O líder dos sem-teto, Guilherme Boulos, assina conjuntamente com o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) um artigo de repúdio à violência policial em atos de protesto contra o governo de Michel Temer, publicado na Folha de S. Paulo desta 5ª feira, 8. Eis as acusações:
"Como reação à manifestação pacífica [de domingo passado na avenida Paulista], a PM paulista protagonizou cenas de selvageria após o encerramento do ato. Policiais provocaram e atacaram os manifestantes de forma gratuita, quando estes já se dispersavam. Ficou evidente a premeditação e determinação política da ação policial.
Antes disso, a polícia já havia prendido 26 jovens sob a absurda acusação de que 'pretendiam praticar atos de violência'...
Durante a semana, manifestações diárias contra Temer também foram tratadas com repressão em São Paulo e outras capitais, o que ocasionou, inclusive, a perfuração do olho de uma jovem estudante, Deborah Fabri, por conta de uma bomba atirada pela polícia.
A PM vaza-olhos de SP acaba de cegar Deborah Fabri... |
...Há, evidentemente, uma escalada repressiva que ameaça o direito de se manifestar".
Não resta dúvida: a brutalidade com que desde sempre atuam as polícias militares dos Estados tem de ser denunciada e combatida com a máxima firmeza. O direito de manifestação é respeitado em todos os países civilizados e o Brasil não pode ser vergonhosa exceção!
Os dois signatários apoiam a emenda constitucional proposta por um deles, que está encalhada há três anos no Senado: "Por isso defendemos a desmilitarização das polícias, com a aprovação da PEC 51/2013, de autoria do senador Lindbergh Farias".
Eu também venho pregando insistentemente a desmilitarização do policiamento, e já o fazia bem antes dos protestos contra o aumento da tarifa do transporte coletivo em 2013, que motivou a iniciativa do Lindbergh.
Só não engulo a pusilanimidade com que os governos e as bancadas de esquerda, desde a redemocratização, vêm fugindo do problema, ao invés de encará-lo corajosamente: tal desmilitarização deveria ter sido encaminhada, em regime de urgência, a partir de março de 1985! O Brasil está 31 anos atrasado...
...como o fizera com Giuliana Vallone em 2013. |
Entre as grandes vaciladas do Lula e da Dilma no campo dos direitos humanos, ao lado de terem ignorado a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos no sentido de que ditaduras não podem anistiar a si próprias, está a olímpica indiferença face à recomendação do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas no final de maio de 2012, pedindo a extinção das polícias militares brasileiras em função de seu altíssimo índice de letalidade e de parte expressiva de tais óbitos se dever a "execuções extrajudiciais".
Clarividente, o filósofo Bajonas Teixeira de Brito Jr., também no ano de 2012, advertiu:
"O que o PT parece perder de vista é que, como sempre acontece na história com os partidos fracos, gelatinosos, dispostos a todas as concessões e vilanias, a sua política policial se voltará, mais cedo ou mais tarde, contra ele mesmo. E isso pode acontecer logo que, despido de sua auréola e credibilidade por força da violência que criou e tem gerido, deixe de ser um instrumento útil nas garras da fauna de bilionários que hoje se alimenta do Estado. Nesse momento, o criador será entregue como repasto para sua criatura".
RESQUÍCIO DO TERRORISMO DE ESTADO
Na sua trajetória para concentrarem poder na década de 1960, os militares encontraram alguma resistência por parte dos governadores civis que ajudaram a dar o golpe mas depois viram esfumarem-se suas ambições de chefiar o Executivo. Então, os fardados resolveram assegurar-se de que tais paisanos não disporiam de tropas a eles leais
Adhemar de Barros, p. ex., até o último momento acreditou que a Força Pública impediria a cassação do seu mandato (tiraram-no do caminho acusando-o de corrupto –o que ele sempre foi– mas o motivo real era que o governador rouba-mas-faz não se conformava com o monopólio castrense do poder).
Então, nas Constituições impostas de 1967 e 1969, a ditadura fez constar da forma mais incisiva que "as polícias militares (...) e os corpos de bombeiros militares são considerados forças auxiliares, reserva do Exército".
Na prática, seus comandos foram se subordinando cada vez mais aos das Forças Armadas; e as lições de tortura aprendidas de instrutores estadunidenses e aprimoradas nos DOI-Codi's da vida acabaram sendo ciosamente repassadas aos novos pupilos. Daí a tortura ter continuado a grassar solta, longe dos holofotes, depois da redemocratização do País, só mudando o perfil das vítimas (passaram a ser os presos comuns).
Além disto, a ditadura estimulou a absorção da civilizada Guarda Civil de São Paulo pela truculenta Força Pública (que atuava como tropa de choque em conflitos), instituindo a Polícia Militar. Vale notar que o decreto-lei neste sentido, o de nº 217, é de 08/04/1970, bem no auge do terrorismo de estado no Brasil.
Não é à toa que até 2011 a unidade mais brutal da PM, a Rota, mantinha no seu site rasgados elogios ao papel que a corporação havia desempenhado na derrubada do presidente legítimo João Goulart...
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