Por Demétrio Magnoli |
TRIUNFO DE TRUMP DEVEU-SE À SEDUÇÃO PELO NACIONALISMO POPULISTA (extrato)
O brexit não seria aprovado sem os votos das regiões industriais deprimidas de Midlands, antiga fortaleza eleitoral do Partido Trabalhista. Nos EUA agora, como no Reino Unido meses atrás, o homem esquecido segue o demagogo nativista que clama contra o estrangeiro –isto é, o imigrante mexicano ou o exportador chinês.
Uma chaga purulenta infecta a globalização. Hoje, nos EUA, os 1% mais ricos concentram 21% da renda total, perto dos 24% de 1929 e mais que o dobro dos 9% de 1975. A renda média dos 40% mais pobres caiu 8% em relação a 2006. A recuperação econômica significou estagnação ou retrocesso para muitos.
A tóxica mensagem do trumpismo foi ouvida pelos deserdados da globalização e da inovação tecnológica. Uma massa silenciosa de perdedores falou pelo voto, apertando os dedos nas teclas do racismo, da xenofobia, da aversão ao Islã e, sobretudo, da vingança contra a elite globalista...
"Nada está escrito na pedra", rejubilou-se Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional, candidata que lidera as sondagens para a eleição presidencial francesa de abril. Ela congratulou Trump, uma alma irmã, dizendo que o 9/11 abre caminho para dissolver o poder da elite política e midiática.
O brexit antecipou o Dia de Trump, que anuncia o triunfo da FN, explicou, encaixando os eventos numa sequência inteligível...
"O mundo deles entra em colapso; o nosso está em construção", comemorou Florian Philippot, chefe estrategista de Le Pen.
Mas quem são eles, cujo mundo desaba? Eles são os políticos de centro-esquerda e centro-direita, os empresários das novas tecnologias, os financistas sem fronteiras, os profissionais qualificados –mas, também, os imigrantes, os refugiados, os muçulmanos, os judeus, as pessoas de cor ou religião diferente. Make America Great Again (...) dirige-se contra o cosmopolitismo e quer restaurar as certezas antigas, reconstruir uma imaginária idade de ouro.
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