Por Dalton Rosado |
rio, pois não sabia nadar. Lá pela metade da travessia,
o escorpião feriu-a com seu ferrão. Já sentindo as
dores do veneno e quase sucumbindo, a rã diz
ao escorpião: 'Por quê fez isso, seu louco?
Agora, nós dois vamos morrer'. O outro
lhe responde: 'Desculpe-me, não
pude evitar… é a minha
natureza'." (Esopo)
A formação de blocos econômicos como o da União Europeia, visando a um mercado comum (cujos 28 países membros tinham uma tradição histórica de beligerância pela hegemonia econômica do continente europeu enquanto estados nacionais), é um fato elogiável dentro da uma perspectiva mais avançada de que o mundo deve se unir para suprir as suas carências e não o contrário.
Mas, as ideias e os sentimentos humanistas sempre encontram uma barreira intransponível quando se defrontam com a lógica do capital, que é a antítese desse sentimento. Assim, dentro do bloco, graças tanto aos desníveis de produtividade mercantil de cada país (fato que gera vantagens para uns e desvantagens para outros no mercado comum) quanto à débâcle econômica mundial, já se observam fissuras que demonstram à saciedade a impossibilidade de convivência harmônica dentro de uma lógica de relação social cuja base é a fratricida competitividade mercantil.
A União Europeia, no seu conjunto de países, representa cerca de 7% da população mundial, mas detém 20% do volume mundial de exportações e importações, fato que já denuncia a sua posição de supremacia na economia global (como bloco é a maior potência comercial do planeta). Entretanto, quando analisamos a realidade econômica das inter-relações do bloco –e mais ainda, as situações de alguns importantes países que a integram–, do ponto de vista das suas economias, vamos verificar um declínio e uma realidade cuja amplitude tem preocupado o mundo. Vejamos tais pontos:
* relação da dívida pública diante do PIB – não obstante ter um PIB de US$ 16,2 trilhões (rivalizando, como bloco, com os EUA) e uma renda per capita média em torno de US$ 37 mil, relativamente alta se comparada ao restante do mundo, existem indicadores negativos ou díspares entre os países do bloco que são responsáveis por descontentamentos e exigências que ameaçam a sua unidade. O primeiro deles é o grau de endividamento público, situado em 90,7% em relação ao PIB para a zona do Euro, e exageradamente alto para a capacidade de pagamento em geral, pois, graças aos desníveis dessa dívida de nação para nação, algumas delas demonstram claros riscos de insolvência e vulnerabilidade diante dos humores do mercado mundial;
* perfil do vencimento da dívida e taxa de juros – os países com níveis de produtividade que lhes permite uma melhor colocação de produção e venda no mercado comum europeu e no resto do mundo obtêm melhores condições de alongamento do vencimento da dívida e das taxas de juros. Exemplo disto é a rica Alemanha, que, apesar dos seus 71,2% de dívida em relação ao PIB, obtém inimagináveis taxas de juros negativas para a rolagem de duas dívidas e prazos confortáveis, diferentemente de países como Portugal, com uma dívida de 129,0% do PIB, mas com vencimentos de curtos prazos, mais imediatos, e com taxas de juros de 3,3% ao ano. É que a lógica econômico-financeira de mercado não respeita sentimentos humanistas e impõe os seus rígidos cânones de sua natureza insensível, tal qual o escorpião na famosa fábula com a rã. O sufoco da Grécia que o diga;
* alto nível de desemprego – a União Europeia, com 9,6% de taxa de desemprego, prova agora do veneno que introduziu mundialmente no começo do capitalismo, pois o feitiço virou contra o feiticeiro. Explico. Outrora, na primeira revolução industrial, tudo se fabricava na Europa e tudo se vendia para o mercado mundial (a par do caráter colonialista que imprimou para os continentes asiáticos, africanos e americanos). Mas o capitalismo, na sua necessidade de expansão ad eternum (que agora encontra seu ponto de limite interno) e graças à concorrência de mercado, provocou paulatinamente o deslocamento da produção para os demais países em busca de mão de obra barata (trabalho abstrato) e uso da tecnologia de produção das máquinas (trabalho morto), e com isso, a sua produção industrial, responsável por sua pujança na fase expansionista do capital, tende a desaparecer. Mesmo sendo sua população culta e bem formada (em relação aos demais países do mundo), já não encontra emprego (trabalho abstrato nos setores primário e secundário da economia), única forma de produção de valor válido, e com isto definha toda a economia europeia.
