quinta-feira, 18 de agosto de 2016

A Saúde em XEQUE. Ou seria melhor dizer em CHEQUE?

Por Vinícius Torres Freire
ACESSO A PLANO DE SAÚDE DESPENCA; SAÚDE PUBLICA SOFRE COM CRISE E MINISTRO SINISTRO.
Quanto menos emprego formal, com carteira assinada, menos gente tem plano de saúde. Mais pessoas passam a recorrer à saúde pública. Óbvio.

O descalabro administrativo quase geral e a queda da receita de impostos limitam ao mínimo obrigatório, se tanto, os recursos para o SUS. O desemprego ainda deve aumentar pelo menos até o fim de 2017. A aguda crise fiscal vai durar ainda uns três anos, para ser otimista.

Desde dezembro de 2014, começo da fase horrenda da recessão, o número de empregos formais no país diminuiu 2,07 milhões. O número de beneficiários de planos privados de assistência médica baixou 1,91 milhão.

O número de empregos formais e de segurados que têm planos de saúde por meio de empresas é muito parecido (39,2 milhões e 38,6 milhões, respectivamente). Outras tantas pessoas ficam descobertas também por não poderem pagar seus planos particulares, por desemprego ou quebra de seus pequenos negócios. Óbvio.

O prognóstico é, pois, de desgraça. Óbvio.

A fim de enfrentar essa crise angustiante, temos a liderança sinistra do ministro da Saúde [Ricardo Barros], despreparado mesmo para conceder entrevistas jornalísticas elementares.

Até agora, entre tantos disparates, o ministro foi capaz apenas de propor a criação de um plano de saúde marca barbante vagabundo, um remendo de interesse apenas das empresas prestadoras de serviços de saúde. Não é novidade.
Faz década e meia, os ministros da pasta são uns tipos indizíveis, vários deles enrolados em corrupção ou ignorantes grosseiros. "Bom dia, garotada. Tudo legal? Deixa eu fazer uma pergunta: vocês acham que têm o crânio normal?", disse o último tipo que ocupou o cargo sob Dilma 2, quando fazia campanha de esclarecimento sobre a zika.

Faz tempo, inclusive na quase década e meia de governo de esquerda, não há discussão nacional sobre a reorganização do SUS, desconjuntado depois de quase 30 anos de existência, intervenções pontuais de governos marqueteiros, privatizações parciais e outras mexidas que tiraram o caráter de único do sistema, entre outros problemas.

No entanto, o problema imediato é o dos efeitos diretos da recessão, do desemprego e do colapso financeiro e administrativo dos governos e de tantos plano de saúde.

O modelo está pifado. Empresas quebram. Algumas boas têm dificuldades de equilibrar as contas. As empresas, no geral, são vendedoras de seguros, não companhias dedicadas à saúde.

Especialistas da área não cansam de dizer que o sistema é ruim e custoso também porque as empresas não tratam de saúde. Isto é, de cuidados rotineiros e preventivos que evitam doenças perigosas e caras: é um problema casado de saúde e economia.

Há quem ainda aponte (economistas) a necessidade de haver algum tipo de copagamento ou franquia (como em outros seguros), a fim de limitar uso excessivo de serviços. Sim, parece feio falar do assunto, mas há desperdício e tentativas de criar incentivos a fim de evitá-los mesmo em sistemas públicos razoáveis, como o francês e o britânico.

Há discussão séria e urgente a fazer, ainda mais agora, na agonia da crise. Mas, além de besteira variada, o que o ministro da Saúde tem a dizer é propaganda de plano de saúde gambiarra.

O recado do editor
UM DOS ASPECTOS MAIS ODIOSOS E REPULSIVOS DO CAPITALISMO É FAZER DA SAÚDE UMA MERCADORIA
O artigo acima é de um jornalista sério, preocupado com um gravíssimo problema social ao invés de querer apenas inculpar tal ou qual força política. 

E sua abordagem isenta revela o que a maioria de nós já sabe: os governos petistas, em questões da maior importância para o povão, comportaram-se exatamente como os governos ditos de direita, deixando os explorados à mercê da ganância capitalista ao invés de os defenderem dos exploradores. Não é por acaso que um simples peteleco do Congresso está enxotando Dilma, sem provocar nenhuma comoção nas grandes massas. 

Um dos aspectos mais odiosos e repulsivos do capitalismo é fazer da saúde uma mercadoria, de forma que a renda de cada cidadão geralmente é o fator decisivo para sua vida durar mais ou menos.

Quando atuava em comunicação empresarial, eu tinha imenso nojo dos textos que era obrigado a redigir sempre que uma grande empresa farmacêutica lançava novos e caríssimos produtos para dar mais qualidade de vida a pacientes que inevitavelmente bateriam as botas em curto ou médio prazo.
Para sofrerem um pouquinho menos em seus últimos meses, eles chegavam a deixar seus herdeiros na miséria. E eu sempre me indagava se os enormes investimentos dessas companhias em P&D não seriam mais bem aplicados na busca de cura para tais moléstias, ao invés da de meros paliativos para depenar desesperados.

É triste constatarmos que o PT entrou, saiu e tudo continua exatamente na mesma, com o sucateamento da saúde pública e favorecimentos de todo tipo para a saúde privada. 

Cujas empresas, aliás, só vão mal das pernas por serem predatórias e medíocres. Vide, p. ex., a Prevent Sênior fazendo brotarem novas unidades como cogumelos e construindo um verdadeiro império apesar da crise (*)...
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* embora seja importante destacar que age com a habitual amoralidade capitalista, p. ex., reduzindo cada vez mais a rede conveniada para tanger sua clientela para a rede própria, o que possibilita redução de custos.

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