sexta-feira, 8 de julho de 2016

DIFICULDADE PARA EXPELIR CUNHA PÕE A NU O CARÁTER DO NOSSO PARLAMENTO

"Nunca se mente tanto como 
antes das eleições, durante 
uma guerra e depois de uma caçada." (Otto von Bismarck)
Na última 4ª feira (6), o relator do recurso do processo de cassação do deputado Eduardo Cunha junto à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal, Ronaldo Fonseca (Pros-DF), seu aliado e coordenador da bancada evangélica naquela casa legislativa, proferiu voto pela anulação do relatório e votação que concluíram ter havido quebra de decoro parlamentar por parte do acusado, recomendando nova relatoria e nova votação. 

O processo se arrasta há oito meses, já sendo o mais longo da história do parlamento brasileiro. Antes de lamentarmos o fato como um escárnio à inteligência coletiva, devemos agradecer aos integrantes do parlamento brasileiro pela forma explícita como demonstram à sociedade, e à saciedade, quem e o que eles realmente são. E, principalmente, por evidenciarem de forma inequívoca a necessidade de superação da própria instituição. 

Como sabemos, o deputado Eduardo Cunha é alvo de vários processos na Justiça, respondendo à acusação de prática de corrupção, comprovada por depoimentos e documentos que atestam a existência de vultosos valores no exterior, dos quais ele é beneficiário sem que haja comprovação da origem. 

São muitos os crimes evidenciados. Mas, é igualmente evidente a força política do acusado no parlamento e no governo, apesar de afastado pelo Supremo Tribunal Federal de suas funções. 

Assim é que, pressionado, renunciou ao mandato de presidente da Câmara Federal, abrindo o processo sucessório numa tentativa de evitar a cassação do seu mandato, contando para tanto com o apoio de figuras influentes no parlamento e no governo do Presidente Temerário

Tais manobras, que encontram algum respaldo entre os políticos apesar da flagrante oposição da opinião pública, confirmam que o cidadão comum tem carradas de razão ao avaliar da pior forma possível seus ditos representantes. Pois, como dizia Maquiavel (pensador italiano da Renascença), "a primeira impressão que se tem de um governante é dada pelos homens que o cercam". 

Tudo se encaixa perfeitamente dentro do conceito do que a política é tão corrupta quanto a sociedade mercantil que protege, vez que esta última nasce e se cria a partir de uma corrupção original, a extração de mais-valia. A política nada mais é do que uma correia de transmissão desse processo, com a tarefa de regulamentá-lo e administrá-lo no sentido da sua preservação, ainda que ele esteja desmoronando por autofalência. 

Assim se considerando, não é de estranhar-se a qualidade dos membros do parlamento e suas atitudes; talvez até devamos agradecer-lhes por tornarem explícita tal realidade, que por vezes é mascarada pelo discurso oficial de preservação das instituições e depuração dos desvios de conduta de seus eventuais membros. 

Quem duvida que o processo eleitoral parlamentar é regido pelo abuso do poder econômico num pernicioso processo de interação de troca de favores entre eleitos e eleitores no qual os valores gastos são originários de uma corrupção endógena passada e futura? 

Quem duvida que a função legislativa, incumbência de um parlamento subjugado à corrupção e comprometimento com o poder econômico, sirva a este mesmo poder? Salta aos olhos que, embora faça pequenas concessões quando pressionado pela opinião pública, nosso legislativo conserva sempre a sua essência mercantil, predatória da vida social?     

O discurso oficial e midiático, contudo, jamais critica a instituição parlamento, alegando que ela está acima dos seus membros e deve ser preservada. Neste sentido, torra-se o dinheiro dos impostos com a propaganda das virtudes do voto, sob o disfarce hipócrita do chamamento à sua qualificação e presença nas votações, quando lhe são oferecidas opções que em nada alteram aquilo que já foi previamente escolhido: a legitimação dos membros de um poder que dá sustentação a um sistema mercantil segregacionista. 

Até mesmo os que reconhecem o caráter ilusório do processo eleitoral nos dias atuais, usam a abominável tese do ruim com ele, pior sem ele, querendo referir-se a uma ideia equivocadamente aceita, de que a alternativa às urnas seja a ditadura. 

Os chamados regimes de exceção, atualmente, são apenas a retirada da máscara de uma sociedade escravagista mercantil quando seus instrumentos de controle estão ameaçados; e a democracia, por sua vez, não passa a arapuca que dá legitimidade legal e ares de representatividade política ao engodo mercantil.      

No mundo inteiro o processo de escolha parlamentar das sociedades mercantis obedece aos interesses do capital, que é o instrumento de mediação social subtrativo e que tem no Estado um instrumento de coerção às suas regras ditatoriais fetichistas. 

Não há possibilidade de se fugir desta realidade por meio do hipocritamente almejado voto qualificado. A corrupção sistêmica original, viabilizada pelo mecanismo de mercado (no qual se processam as trocas mercantis quantificadas, sendo, portanto, o local onde se materializam as subtrações havidas a priori no processo produtivo de mercadorias por meio do trabalho abstrato), transmite-se naturalmente para o processo eleitoral, porque uma coisa é inerente à outra.    
    
A alternativa ao NÃO VOTE! não é a ditadura, mas sim uma ordem social na qual os indivíduos sociais, conscientes e dirigentes dos mecanismos de mediação social graças à superação do sistema produtor de mercadorias com suas categorias e seus construtos institucionais (valor, trabalho abstrato, mercado, mercadoria, política, Estado, democracia) possam ser os donos dos seus destinos.      

Diante de tantos descalabros parlamentares a grande mídia empresarial jornalística não tem alternativa a não ser tornar explícitos tais comportamentos, até porque a mercadoria notícia de tom negativo é de largo consumo (o caráter onívoro da mercadoria coopta até o que lhe é adverso). 

Contraditoriamente  (como tudo que acontece no capitalismo), apesar de noticiar cuidadosamente tais mazelas, atribuindo-as à falta de dignidade moral dos criminosos de colarinho branco (que existe), à crueldade dos criminosos descamisados (que existe) e à falta da presença do Estado (que existe), a grande mídia jamais denuncia a natureza corrupta e corruptora do sistema. 


Sem o querer, mas concomitantemente, torna possível que nas próximas eleições haja um acentuado número de abstenções, votos nulos e brancos. 

Ainda assim, os muitos que ainda vão votar legitimarão a farsa da representatividade democrática. 

 Não seja um deles! (ass. Dalton Rosado)

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails