia é obrigada a matar porque a "justiça" aparelhada pela esquerda via faculdades de ciências humanas, instalou porta giratória..onde o bandido entra e sai em minutos. Na delegacia o malfeitor costuma ser liberado antes de sua vitima...depois não entendem quando o Trump é eleito e o Bolsonaro se sente todo animado a tentar o mesmo aqui...

celsolungaretti disse...

William,

não faltou eu dizer nada porque não disse nada: o editorial é da "Folha de S. Paulo", conforme coloquei no título do post e reforcei na última linha. Mas, chamou-me a atenção o que vc escreveu sobre o cadeirantes: quer dizer que, por ele no passado ter disparado contra a polícia, justifica-se que seja sequestrado com outros quatro jovens, executado e depois atirado num buraco qualquer, deixando a família sem sequer um defunto para enterrar?

De resto, se até a "Folha de S. Paulo" está apostando em que os autores foram policiais, é porque o modus operandi é inconfundível. Ou executam depois botam armas nas mãos para fingir que houve resistência à prisão, ou executam e dão sumiço nos restos mortais. Executam sempre, enfim.

Não adiantou o Hélio Bicudo ter acabado com aquele Esquadrão da Morte que o delegado Sérgio Fleury criou quando atuava no Deic. Os esquadrões brotam como cogumelos.

celsolungaretti disse...

Valmir,

quem mata pessoas rendidas não passa de homicida covarde. Não há justificativa nem perdão possíveis para tal escória.

Valmir disse...

"quem mata pessoas rendidas não passa de homicida covarde. Não há justificativa nem perdão possíveis para tal escória."??????????????????

então que recomenda para a maioria dos 60.000 assassinos anuais (bandidos) soltos no país???? que deveria ser feito com eles já que tal "escoria não tem justificativa nem perdão"????

celsolungaretti disse...

Que eu saiba, os bandidos matam durante assaltos, disputando território com outros bandidos, etc. E arcando com as consequências dos seus atos.

Já os que agem como agentes do Estado mas atuam como bandidos, matam por vingança, pelo prazer de matar ou porque estão envolvidos em negócios escusos com bandidos que não são agentes do Estado.

Lembre-se de que o Hélio Bicudo só conseguiu acabar com o Esquadrão da Morte quando provou que seus integrantes não eram justiceiros desvairados, mas sim capangas de um grande traficante, utilizando sua condição de policiais para exterminar os capangas de outros traficantes. Aí a ditadura militar, que protegia o delegado Fleury pelas atrocidades que ele cometeu contra os resistentes, tiraram-lhe a proteção, deixando-o entregue às feras.

Mas, mesmo agentes do Estado que agem como bandidos e assassinos não devem ser exterminados, se é esta a sua pergunta. Devem ser presos, acusados e julgados.

O diabo é que isto dificilmente se faz no Brasil. A ponto de o Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas ter considerado, em junho de 2012, que inexiste qualquer possibilidade de se colocar as polícias militarizadas brasileiras em conformidade com a lei e as práticas civilizadas. Então, recomendou a extinção das ditas cujas, em função não só de seu altíssimo índice de letalidade, mas também do fato de que parte expressiva de tais óbitos se devia a "execuções extrajudiciais"

celsolungaretti disse...

COMENTÁRIO ENVIADO POR E-MAIL PELO DALTOU ROSADO:

Caro Lungaretti,

É incrível como há pessoas que querem transformar as vitimas da miséria social em assassinas e culpadas pela seu própria desgraça; é igualmente incrível que pessoas egressas das camadas populares como muitos PMs (praças e oficiais), ao vestirem os seus uniformes, tornarem-se dependentes dos soldos militares; e recebendo a doutrinação militar em meio à guerra urbana em curso, transformem-se no que estamos vendo.

A "ignorança geral astravanca o pogressio" e "a misera é herege, dotô".

A onda conservadora que se alastra mundo afora está facultando a um determinado segmento da população (que vem crescendo) a exposição dos instintos animalescos mais perversos e tudo de ruim que aí está incluído. Isso não vai terminar bem.

Devemos pensar seriamente em proposições para conter a positivação de personagens xenófobos, belicistas, racistas, machistas, elitistas, arrogantes, segregacionistas, do tipo Bolsonaro, que vem recebendo manifestações de apoio Brasil afora. O tempo de duração dessa gente no poder, até que se chegue à desilusão definitiva com o capitalismo, pode causar um estrago muito grande.

É nisso que dá a esquerda reformista querer administrar o aparelho estatal capitalista, principalmente conciliando com a corrupção e dela sendo participante, justamente no momento de sua crise mais aguda, pois se transforma em decepção perante o povo e termina sendo a incubadora de "salvadores da pátria" do pior tipo.

Um abraço, Dalton Rosado

celsolungaretti disse...

É sempre um perigo apostarmos na repetição mecânica de acontecimentos do passado. A PM paulista tem aparecido com tanta frequência no noticiário de chacinas que dei como favas contadas que seria responsável também pela dos cinco jovens de Mogi das Cruzes. Ainda mais com o editorial da "Folha de S. Paulo" apontando o dedo nessa direção.

Os vilões são da Guarda Civil. Minhas desculpas aos leitores do comentário acima e aos integrantes honestos da Polícia Militar (que também os há, claro!).

Quanto à suspeita que a "Folha" lançou e agora se comprova infundada, cabe a ela escusar-se com os prejudicados. Afinal, contando com todos os recursos de um grande jornal, não deveria cometer tais erros.

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