quinta-feira, 8 de setembro de 2016

CONHEÇA O VILÃO QUE RETIRA DOS HUMANOS A SUA VONTADE SOBERANA E PASSA A TELEGUIÁ-LOS COMO ZUMBIS

O SUJEITO AUTOMÁTICO DA 
FORMA-VALOR E SUA TIRANIA.

"O fetichismo da mercadoria cria um 
mundo invertido em que tudo é o 
contrário de si mesmo." (Anselm Jappe)
De que vivemos sob uma forma inferior, tanto do ponto de vista social quanto do material e ecológico, ninguém duvida. Mesmo com sua renitente indiferença, o pensamento mais conservador, acomodado e acovardado sabe desta realidade. 

A sordidez humana prevalece a despeito de nossa melhor consciência. Esta é a certidão do estágio inferior da atual condição existencial do pensar, do agir e do ser da vida social dos humanos. Mas, de quem ou do que é a culpa?

Há um contraste abismal entre o saber tecnológico e científico e o estágio primitivo da vida social. Desvendar as razões deste abismo tem sido tema tabu, justamente porque mexe com a natureza de um agir sem pensar que domina e submete a maior parte dos humanos, em benefício de uns poucos.

Mas, até mesmo esses poucos privilegiados terminam sempre por serem atingidos negativamente de alguma forma, seja pelo assalto à mão armada na esquina, seja pelo aquecimento global, seja pelo tédio de uma vida sem sentido virtuoso que busca prazer no suicida vício nas drogas, seja por tantas outras mazelas humanas. 

Quais as razões ou conceitos pelos quais existe uma forma de agir sem pensar (ou de um pensar previamente enquadrado) que domina os seres humanos negativamente, e em quem ou no que se baseia tal forma de agir que tanto mal faz à humanidade? Trata-se de algo que nasce da natureza humana, mas lhe é exterior, e que se transforma como se a criatura ficasse maior do que o seu criador; algo que passa a comandar a natureza humana e que a submete sem que os humanos se apercebam do seu comando e da natureza de sua negatividade.

A expressão usada por Marx, classificando a forma-valor como o "sujeito automático" das modernas sociedades mercantis, capitalistas, é certamente a que melhor define esta vontade impessoal, abstrata, reificada, que nos dá ordens, constituindo-se no monstro de mil cabeças que estrutura tantos organismos vivos que negam o sentido de humanidade entre os humanos. 

Por que existem as centrais de inteligência com seus espiões, códigos secretos, profissionais da morte, e a que servem? Por que existem tantos exércitos fortemente armados e treinados? Por que os humanos fabricam tantas máquinas tecnológicas de destruição cirúrgicas e bombas atômicas capazes de dizimar a própria humanidade? Por que se invertem os conceitos do justo a partir da instituição de leis que negam o melhor senso de justiça? Por que tudo isso acontece?                

O tal sujeito automático da forma-valor (dinheiro e mercadorias) é abstrato, impessoal e desumano. Constitui-se numa lógica de relação social autotélica, por se bastar a si mesma, ou seja, que tem como sentido teleológico a acumulação infinita de si mesma num processo vazio de sentido virtuoso (a acumulação segregacionista da riqueza abstrata), aproveitando-se da realidade concreta (a necessidade de consumo de bens materiais e serviços dos humanos) para fazer existir a sua realidade abstrata. Para o sujeito automático da forma-valor, tanto faz produzir remédios como bombas, pois o que interessa é a reprodução aumentada do capital, seiva vital de sua existência.
É este sujeito automático que que forja todas as ações humanas com viés desumano. Trata-se de uma abstração que retira dos humanos a sua vontade soberana e passa a teleguiá-los como zumbis, inconscientes de se terem tornados destrutivos e autodestrutivos.  

O presidente da República não governa, é governado; os parlamentares legislam em obediência a tal lógica abstrata, sem se aperceberem da esquizofrenia deste comando externo que impulsiona as suas ações; os exércitos matam sem saber por que matam; o ditador mais tirano executa a sua tirania dentro de um espectro de obediência cega a algo que lhe é superior e que ele sequer percebe existir; o empresário demite com ou sem vontade o trabalhador que antes lhe deu lucros, por se tratar de uma exigência do mercado, etc. Todos eles pensam que são senhores da sua própria vontade, embora não passem de títeres (a despeito dos benefícios materiais que circunstancialmente colham).

UMA CENA BRASILEIRA que as tevês cansaram de repetir: um grupamento de 20 ou 30 adolescentes assaltando transeuntes, em movimentada praça pública de um bairro rico do Rio de Janeiro, à luz do dia e sem maiores reações dos assaltados ou de qualquer pessoa, e sem que a polícia tenha braços e nem cadeia para tanta gente e tantas ocorrências que se repetem em tantos locais e tantas vezes ao dia.

Este é um estágio explícito de barbárie social. Mas, de quem ou do que é a culpa?

Caberá a culpa ao aparelho policial? À lei? À impunidade?.
Devemos culpar a cara máquina judiciária ou o caro sistema prisional?

Será a culpa do sistema educacional público, no qual os professores são tão mal remunerados, ou do conteúdo educacional do que é ministrado?

Caberá a culpa à hipossuficiência do Estado em prover demandas públicas, ou à corrupção pública e privada numa sociedade na qual o suborno é admitido como norma de conduta corriqueira?

Ou devemos, ainda, considerar que se trata de uma consequência da exageradíssima concentração de renda nas mãos de uma minoria, produzindo uma abismal desigualdade social?  

Será que a culpa é dos próprios assaltantes, muitos ainda adolescentes, que não quiseram estudar e que não se prepararam para um mercado de trabalho que cada vez mais exige qualificação técnica? 

Ou a culpa caberá ao tráfico de drogas, com destaque para o avanço devastador desta epidemia social chamada crack

Tratar-se-á de uma questão de conteúdo moral de um sistema no qual somos todos induzidos a levar vantagem, ou será uma consequência das imensas dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores de baixa renda, sem um bom sistema de transporte público nem moradia decente, carentes de assistência médica eficaz e privados de uma aposentadoria digna deste nome, que são os pais destes assaltantes juvenis? 

É claro que todos os fatores acima elencados, e muitos outros, têm um maior ou menor grau de participação na violência generalizada que ocorre no Brasil (e na maior parte do mundo), mas todos eles têm uma única origem: a decadência de um modo de ser social que atingiu o nível mínimo de conexão entre a capacidade de produção material (mercadorias, serviços e trabalho abstrato) e a satisfação das necessidades da vida social como um todo, caminhando célere rumo ao abismo (crise ecológica aí incluída), a menos que seja superado.

O que está por trás de todos os fatos e tragédias humanas, dos atos governamentais (ou falta destes) e das estruturas institucionais, é uma lógica de relação social que, justamente por ser abstrata e comandar a realidade, se torna infensa à identificação direta de culpa. Passamos a criticar as imperfeições das ações e não as causas das ações, pois, afinal, não se pode botar na cadeia uma lógica abstrata. 
Quando (e se) os humanos se livrarem do comando do sujeito automático da abstração forma-valor e passarem a viver sob a realidade de uma relação social natural, direta e concreta, utilizando todo o saber acumulado pela humanidade, teremos dado o passo inicial de um estágio superior de vida. (Por Dalton Rosado)

2 comentários:

SF disse...

Dalton,
Devo dizer que seus textos instigam a busca do conhecimento a respeito de filósofos e filosofias.
Tenho feito isso usando o acervo imenso de vídeos existente na internet.
Até agora, parece que todos caras sempre apontaram o "outro" como o causador das penúrias.

Recordo que, no incipiente esforço que fiz na busca pela verdade, esse seria um engano do observador, pois parece que,em relações antagônicas condicionadas, o "outro" é também o validador do eu que o observa e julga...

Então, pode ser que não exista "vilão".

Pode ser que seja a forma que a vida tem na terra, quem condiciona a cisão entre o organismo e o meio.

Parece que a consciência de individualidade vem da existência da membrana/cápsula presente em toda forma de vida.

Já o impulso à generosidade decorreria do fato da matéria viva ser replicante.

Acredito que o seres vivos que povoam o planeta seriam os que deram as melhores respostas aos desafios do meio.

Assim, o ambiente é quem seria o verdadeiro outro.
Ele é quem permite a existência dos seres que souberem crescer, reproduzir e deixar descendentes viáveis.

Os demais foram extintos...

-*-

Assistindo ao Noam Chomski, percebi que ele acredita que as elites transnacionais tramam a extinção das classes superfluas ao sistema de produção que eles dominam.

As sub-elites também.

Serão eles bem sucedidos?

celsolungaretti disse...

Caro SF,
É bom saber que os nossos escritos estimulam a busca pelo conhecimento, pois somente a consciência crítica advinda do saber pode gerar uma práxis social revolucionária transformadora. A ignorância e a miséria, por si só, pode apenas gerar a truculência da barbárie que é a negação dos sentimentos humanos mais nobres; são os trágicos produtos finais da exploração sistêmica.

Todos nós somos ao mesmo tempo vítimas e autores da nossa tragédia social. No atual estágio da vida social planetária, vivemos o momento de nossa submissão à lógica da forma-valor, que por nós foi criada, mas que se independentizou da nossa vontade passando a ser o sujeito automático abstrato que nos oprime. Uma irracionalidade a que Marx chamou de fetichismo da mercadoria numa analogia à adoração aos totens criados pelos homens e que passam a atribuir a eles poderes sobrenaturais e em nome dos quais sacrificavam vidas. Isso não impede que identifiquemos essa forma de ser social como o vilão das nossas existências, principalmente agora, no seu estágio de limite interno de expansão.

Esses dias lendo sobre o arsenal destrutivo que estava sendo desenvolvido em estágio adiantado pelos cientistas nazistas membros da temida SS, em subterrâneos com mão de obra escrava judia (Wernher von Braun à frente, que no final foi feito prisioneiro e cooptado pelos Estados Unidos para trabalhar no Projeto Manhattan, que produziu as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagazaki) fico a pensar sobre o destino da humanidade acaso um Hitler acuado em seu bunker tivesse tido tempo e oportunidade de acionar a bomba atômica que estava sendo desenvolvida.

Se a humanidade vai saber superar os seus conflitos internos e proporcionar uma vida de paz e de convivência edificante é o que desejamos, mas não temos certeza de que conseguiremos.
Um abraço e contamos com a continuidade de sua interação conosco pela construção de um mundo melhor.

Dalton Rosado.

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