Nem mesmo a Rio-2016 fez os brasileiros atentarem para a excelência do filme Raça (2016, d. Stephen Hopkins, c/ Stephan James), sobre o lendário Jesse Owens, atleta negro que conquistou quatro medalhas de ouro nas Olimpíadas de Berlim, em 1936, encaradas pelos alemães como uma oportunidade para exporem triunfalmente ao mundo os valores nazistas, um dos quais era o da superioridade da raça ariana.
Produção canadense-alemã, Raça mostra (bem!) como era difícil para um negro chegar aonde seu talento poderia conduzi-lo nos EUA de então. Owens, percebe-se, foi uma moeda que caiu em pé.
E acrescenta muitas informações interessantíssimas, além daquela que todos conhecem: Hitler deixava a tribuna quando Owens triunfava, para não ter de cumprimentá-lo pessoalmente. [Aliás, o atleta declararia depois à imprensa que, numa dessas ocasiões, o führer fez-lhe, à distância, um discreto aceno de aprovação. Talvez até haja admirado suas proezas, sendo, contudo, obrigado a manter a pose que se esperava de sua persona política...]
Isto, claro, é uma fotomontagem. Até que engraçada... |
Eu mesmo ignorava, e fiquei sabendo graças ao filme, que racista foi também a Casa Branca, ao deixar que passasse totalmente em branco o magnífico feito de Owens, não lhe prestando as homenagens devidas. Papelão do Franklin Delano Roosevelt, cuja persona política certamente deu mais importância aos votos sulistas!
Mais tarde, quando o politicamente correto e as relações públicas passaram a prevalecer nas decisões dos governantes, Owens foi, finalmente, reconhecido como um grande herói dos EUA. Pena que tivesse morrido em 1980, dez anos antes.
Mais tarde, quando o politicamente correto e as relações públicas passaram a prevalecer nas decisões dos governantes, Owens foi, finalmente, reconhecido como um grande herói dos EUA. Pena que tivesse morrido em 1980, dez anos antes.
Melhor sorte teve o pugilista negro Rubin Carter, aquele do filme Hurricane e da música homônima do Bob Dylan (vide janelinha abaixo), que pegou prisão perpétua em processo totalmente distorcido pelo racismo de acusadores, juiz e jurados. Passou 15 anos em cativeiro, deixou de ser o campeão mundial que poderia ter sido, e acabou sendo inocentado pela Corte Suprema.
Este, pelo menos, recebeu em vida um cinturão de ouro honorário da principal entidade organizadora do boxe, a CMB, como desagravo pela carreira injustamente interrompida.
E, saindo do terreno do esporte, os anarquistas Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, eletrocutados em 1927, também tiveram sua inocência proclamada oficialmente pelo governador de Massachusetts meio século depois. Infelizmente, deles já não restava nem pó.
Voltando ao filme, há outras revelações indigestas, que dificilmente entram no auê midiático sobre como Owens humilhou Hitler. Cito a principal:
- os EUA se curvaram às pressões nazistas para restringirem a participação de judeus, só convocando dois deles para os Jogos. E mesmo estes, em função de novas pressões, acabaram sendo retirados à última hora da corrida final de revezamento;
- o dirigente que tomou tal decisão não foi punido e até teria carreira ascendente;
- paradoxalmente, foi o que permitiu a Owens conquistar a quarta medalha de ouro, como substituto de um deles. Noutras circunstâncias ele ficaria só com as três que ganhou em competições individuais, duas como velocista e uma no salto à distância.
Infelizmente, não tenho como disponibilizar o filme aqui (ainda não chegou ao Youtube). O jeito é os interessados o locarem, assistirem em blogues especializados ou fazerem o download. Na terceira hipótese, eis uma boa dica para baixá-lo via torrent.
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2 comentários:
Caro Celso, chama atenção uma "Ditadura" de comunicação, um silêncio com relação às duas primeiras medalhas olímpicas. Tanto a Judoca que ganhou o ouro quanto o atirador de origem oriental são militares. Praticamente se escondeu isso do grande público. O "Politicamente Correto ou Incorreto" esconde isso e fico pensando do porque. Gostaria de uma opinião sua. Será mera coincidência ou teria a ver com ideologias. Abraço.
COMPANHEIRO,
SOU JORNALISTA INATIVO PORQUE OS BARÕES DA MÍDIA NÃO ME QUEREM VER NEM PINTADO DE ANJO (E O MOTIVO, EVIDENTEMENTE, NÃO É FALTA DE COMPETÊNCIA PROFISSIONAL). COMO A REDE CHAPA BRANCA QUE GRAVITAVA NA ÓRBITA DOS GOVERNOS PETISTAS ERA TÃO MACARTISTA QUANTO O CHAMADO PIG, DISCRIMINANDO DE TUDO QUE É JEITO QUEM ESTAVA À ESQUERDA DO PT, TIVE DE INTERROMPER MINHA CARREIRA HÁ UMA DÉCADA, EMBORA CONTINUASSE COM PERFEITAS CONDIÇÕES FÍSICAS E MENTAIS PARA TOCÁ-LA ADIANTE. ALIÁS, ATÉ HOJE PODERIA ESTAR TRABALHANDO. HÁ JORNALISTAS BEM MAIS VELHOS DO QUE EU QUE CONTINUAM NA ATIVA.
ENFIM, ESTE DISTANCIAMENTO DAS REDAÇÕES DA GRANDE IMPRENSA ME IMPEDE DE TE DAR UMA RESPOSTA QUE EU PUDESSE SUSTENTAR. NÃO CONHEÇO OS COLEGAS QUE ESTÃO COBRINDO AS OLIMPÍADAS, ENTÃO SERIA UMA LEVIANDADE ACUSÁ-LOS DE PRECONCEITUOSOS. ISSO NÃO FAÇO.
APENAS AFIRMO QUE, NA MINHA VISÃO, O JORNALISTA TEM UM COMPROMISSO COM A VERDADE, DOA A QUEM DOER. NADA DEVE OMITIR E NADA DEVE MAQUILAR. A FUNÇÃO DOS REPÓRTERES É INFORMAR CORRETAMENTE OS LEITORES, PARA QUE ESTES TIREM AS CONCLUSÕES CABÍVEIS. A DE EDITORIALISTAS E ARTICULISTAS, INTERPRETAR AS INFORMAÇÕES E OPINAR SOBRE ELAS.
SE SUA SUSPEITA PROCEDER, OS REPÓRTERES ESTARIAM ATUANDO COMO EDITORIALISTAS OU ARTICULISTAS. NÃO DEVEM FAZÊ-LO JAMAIS!
QUANDO ATUAVA NAS GRANDES REDAÇÕES, CANSEI DE LEVANTAR ASPECTOS QUE EU SABIA SEREM CONTRÁRIOS AOS INTERESSES DO VEÍCULO. QUASE SEMPRE ERAM SUPRIMIDOS PELO EDITOR. NINGUÉM JAMAIS ME RECRIMINOU. EU NARRARA A VERDADE, COMO O REPÓRTER DEVE FAZER. O EDITOR ADEQUARA O TEXTO À VISÃO PATRONAL. CADA UM NA SUA.
ABS.
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