A era da terceira revolução industrial da microeletrônica veio para ficar definitivamente e, com isto. se realiza a previsão de Marx nos Grundrisse, feita há 150 anos, na qual afirmou que a dessubstancialização do valor na produção tecnológica de mercadorias chegaria a tal ponto que faria voar pelos ares toda a lógica mercantil capitalista.
A renitente paralisia do PIB da União Europeia após a grande crise financeira de 2008/2009 (chegou a ter crescimento negativo de 0,5% em 2012), a par dos estímulos decorrentes da temerária emissão de euro sem lastro e da venda de títulos da dívida pública visando à retomada do desenvolvimento econômico, demonstra a atual inviabilidade do sistema produtor de mercadorias como instrumento viável de mediação social. Tal fato não é discutido na grande mídia nem nas academias, e muito menos no segmento político, como se fosse um tema tabu; tal ocorre por medo de se mexer em toda a lógica que se quer positivar. E isto apesar do sistema estar nos seus estertores e causando o terror mundial exposto nessa mesma mídia, e que de tão comuns, já não nos surpreendem, mas que deveriam nos indignar e impulsionar a uma reação consciente;
A renitente paralisia do PIB da União Europeia após a grande crise financeira de 2008/2009 (chegou a ter crescimento negativo de 0,5% em 2012), a par dos estímulos decorrentes da temerária emissão de euro sem lastro e da venda de títulos da dívida pública visando à retomada do desenvolvimento econômico, demonstra a atual inviabilidade do sistema produtor de mercadorias como instrumento viável de mediação social. Tal fato não é discutido na grande mídia nem nas academias, e muito menos no segmento político, como se fosse um tema tabu; tal ocorre por medo de se mexer em toda a lógica que se quer positivar. E isto apesar do sistema estar nos seus estertores e causando o terror mundial exposto nessa mesma mídia, e que de tão comuns, já não nos surpreendem, mas que deveriam nos indignar e impulsionar a uma reação consciente;
O noticiário internacional Europeu de hoje é simplesmente catastrófico. Se não, vejamos:
* o Reino Unido, mais desunido do que nunca, revolve sair do bloco e fazer um retorno (que se prenuncia catastrófico) ao capitalismo nacionalista de outrora. Uma fuga inconsistente ao invés de caminhar para o futuro;
* a França quer desregulamentar direitos trabalhistas para ajustar seus níveis de custo de produção ao padrão mundial de salário (o baixo tempo médio do valor-trabalho) e diminuir franquias estatais que provocam greves perante uma população desacostumada à miséria tradicional do terceiro mundo. Resultado: o país se convulsiona;
* a Itália, país de relevantes números do ponto de vista de sua inserção no mercado econômico-financeiro europeu e mundial, e com seus níveis de endividamento público atingindo 132,7% do PIB, além de um recém-declarado perfil preocupante dos créditos podres do seu sistema bancário, foi assim analisada por um auditor do famigerado FMI, guardando anonimato: "A Itália é, essencialmente, a linha falha da Europa. Tanto a dívida pública quanto o setor bancário são um barril de pólvora, sendo mantidos por um processo de não reconhecimento de prejuízos acumulados no sistema que eles continuam rolando. O verdadeiro problema é que alguém, eventualmente, terá de assumir as perdas";
* países como a Grécia e a Espanha têm níveis de endividamento e desemprego alarmantes e que insistem em permanecer inalterados, prenunciando dias tenebrosos, a menos que se tome consciência dos remédios eficazes, que se situam fora da lógica mercantil.
Basta! Insurjamo-nos contra a débâcle capitalista, pois só assim a saudável tese da unidade dos povos vai prevalecer e o sugestivo lema da União Europeia, Unidos na diversidade, não se transformará em Desunidos na adversidade.
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